terça-feira, 14 de abril de 2009

O Cristão e o Descrente


Por Padre Leo Trese

Para os que não creem em Deus, a vida deve ser uma experiência insuportável. Suponho que nós, os que bebemos a nossa fé juntamente com o leite das nossas mães, jamais conseguiremos compreender a fundo o que se passa na mente de um ateu. Procurei às vezes imaginar o que seria não acreditar em Deus. Vi-me contemplando o rosto de uma pessoa falecida a quem tivesse amado profundamente e dizendo de mim para mim: "Bem, agora você não passa de um montão de carne e ossos. Tudo acabou. PT Saudações".

Também procurei imaginar o que seria ver-me pouco a pouco reduzido a escombros pelas dores insuportáveis de um câncer, mergulhado em dias e noites sem fim repletos de sofrimentos intoleráveis, sofrimentos desprovidos de qualquer sentido ou valor, simples brincadeira de mau gosto perpetrada por uma natureza cega e cruel.

Tentei adivinhar o que significaria não haver Lei Divina para indicar-me os caminhos seguros pelos quais a minha vontade poderia transitar livremente; o que significaria ter a liberdade de "fazer tudo o que bem entendesse", sem nenhum limite a não ser a preocupação de permanecer do lado de fora da penitenciária. Tentei imaginar os esforços febriciantes que faria para arrancar à vida todas as satisfações que ela pudesse dar-me, a fim de agradar ao meu ego e à minha carne; as noites insones que passaria a suar, pensando em que o nada eterno poderia abater-se sobre mim antes de eu ter desfrutado até o fim de todos os prazeres da vida.

É evidente que um ateu não pensa nestes termos. Se chegasse a raciocinar de maneira tão consequente, em pouco tempo deixaria de ser ateu...

Assim, quando a morte lhe arranca algum dos seus seres queridos, transfere para o agente funerário a tarefa de levar o corpo ao crematório e de espalhar as cinzas nalgum canteiro onde possam fertilizar as flores; ou então colocá-las, guardadas numa urna, sobre um aparador, como as vezes se guarda pétalas desfolhadas de uma rosa. E quando se apresenta a doença, aceita-a rangendo os dentes, porque, lamentavelmente faz parte "das regras do jogo"; aliás, se a situação for desesperadora, sempre pode recorrer a um atalho: uma pequena dose de veneno fulminante, ou mesmo um revólver ou uma corda, poderão constituir a solução definitiva.

Quanto à "lei moral objetiva", só os "fracos" precisam desta muleta; para ele , a simples decencia é o que basta para manter um homem livre de remorsos, principalmente se estiver reforçada pelo "amor à humanidade". Amor pela" humanidade" em abstrato, é claro, não por esses idiotas ignorantes da favela próxima, que não são capazes de lavar as mãos!

Na verdade, parece-me que nunca encontrei nenhum ateu autêntico; encontrei pessoas que diziam não aceditar em Deus ou no outro mundo. Via de regra, porém, essas pessoas afirmavam a sua descrença de maneira tão agressiva, e pareciam tão ansiosas por argumentar acerca dela, que se tinha a impressão de estarem continuamente lutando com sua própria consciência. Uma pessoa na qual a fé religiosa estivesse completa e autenticamente morta não daria um tostão furado pelos que os outros cressem ou deixassem de crer. Sempre penso que ainda há uma esperança para esses pretensos ateus que procuram a todo custo converter os outros a sua falta de fé; isto significa que se encontram divididos por dentro, pois onde há fumaça, há fogo; e mesmo que haja apenas um pouco de fumaça, quem sabe se algum dia esse braseiro quase extinto não receberá o sopro que faça brotarem novamente as chamas da fé?

Isto não significa que valha a pena discutir com um ateu.

Se este fosse capaz de argumentar lógicamente, não teria outro remédio senão admitir a validade das provas da existência de Deus. E essas provas existem - provas sólidas e convincentes para qualquer pessoa disposta a admitir as leis da evidência e a confiar na sua própria capacidade de raciocínio. Infelizmnte, porém, "não há pior cego do aquele que não quer ver". Com toda certeza, o ateu interromperá a nossa paciente explicação com um gesto de desprezo e um sorriso condescendente , enquanto fala da nossa "credulidade" e da nossa espantosa capacidade de auto-ilusão.

"Que é a verdade?", perguntará com ar de superioridade (como Pilatos...), e a seguir: "Para começar, como e´que você sabe que tem uma inteligência capaz de captar a realidade"? A seguir tentará esmagar-nos com uma rápida sequencia de golpes baixos, dirigidos contra pretensas dificuldades bíblicas"- "Como poderia uma baleia ter engolido Jonas? Todo o mundo sabe que a garganta de uma baleia é estreita demais para deixar passar um homem" - ou contra dogmas mal interpretados - "Como pode haver fogo no inferno? Afinal de contas, o fogo não é capaz de queimar um espírito" - ou qualquer coisa desse estilo. Argumentará contra tudo e contra todos, exceto contra a única questão realmente pertinente: Existe ou não um Deus diante do qual somos responsáveis? Ah, e o argumento que considero definitivo, com o qual pretende fazer-nos bater precipitadamente em retirada, não poderia ser senão este: "Mas, meu caro, você é tão medieval!!Parece ter nascido na Idade da Trevas!"...

Não, é inútil discutir com um ateu.

Muitos fariseus viram com os seus próprios olhos Cristo realizar milagres impressionantes, que demonstravam sua divindade para além de qualquer dúvida, e no entanto afastaram-se dizendo: Ele tem um demônio(cf. Lc 11, 14-20) Por isso se um ateu se empenha em "picar-nos" e em provocar-nos para um debate, a melhor resposta que poderemos dar-lhe será dizer: "Meu amigo, não discutirei com você, mas, isso sim, rezarei pela sua conversão".

Afinal de contas já está passando maus bocados com o esforço que tem de fazer para estrangular a sua consciência, para justificar a sua conduta diante de si próprio, a fim de que a sua vaidade tenha campo livre para inchar, Inchar e INCHAR. "Pois fique então com suas rezas", responder-nos-á abespinhado o nosso interlecutor, "e acenda essas sua velas idiotas a quem quizer, já que você continua querendo fazer o papel de tolo"; e assim só conseguirá demonstrar até que ponto ficou irritado por não lhe termos dado oportunidade de mostrar a sua esperteza.

Mas se nós efetivamente rezarmos por ele, e se fizermos penitência por ele, e lhe dermos provas de uma caridade semelhante a de Cristo, não tardará a chegar o dia em que o amor realizará aquilo que a discussão jamais teria podido conseguir.

Fonte: A sabedoria do Cristão - Quadrante

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