terça-feira, 1 de setembro de 2009

Credo - Oitavo Artigo


Creio no Espírito Santo

Por São Tomás de Aquino

Como foi dito, o Verbo de Deus é o Filho de Deus, como o verbo (mental) do homem é concebido pela inteligência. Mas algumas vezes o verbo (mental) do homem fica como morto, quando alguém pensa em realizar alguma coisa, mas a vontade de executá-la não se manifesta. Assim também quando alguém crê e não faz as obras, a sua fé pode ser chamada de morta, conforme se lê na Carta de S. Tiago: Como o corpo sem alma é morto, a fé sem as obras é morta (2,26).

A carta aos Hebreus afirma que o Verbo de Deus é vivo, lendo-se nela: é viva a palavra de Deus (4,12). Por essa razão é necessário que haja em Deus vontade e amor . Escreve Santo Agostinho no seu livro DE TRINITADE: O verbo sobre o qual pretendemos dar uma noção é um conhecimento com amor.
Como o Verbo de Deus é o Filho de Deus, assim também o amor de Deus é o Espírito Santo. Por isso; quando o homem ama a Deus, possui o Espírito Santo. S. Paulo escreve: A caridade de Deus foi difundida em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado (Rom 5,5).

Houve pessoas, que mal compreendendo a doutrina sobre o Espírito Santo, afirmaram ser Ele criatura, que era menor que o Pai e que o Filho, que era, ainda, servo e ministro de Deus. Por isso os Santos Padres, para que tais erros fossem rejeitados, acrescentaram cinco palavras qualificativas do Espírito Santo, no Símbolo.

Analisemos esses cinco termos e vejamos porque o Espírito Santo não é uma criatura, mas Deus.

Primeiro: Apesar de existirem outros espíritos - os Anjos, são contudo, todos eles, ministros de Deus, conforme a palavra do Apóstolo: Todos são (os Anjos) ministros que servem (Heb 1,14). Mas o Espírito Santo é Senhor, conforme se lê em S. João: O Espírito é Deus (Jo 4,24), o que é confirmado por S. Paulo: O Senhor é Espírito (2 Cor 3,17), que acrescenta logo em conclusão: Onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Eis porque o Espírito nos faz amar a Deus e liberta-nos do amor ao mundo.
Acrescentou-se por essas razões ao Símbolo: No Espírito Santo Senhor.

Segundo: No Espírito está a vida da alma que se une a Deus. Deus é então a vida da alma, como a alma é, a vida do corpo. O Espírito Santo nos une a Deus por amor, porque Ele é o amor de Deus, e, conseqüentemente, nos vivifica. Lê-se em 5. João: O Espírito é que vivifica (Jo 6,64). Foi por isso acrescentado ao Símbolo: e vivificante.

Terceiro: Devemos considerar que o Espírito Santo é da mesma natureza que o Pai e o Filho: como o Filho é o Verbo de Pai, assim também o Espírito Santo é o Amor do Pai e do Filho. Por essa razão; procede de ambos; e como o Verbo de Deus é da mesma natureza do Pai, assim também, o Amor do Pai e do Filho. Por isso diz-se: Que procede do Pai e do Filho. Vê-se daí claramente que o Espírito Santo não é criatura.

Quarto. O Espírito Santo é igual ao Pai e ao Filho quanto ao culto que recebe. Lê-se nos Evangelhos: Os verdadeiros adoradores adorarão ao Pai em Espírito e verdade (Jo 4,23); Ensinai a todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 19). Foi por esse motivo acrescentado ao Símbolo: Que com o Pai e o Filho é juntamente adorado.

Quinto. O Espírito Santo é igual a Deus, porque os santos profetas falaram por Deus. Ora, é evidente. que se o Espírito Santo não fosse Deus, não se teria dito que os profetas falaram por Ele. Mas S. Pedro o disse: Inspirados pelo Espírito Santo, falaram os santos homens de Deus (2 Ped 1,21). Isaías, que foi profeta, assim fala: O Senhor meu Deus e o seu Espírito me enviaram (48,16). Por isso o Credo traz: Que falou pelos Profetas.


Por esta última afirmação, dois erros são destruídos:

O erro dos Maniqueus, que afirmavam não ter vindo de Deus o Velho Testamento, o que é falso, pois o Espírito Santo falou pelos Profetas; e o erro de Priscila e Montano , que afirmavam que os Profetas não falavam por inspiração do Espírito Santo, mas como se fossem homens alucinados

Muitos frutos provêm para nós do Espírito Santo.

Primeiro, porque Ele nos purifica do pecado. Ora, compete a quem criou uma coisa, refazê-la. A nossa alma foi criada pelo Espírito Santo, porque Deus fez todas as coisas por meio dEle, pois é amando a sua própria bondade que Deus faz tudo. Lê-se: Amais todas as coisas que existem e nada odiastes do que fizestes (Sab 11,25). Lê-se também no livro "Sobre os Nomes divinos", do Pseudo Dionísio: O divino amor não se podia permitir ficar sem geração (Cap. IV). Convém, pois, que os corações dos homens destruídos pelo pecado fossem refeitos pelo Espírito Santo. Lê-se: Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra (SI 103,30). Nem é motivo de admiração que o Espírito Santo purifique, porque todos os pecados são perdoados pelo amor, conforme se lê nas Escrituras: Foram-lhe perdoados muitos pecados, porque muito amou (Is 7.47);
A caridade cobre todos os delitos (Prov 10.12); A caridade cobre uma multidão de pecados (1 Ped 4,8).

Segundo, porque ilumina a inteligência, já que tudo que sabemos, o sabemos pelo Espírito Santo. Confirmam-no os seguintes textos da Escritura: O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e sugerir-vos-á tudo o que vos disse (Jó 2,26); A sua unção ensinar-vos-á tudo (1 J o 2,27).

Terceiro, porque o Espírito Santo nos ensina a observar os mandamentos, e, até de certo modo, no-lo obriga. Ninguém pode seguir os mandamentos de Deus, se não amar a Deus, pois: Se alguém me amar, observará os meus mandamentos (Jo 24,23). Ora, o Espírito Santo nos faz amar a Deus, e nos auxilia nesse sentido. Lê-se no Profeta Ezequiel: Dar-vos-ei um novo coração, e colocarei no meio de vós um novo espírito; tirarei o coração de pedra da vossa carne; dar-vos-ei um coração de carne, e colocarei o meu espírito no meio de vós; e farei que guardeis os meus mandamentos e os pratiqueis (36,26)

Quarto, por que Ele confirmará em nós a esperança da vida eterna, Já que o Espírito Santo é o penhor da herança, conforme estas palavras do Apóstolo aós Efésios: Fostes assinalados com o Espírito da promessa, que é o penhor da nossa herança (1,14). Ele é, com efeito, a garantia da vida eterna. A razão disto está em que a vida eterna é devida ao homem, enquanto este é filho de Deus, e o é feito, enquanto se assemelha a Cristo. Assemelha-se alguém a Cristo pelo fato de possuir o Espírito de Cristo, que é o Espírito Santo. Lê-se na Carta aos Romanos: Não recebestes o espírito de servidão para recairdes no temor, mas recebestes o espírito de adoção dos filhos, no qual chamamos Abba, Pai. O próprio Espírito certifica ao nosso espírito que somos filhos de Deus (8,15-16). Lê-se também em outra Carta do Apóstolo: Porque são filhos de Deus, enviou Deus o espírito do seu Filho nos nossos corações, chamando - Abba, Pai (Gál 4,6).

Quinto, porque o Espírito Santo nos aconselha em nossas dúvidas e nos ensina qual seja a vontade de Deus. Lê-se: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às Igrejas (Ap 2,7); Escutá-lo-ei como um Mestre (Is 50,4).

Fonte: Exposição sobre o Credo por São Tomás de Aquino

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