quarta-feira, 15 de junho de 2011

Transformar o Feto numa "Coisa"



Por Cormac Burke

Matar uma criança para salvar a vida da mãe não repugnava ao sentido humanitário de alguns liberais de trinta anos atrás. Mas matar uma criança para salvar uma conveniência da mãe (a relutância em arcar com a gravidez) - ou para salvar o bem-estar dos outros filhos ou a posição financeira da família da família -, querer que se aceite isso é pedir demasiado ao sentido humanitário seja de quem for, por mais liberal que se possa ser.

A solução encontrada foi muito simples. É demais sacrificar a vida de uma criança por um capricho da mãe, ou por causa do padrão de vida da família, ou pelo bem-estar da sociedade?...Então não se sacrifique a vida da criança, mas tão somente a vida de um "feto". Conclua-se, além disso (segundo a feliz teoria de alguns), que o feto não é humano (conclua-se, digo, porque na verdade não se pode prova-lo), e que portanto, não se está cometendo nem um homicído nem um infanticídio, mas única e exclusivamente um "feticídio" - que não é mais significativo na ordem moral do que matar alguns micróbios (igualmente corpos estranhos e indesejáveis) por meio de uma injeção de penicilina.

Aqui está a nova visão moral da questão do aborto. Teremos de enfrentar a objeção (parecem dizer os novos moralistas) de que o aborto é um homicídio? Realmente, pelo menos nos casos que nos interessam, seria difícil justificar um homicídio...Mas então não percamos tempo tentando justifica-lo. Digamos com toda simplicidade que não é um homicídio, pois aquilo que se aborta não tem natureza humana, e portanto não é um membro da nossa raça humana, é uma coisa
E já que as coisas não possuem direitos, o problema desaparece totalmente

Aborto em dois Estágios

O que esta visão nos oferece é, digamos assim, um aborto em dois estágios: é uma operação física precedida de uma operação metafísica, um aborto físico com um pré-requisito metafísico -, a supressão da identidade do ser vivo que está no útero. Uma vez realizada essa operação metafísica (verdadeiramente indolor, contanto que se aplique um pouco de anestesia à consciência da pessoa....), a operação farmacológica ou cirúrgica necessária para suprimir o que "resta"no útero não oferece especial dificuldade, já que esse "resto" - devidamente expurgado da raça dos homens e privado do seu status humano e dos seus direitos - já não é um ser humano, não é senão uma coisa não-humana.

Compreendamos o raciocínio claramente. O argumento essencial dos abortistas modernos não é (exceto nos dois casos que examinaremos adiante) que tenham sido descobertas novas indicações ou razões para o aborto, novas razões de peso que até hoje eram desconhecidas. O seu argumento é diferente, e é importante, repito, compreende-lo bem. Eles não dizem que existam mais razões do que conhecidas até agora para matar o que está no ventre materno. O que dizem é que o que está no útero tem menos importância do que antes se pensava: tem menos valor. Não tem valor humano e não possui direito humano.

O Argumento Católico

O argumento católico como um todo - e afirmo que, seja qual for o angulo pelo qual considere o assunto, é o único argumento verdadeiramente racional, verdadeiramente científico e verdadeiramente humanitário - sustenta que a criança não-nascida já é um ser humano e goza de todos os direitos próprios de qualquer ser humano, dos quais o principal é o direito à vida; além disso, sustenta que sua situação particular como ser humano indefeso lhe confere o direito a uma proteção especial por parte da lei civil.

É interessante recordar que as Nações Unidas, em sessão plenária de novembro de 1959, aprovaram unanimemente a declaração dos direitos da criança nos seguintes termos: "A criança, em virtude da sua falta de maturidade física e intelectual, necessita de especial proteção e cuidados, incluindo a adequada proteção legal, tanto antes como depois do seu nascimento"- Esta declaração foi renovada depois da Conferência Internacional dos Direitos Humanos, em Teerã, em mais de 1968

A Evidência da Embriologia

Do ponto de vista teológico, a vida especificamente humana começa mediante a infusão da alma no novo organismo embrionário por ação de Deus. Embora não aja nenhuma declaração dogmática sobre este ponto, o Magistério da Igreja cristalizou no ensinamento claro de que o início da vida humana pessoal deve ser computado a partir do momento da concepção, do momento em que o óvulo é fecundado. Este ensinamento reflete-se na relação entre certas festas litúrgicas - por exemplo, entre a Anunciação (25 de março) e o Natal, entre a Imaculada Conceição (8 de dezembro)e a festa da Natividade de Nossa Senhora (8 de setembro) -, e é apoiado pelas disposições do Código de Direito Canônico(cf cânon 871)

Muito mais significativo e interessante é que este ensinamento universal da Igreja é apoiado e totalmente confirmado por todos os avanços científicos da moderna embriologia. Tanto isto é assim que podemos afirmar que, do ponto de vista científico, a verdade do ensinamento católico sobre este tema está acima de qualquer dúvida. A pesquisa embriológica moderna demonstrou que o ser humano, em termos orgânicos, está totalmente constituído a partir do momento da fecundação do óvulo, e que tudo o que se segue é simplesmente um processo de desenvolvimento de um organismo já existente, sem que seja possível indicar qualquer dado ou acontecimento subsequente sobre o qual basear o suposto início de uma vida pessoal.

Fonte: Amor e Casamento - Quadrante
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