segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A Razão precisa da fé?


O combate que o homem trava contra o mal excede infinitamente os meios da razão e da ciencia. É o que demonstram fatos tao atuais como o racismo, a droga ou o alcool. Ou como todos esses terriveis crimes cometidos por totalitarismos ateus sistematicos e pretensamente cientificos ao longo do seculo XX: desde o genocidio nazista de Hitler ate o de Pol Pot no Camboja, passando pelos do leninismo, do staliniismo ou do maoismo.

O pior é que a maior parte desses crimes em massa foram cometidos em nome de teorias que, na sua epoca, receberam o aplauso de milhoes de pessoas. Foram autenticos infernos fabricados por homens que procuravam um mundo perfeito que se bastasse a si mesmo e ja não tivesse necessidade de Deus.

E assim como, lendo Lenin, se podia notar que os direitos do indivíduo nao iam ser respeitados num sistema comunista, do mesmo modo, estudando as premissas da Ilustracao, viu-se claramente que a Modernidade nao atenderia as necessidades globais do ser hurnano. Nao basta a razao para que a sociedade seja justa, solidaria e equilibrada.

Para que haja equilíbrio na pessoa e na sociedade, e preciso atender, juntamente com a razao, a vontade e a sensibilidade. A pessoa e a sociedade, devem ter por objetivo procurar o bem, a verdade e a beleza e isso significa falar de vontade, inteligencia e sentimentos e, por sua vez, de etica, de ciencia e de arte.

Quando se idolatra um metodo da inteligencia, como é a razao, sem elevar a sua altura a etica e a estetica, desequilibram-se o indivíduo e a sociedade. Esse foi o fracasso da Ilustracao..

Fracassou por ter pensado que da razao deriva automaticamente a etica, coisa que se demonstrou falsa ao ser confrontada com a realidade. A razao nao pode ser salva pela razão. Isso seria ilusorio. Esses crimes demonstraram o que o homem pode chegar a fazer. E vimos como a razao nao os impediu.

Os ilustrados pensavam que, mostrando ao homem o que é racional, este o adotaria, e a razao seria suficiente para organizar a sociedade. Mas nao foi assim. Nao basta proclamar o que e racional para que os homens o pratiquem.

O comportamento humano esta cheio de sombras e de matizes alheios a razao, que desembestam cada qual por sua conta, movendo as molas da vontade e do coracao. Reconhecer os perigos que a razao encerra - afirma Jean-Marie Lustiger -, é salvar a sua honra. Conceber a razao como a grande soberana, independente do bem que o homem deve procucar, é mais ou menos como por-se nas maos de um computador: é um instrumento muito capaz, processa grande quantidades de dados que toma do exterior, todo o seu desenvolvimento é perfeitamente logico, mas alguem tem de garantir que está bem programado.

A verdadeira fé é um guia insubstituível, pois a razao pode extraviar-se.

Nao quero, com isto, menosprezar a razao, antes contrario. A razao é uma das mais nobres capacidades que distinguem a especie humana, e alegra-nos ver os seus triunfos, bem como as conquistas da ciencia e a sua luta por construir um mundo melhor.

Mas convem nunca esquecer a limitaçao humana, e igualmente a ordem natural imposta por Deus, que permite ao homem preservar a sua dignidade e evitar muitos erros.

A historia esta cheia de cadaveres ideologicos, e niguém acha estranho encontra-los perfeitamente alinhados quando olha para tras com a disposicao de aprender. E, entre eles, espalhados ao longo dos seculos, pode-se ver toda uma legião de profetas que foram anunciando - sobretudo nos ultimos duzentos anos - o proximo e definitivo desaparecimento da religiao e da Igreja.

No entanto, a historia mostra que sao precisamente aqueles que, com tanta paixao, lancam essas condenação e essas profecias os que desaparecem uns apos outros, enquanto a Igreja continua adiante depois de dois mil anos, e a religiosidade continua a ser uma constante em todas as civilizacoes de todos os tempos.

A Igreja, que presenciou catastrofes que varreram impérios inteiros, testemunha pela sua mera subsistencia a força que palpita nela. "Os povos passam - observava Napoleao -, os tronos e as dinastias desmoronam-se, mas a Igreja permanece".

É uma realidade que leva a pensar que o fato religioso faz parte da natureza do homem, e que a Igreja esta animada de um espírito que nao é de origem humana.

Fonte: É Razoável Crer? - Alfonso Aguiló - Quadrante

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