quarta-feira, 22 de junho de 2011

Aborto - O Argumento Eugenésico




Por Comarc Burke

" O primeiro argumento é a chamada indicação " eugenésica"; em outras palavras, a probabilidade de que a criança já concebida possa nascer com algum defeito mental ou físico. Todas as leis abortistas modernas incluem uma cláusula legalizando o aborto por motivos eugenésicos. A clausula costuma ser muito curta, e muitas pessoas provavelmente olham-na como uma recomendação a mais, do mesmo tipo mais ou menos que as outras.

Mas não é assim!

Se a filosofia de vida que subjaz às outras indicações é repelente, a ideologia subjacente a esta cláusula é infinitamente pior. Esclarecemos muito bem este ponto: tal recomendação não é fruto de um mero hedonismo egoísta, nem produto de um materialismo individualista sem senso de direção nem valores....Através dessa pequena cláusula, há uma filosofia repugnante, poderosa e evidente, que vem abrindo caminho - um caminho legal -, nos países ocidentais. A filosofia, ou melhor, a ideologia dessa cláusula é a da pureza racial, e difere muito pouco, ou nada, da ideologia hitlerista. Pois o eugenismo, afinal de contas, significa apenas isto: não queremos nenhuma raça inferior, não queremos nenhum indivíduo sub-standard, " abaixo do padrão", que possa perturbar a tranquila contemplação do nosso Admirável Mundo Novo, pedindo compaixão, clamando por caridade e afeição, ou simplesmente recordando-nos que existe um Deus a quem devemos ser gratos pelas coisas boas de que desfrutamos.

Vidas que não são dignas de serem vividas

Não esqueçamos o que essa cláusula significa na prática. Significa que, de cada vez que é aplicada, uma ou várias pessoas estão fazendo o seguinte juízo:" Na minha opinião, essa vida" - e estão falando de outro ser humano já existente -, "essa vida não é digna de ser vivida. É (ou melhor, pode tornar-se mais tarde) tão defeituosa que é melhor para ela morrer agora".
Esta crítica, devemos nota-lo, aplica-se também aos que sustentam que o feto ainda não é uma pessoa humana, pois estão fazendo o mesmo juízo: " Essa vida que - a menos que nós a matemos - se tornará uma pessoa humana que não merecerá ser vivida. Portanto, matemo-la"

A única base essencial para o que chamamos direitos democráticos é que todo o ser humano é um valor inviolável; e que ninguém - nenhum Estado, nenhuma autoridade, nenhuma pessoa - pode decidir que a vida do outro é inútil e dispensável. Pode-se chegar à conclusão de que alguém está vivendo em condições indignas de um ser humano, e a partir daí fazer todo os esforços para remediar essas condições. Isso é humanistarismo, é julgar que alguém não é digno de viver - mesmo que tenha de viver em condições indignas de um ser humano. Este juízo não seria um juízo humanitário, mas totalitário. Quando alguém o omite, põe fim ao humanitarismo.

Consequências do Eugenismo

Os argumentos eugenésicos estão sujeitos a inúmeras outras críticas. Limitar-me-ei a apontar duas:

1 - Nunca se pode fazer com certeza absoluta o prognóstico de que uma criança pode nascer defeituosa. Se se praticam abortos com base nestes prognósticos, o resultado será que, numa porcentagem bastante elevada (segundo algumas estimativas, até 50%), se matarão crianças totalmente normais. Seria muito mais lógico, se se parte do ponto de vista eugenésico ( e, se os eugenistas se consideram humanitários seria também muito mais humanitário para eles) deixar todas essas gestações chegarem a seu termo e, uma vez nascidas as crianças, matar aquelas que se viesse a comprovar que realmente eram defeituosas. Se alguém diz que isto é demasiado repugnante, concordo plenamente. Mais repugnante ainda é a lógica do eugenismo.

2 - Se, em virtude do princípio de que uma vida defeituosa não merece ser vivida, for humano matar a fim de prevenir o nascimento de uma pessoa que pode vir a tornar-se defeituosa, é inquestionavelmente mais humano ainda matar uma pessoa que se tornou defeituosa, matar uma pessoa defeituosa já nascida, quer tenha um dia ou um ano de idade, ou vinte ou quarenta ou sessenta. E essa pessoa pode ser morta porque (é um ponto inerente ao mesmo princípio) não possui a vida humana com pleno direito. O seu defeito mental ou físico tornou-se defeituoso o seu direito à vida. Pode ser morta, não talvez pelo " defeito" de ser judia, mas por ser psicótica, aleijada, cronicamente doente ou simplesmente velha.

- A aceitação do aborto eugenésico significa - esteja o público consciente ou não desta realidade - a aceitação não só dos princípios subjacentes à eutanásia, mas de todos os princípios da política de pureza racial: o princípio da eliminação do deficiente, dos que são indignos de viver, dos que não estão à altura dos padrões de qualidade estabelecidos para a raça humana...

Mas certamente - já estou ouvindo a objeção -, tudo isso é bastante exagerado não é? Não. Não é nenhum exgaero. É apenas uma projeção. Simplesmente desenvolve as consequências lógicas das novas filosofias abortistas e projeta-as sobre a vida prática de um futuro talvez não muito longíquo. O mundo de amanhã será produto das tendências e das ideologias que prevalecerem no mundo de hoje Como será esse mundo? É algo a ser pensado, enquanto ainda houver tempo para pensar. Não é este o momento de brincarmos de avestruzes, escondendo nossas cabeças na areia; É de uma responsabilidade elementar ler os sinais dos tempos, ver para onde se dirige uma grande parte de nossa civilização moderna, e perguntar-nos se nós também queremos seguir nesssa direção. Preferir não nos fazermos essa pergunta é o caminho mais seguro para que cedo ou tarde nos vejamos arrastados nessa mesma direção.

Auto-Excomunhão da Humanidade...

Seja-me permitido enfatizar mais uma vez o que disse antes. O aborto - quer tolerado, quer legalizado, quer olhando com indiferença ou aprovação - representa um extremo de barbárie difícil de ser superado. Perder-se-ia muito bem ver nele um símbolo de como a nossa civilização parece inclinada a destruir as verdadeiras sementes de sobrevivência que traz dentro de si.
É compreensível que a Igreja deseje sublinhar a gravidade desse "crime abominável", decretanto uma excomunhão ipso facto não somente para a mulher que pratica o aborto, mas também para todos os que intervêm nele diretamente, mesmo que somente a tenham aconselhado a pratica-lo ( Código de Direito Canônico, cânones 1398 e 1329).

Um abortista - continuo a pensar sobretudo naqueles que procuram justificar esse crime - excomunga-se a si mesmo da mais elementar comunidade humana, a comunidade daqueles que se esforçam por respeitar os direitos humanos dos outros, seja qual for sua religião, raça, cor, posição social, estado de saúde físico ou mental, ou idade.

O Argumento Demográfico

O segundo argumento recente que se vem utilizando em favor do aborto é imposto como um modo de controlar a natalidade. Em outros lugares, por enquanto, a situação é a inversa, isto é, a propaganda constante sobre a superpopulação atua como um fator favorável ao aborto. Na medida em que a opinião pública vai sendo levada a pensar que não se deve ter mais do que um ou dois filhos, que se trata de um dever imperativo e urgente, que o seu não cumprimento deve ser encarado, a princípio, como uma total falta de responsabilidade e, a seguir, como um crime flagrante contra a sociedade..... - então torna-se progressivamente mais fácil persuadir o público de que o aborto não é um crime; que, longe de ser um crime, pode ser o melhor meio e o mais apropriado de levar as pessoas a cumprir um estrito dever.

É lógico que aqueles simpatizantes com este "argumento"devem também ficar encantados com a idéia de que o aborto é, sem sombra de dúvida, o meio mais eficaz de conter o crescimento da população. Não se requer nenhum grau excepcional de inteligência para compreender que o melhor meio de assegurar que não haverá excesso de população é matar os "excedentes". Este é, em toda sua crueza, o modo de pensar de algumas pessoas, embora ainda não ousem expressa-lo de maneira tão brutal. Mas, na verdade, o assunto é brutal; a tal ponto que poderíamos muito bem pedir aos que pensam desse modo que nos expliquem se há alguma diferença real, como meio, entre bisturi e a metralhadora.

Fonte: Amor e casamento - Cormac Burke - Quadrante

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