Por Scott Hann
" Voltei-me para Olhar". O Sentido em Meio à Estranheza.
Scott diz que esses 4 primeiros capítulos foram a parte mais fácil. Afinal de contas, em sua maioria, os católicos tem pelo menos uma vaga percepção da Missa. Estão familiarizados com as orações e os gestos, mesmo que os tenham suportado de maneira sonolenta.
Entretanto, com este capítulo, voltamo-nos para olhar (Ap 1,12) aquilo a que muitos católicos voltam as costas - as vezes por medo, outras vezes por frustração. O livro do Apocalípse, o ultimo da Bíblia, parece mesmo um livro estranho: cheio de guerras assustadoras e fogos devoradores, rios de sangue e ruas pavimentadas de ouro.
Em todas as suas partes, o livro parece desafiar o bom senso e o bom gosto.
Vejamos só um ex. famoso, a praga de gafanhotos relatada por João:
"desta fumaça espalharam-se gafanhotos...[que]tinham o aspecto de cavalos equipados para o combate; nas suas cabeças havia como que coroas de ouro e suas faces eram como faces humanas. Tinham cabelos como que de mulheres e seus dentes eram como dentes de leão. Tinham couraças como de ferro e o ruído de suas asas era o ruído de carros com muitos cavalos...Tem caudas como as dos escorpiões, armadas de ferrões; nas caudas reside o seu poder de causar dano aos homens durante cinco meses" (Ap 9,3.7-10).
Não sabemos se devemos rir ou gritar de medo. Com o devido respeito, queremos perguntar a são João: "Tudo bem, deixe-me ver se entendi direito: você viu gafanhotos de cabelos compridos, com dentes de leão e faces humanas...e eles usavam coroas de ouro e armaduras?"
A grande tentação é simplesmente nos eximir de ler o Apocalípse lembrando a Deus que temos compromissos urgentes aqui na terra. De fato os detalhes do livro do Apocalípse são muitíssimo estranhos.
Scott nos convida a ir com ele em uma pesquisa, para que descubramos, como ele descobriu, que há um sentido em meio à estranheza.
A Mancha que não se parece com nada
Não sabemos se devemos rir ou gritar de medo. Com o devido respeito, queremos perguntar a são João: "Tudo bem, deixe-me ver se entendi direito: você viu gafanhotos de cabelos compridos, com dentes de leão e faces humanas...e eles usavam coroas de ouro e armaduras?"
A grande tentação é simplesmente nos eximir de ler o Apocalípse lembrando a Deus que temos compromissos urgentes aqui na terra. De fato os detalhes do livro do Apocalípse são muitíssimo estranhos.
Scott nos convida a ir com ele em uma pesquisa, para que descubramos, como ele descobriu, que há um sentido em meio à estranheza.
A Mancha que não se parece com nada
Scott diz que quando começou a estudar o livro do Apocalípse, era protestante, de expressão evangélica e teologia calvinista. Como muitos outros evangélicos, achava esse livro fascinante. É Escritura, claro, e ele julgava regra de fé ser "tão-somente a Escritura".
Além disso, o Ap. ocupa uma posição proeminente: O derradeiro livro da Bíblia - a "última palavra" de Deus,, por assim dizer. Também parecia a Scott ser o livro mais misterioso e enigmático da Bíblia, e ele achava isso tentador demais para deixar passar.
Considerava o Apocalípse um enígma que Deus o desafiava a solucionar, um código que implorava para ser decifrado. E Scott tinha companhia. Á medida que o segundo milenio se aproximava do fim, a interpretação do livro transformava-se em atividade particular entre seus irmãos evangélicos. A cada ida à livraria, ele descobria novas e mais promissoras revelações a respeito da Revelação.
Isso nem sempre aconteceu com os intérpretes protestantes. O primeiro protestante genuíno, Lutero, achava o Apocalípse fantástico demais. Durante algum tempo chegou a rejeitar seu lugar na Bíblia, porque, disse ele, "uma revelação deve ser reveladora".
Contudo, o Apocalípse é sempre revelador, visto que expõe os preconceitos, as ansiedades e a inclinação ideológica de cada intérprete em particular. Este livro continua a ser uma espécie de mancha de Rorschah* para os cristãos. Os pregadores tentam primeiro discernir uma ordem no texto, o que costuma ser um esforço inútil, pois o livro não tem os princípios metodológicos de uma obra literária:um enredo ou argumento convencional.
Não encontrando ordem, eles tentam impo-la. Foi esse, mais ou menos, o padrão que Scott seguiu durante seus anos de seminarista e ministro protestante. Em geral, acontece que um detalhe em particular prende a imaginação e se torna a chave interpretativa para a leitura do livro todo. O "milênio" por exemplo - conceito que só aparece no cap. 20 do Apocalípse - começa deturpar tudo que o intérprete vê nos caps.1-19 e 21-22.
O Virus do Milenio
O milênio é hoje, a chave interpretativa predileta entre os evangélicos e os fundamentalistas. O livro de enorme sucesso de Hal Lindsey, The Late,Great Planet Earth, publicado em 1970, lançou um gênero ao se tornar o segundo livro mais vendidos nos últimos 30 anos.
Lindsey afirmou que as profecias do Ap. eram uma previsão exata de acontecimentos futuros, um futuro que apenas despontava na década de 1970. Ele achava que as estranhas imagens do Ap. correspondiam exatamente a pessoas, lugares e acontecimentos que na ocasião estavam nos noticiários.
A Rússia, por ex., era a besta; e Gog e magog referiam-se à União Soviética. Lindsey previu que os soviéticos atacariam a Palestina, mas os judeus voltariam e os massacrariam para instituir um reino milenário em Jerusalém.
Lindsey não estava sozinho. De fato, durante alguns anos, Scott esteve firmemente com ele - embora com diferenças mínimas - entre os patidários "futuristas" dos intérpretes do Ap. Nesse partido há muita discordância acerca de quando terão lugar esses acontecimentos e de quais as bestas que correspondem a determinados líderes mundiais.
Os futuristas também discordam entre si quanto a se os cristãos entrará no reinado milenar de Cristo. Alguns criaram novos conceitos, como o do "Arrebatamento" para descrever as intervenções milagrosas que predizem para o fim dos tempos.
No arrebatamento, dizem eles, Deus arrebatará sobre as nuvens seus escolhidos para viverem com ele (ITs 4,16-17). Scott se abrigou nessas passagens durante anos , mas sem encontrar nenhuma satisfação verdadeira.
Repetidamente um pastor se fixava em um elemento - o número da besta, por ex.-e toda sua interpretação do Ap. dependia da identificação desse número com alguém presente nos noticiários. Porém, durante as décadas de 1970 e 1980, líderes mundiais subiam e caíam do poder,impérios desmoronavam e com todo líder caído, com todo império desmoronado, Scott via ruir outra teoria grandiosa.
Gradativamente, Scott começa a ver um motivo maior para sua desilusão.
Teria Deus realmente inspirado o livro do Apocalípse de João para ele ficar escondido no fim da Bíblia, estranho e inexplicável, durante vinte séculos - até cumprir-se o tempo e acontecer o cataclismo?
Não, o Apocalípse tem a finalidade de "revelar" e suas revelações precisam ser para todos os cristãos de todos os tempos, até mesmo para os leitores originais do século I.
Fonte: O Banquete do Cordeiro (Veja aqui todo o estudo)
Veremos depois: Um sopro do passado
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