segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Razão, a Fé e ...Eu.


Por PadreLeoTrese

"Deus concedeu ao homem a faculdade de raciocionar, e Ele deseja que a utilizemos.  Existem duas maneiras de abusar dessa faculdade.

Uma é não utiliza-la. 

Caso típico da pessoa que não aprendeu a usar da razão é, por exemplo, o daquela que toma como verdade do Evangelho tudo o que lê nos jornais e nas revistas, por mais absurdo que seja. Essa pessoa aceita ingenuamente as mais extravagantes afirmações de vendedores e anunciantes, uma arma sempre pronta a ser empunhada por publicitários espertos. Deslumbra-a o prestígio; se um famoso cientista ou industrial diz que Deus não existe, para ela é claro que não há Deus.

Noutras palavras, este não-pensante não possui senão opiniões pré-fabricadas. Nem sempre é a preguiça intelectual a que produz um não-pensante. Às vezes, infelizmente, são os pais e os mestres os causadores desta apatia mental, quando reprimem a natural curiosidade dos jovens e afogam os normais “porquês” com ao seus “porque eu o digo e pronto”.

No outro extremo está o homem que faz da razão um autêntico deus.

É aquele que não crê em nada que não veja e compreenda por si mesmo. Para ele, os únicos dados certos são os que vêm dos laboratórios científicos. Nada é verdade a não ser que ele assim o ache, a não ser que, já e agora, produza resultados práticos.

O que dá resultado é verdade; o que é útil, é bom. Este tipo de pensador é o que conhecemos por ‘positivista’ ou ‘pragmático’.

Mas, no fundo, não é que recuse qualquer verdade que se baseie na autoridade: crerá cegamente na autoridade de um Einstein e aceitará a teoria da relatividade, mesmo que não a entenda; crerá na autoridade dos físicos nucleares, ainda que continue a não entender nada; mas a palavra “autoridade” produz-lhe uma repulsa automática quando se refere à autoridade da Igreja.

O pragmático respeita as declarações das autoridades humanas porque acha que elas devem saber o que dizem, confia na sua competência. Mas esse mesmo pragmático olhará com um desdém impaciente o católico que, pela mesma razão, respeita as declarações da Igreja, confiado em que a Igreja sabe o que está dizendo através da pessoa do Papa e dos bispos.

É verdade que nem todos os católicos têm uma compreensão inteligente da sua fé. Para muitos, a fé é uma aceitação cega das verdades religiosas baseada na autoridade da Igreja. Esta aceitação sem raciocínio poderá ser devida à falta de estudo ou até, infelizmente, à preguiça mental.

Para as crianças e as pessoas sem instrução, as crenças religiosas devem ser desse gênero, sem provas, como a sua crença na necessidade de certos alimentos e a novicidade de certas substâncias é uma crença sem provas.

´O pragmático que afirma: “Eu creio no que diz Einstein porque não há dúvida de que ele sabe do que está falando”, deverá também achar lógico que uma criança diga: “Creio porque papai diz”, e que uma pessoa já mais crescida diga: “Creio porque assim o diz o padre”, e não poderá estranhar que um adulto sem instrução afirme: “É o Papa que o diz, e para mim basta”.

Não obstante, para um católico que raciocina, a aceitação das verdades da fé deve ser uma aceitação raciocinada, uma aceitação inteligente. É certo que a virtude da fé em si mesma – a faculdade de crer – é uma graça, um dom de Deus. Mas a fé adulta edifica-se sobre a razão; não é uma frustração da razão.

O católico instruído considera suficiente a clara evidência histórica de que Deus falou, e de que o fez por meio de seu Filho, Jesus Cristo; de que Jesus constituiu a Igreja como seu porta-voz, como sua manifestação visível à humanidade; de que a Igreja Católica é a mesma que Jesus estabeleceu; de que aos bispos dessa Igreja, como sucessores dos Apóstolos (e especialmente ao Papa, sucessor de São Pedro), Jesus Cristo deu o poder de ensinar, santificar e governar espiritualmente em seu nome.

A competência da Igreja para falar em nome de Cristo sobre matérias de fé doutrinal ou de ação moral, para administrar os sacramentos e exercer o governo espiritual, chamamos a autoridade da Igreja. O homem que, pelo uso da sua razão, vê com clareza satisfatória que a Igreja Católica possui este atributo de autoridade, não vai contra a razão, mas, pelo contrário, segue-a quando afirma: “Creio em tudo o que a Igreja Católica ensina”.

De igual modo, o católico segue tanto a razão como a fé quando aceita a doutrina da infalibilidade.

Este atributo significa simplesmente que a Igreja (seja na pessoa do Papa ou de todos os bispos juntos sob o Papa) não pode errar quando proclama solenemente que certa matéria de fé ou de conduta foi revelada por Deus e deve ser aceita e seguida por todos.  A promessa de Cristo: Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo (Mt. 28,20), não teria sentido se a sua Igreja não fosse infalível.

Cristo certamente não estaria com a sua Igreja se lhe permitisse cair em erro em matérias essenciais à salvação. O católico sabe que o Papa pode pecar, como qualquer homem; sabe que as opiniões pessoais do Papa têm a força que a sua sabedoria humana lhes possa dar. Mas também sabe que, quando o Papa declara pública e solenemente que certas verdades foram reveladas por Cristo, seja pessoalmente ou por meio dos seus Apóstolos, não pode errar.

Jesus não estabeleceu uma Igreja que pudesse desencaminhar os homens.

O direito de falar em nome de Cristo e de ser escutada é o atributo (ou qualidade) da Igreja Católica a que chamamos autoridade.

A certeza de estar livre de erro quando proclama solenemente as verdades de Deus é o atributo a que chamamos infalibilidade.

Existe uma terceira qualidade característica da Igreja Católica.

Jesus não disse só: Quem vos ouve, a mim ouve, e o quem vos despreza, a mim despreza (Lc. 10,16) – autoridade -. Não disse só: Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo (MT. 28,20) – infalibilidade -. Também disse: Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela (Mt. 16,18), e com estas palavras indicoua terceira qualidade inerente à Igreja Católica: a indefectibilidade.

O atributo de indefectibilidade significa simplesmente que a Igreja permanecerá até o fim dos tempos como Jesus a fundou, que não é perecível, que continuará a existir enquanto houver almas a salvar. “Permanência” seria um bom sinônimo de indefectibilidade, mas parece que os teólogos sempre se inclinam pelas palavras mais longas.

Seria um grande equívoco que o atributo da indefectibilidade nos induzisse a um falso sentimento de segurança. Seria trágico que permanecêssemos impassíveis ante o perigo que representam nos nossos dias o materialismo, o hedonismo e o relativismo, pensando que nada de realmente mau pode acontecer-nos porque Cristo está na sua Igreja.

Se descurarmos a nossa exigente vocação de cristãos – e, por isso, de apóstolos -, a Igreja de Cristo poderá reduzir-se cada vez mais a um pequeno grupo clandestino, cercado por uma cultura anti-cristã, e muitas pessoas correrão o risco de condenar-se. Os meios de comunicação proclamam com tanto zelo um modo de vida indiferente a Deus e, no entanto, como nos mostramos apáticos – e até indiferentes – em levar a verdade aos outros!

“Quantas pessoas converti?” Ou, pelo menos, “quanto me preocupei, quanta dedicação pus na conversão dos outros?” É uma pergunta que cada um de nós deveria fazer a si mesmo de vez em quando.

Pensar que teremos de apresentar-nos diante de Deus, no dia do Juízo, de mãos vazias, deveria fazer-nos estremecer. “Onde estão os seus frutos, onde estão as suas almas?”, perguntar-nos-á Deus, e com razão. E o perguntará tanto aos cristãos comuns como aos sacerdotes e aos religiosos. Não podemos desfazer-nos desta obrigação pagando o dízimo à Igreja. Isso está bem, é necessário, mas é apenas o começo.

Também temos que rezar.

As nossas orações quotidianas ficariam lamentavelmente incompletas se não pedíssemos pelas obras de apostolado, para que seja abundante a eficácia de todos os que se dedicam a aproximar os outros da fé, sejam sacerdotes, sejam homens e mulheres comuns entre os seus familiares e amigos.

Mais ainda: rezamos todos os dias pedindo o dom da fé para os vizinhos da porta do lado, se não são católicos ou não praticam? Rezamos pelo companheiro de trabalho que está no escritório ao lado? Com que freqüência convidamos um amigo não católico a assistir à missa conosco, dando-lhe previamente um livrinho que explique as cerimônias?

Temos em casa alguns bons livros que expliquem a fé católica, uma boa coleção de folhetos, que damos ou emprestamos à menor oportunidade, a qualquer um que mostre um pouco de interesse? Se fazemos tudo isto, combinando até, para esses amigos uma entrevista com um sacerdote com quem possam conversar e, chegado o momento, abeirar-se do sacramento da confissão, então estamos cumprindo uma parte, pelo menos, da nossa responsabilidade para com Cristo, pelo tesouro que nos confiou.

Naturalmente, nenhum de nós pensa que todos os não católicos vão para o inferno, assim como não pensamos que chamar-se católico seja suficiente para introduzir-nos no céu. A sentença “fora da Igreja não há salvação” significa que não há salvação para os que se acham fora da Igreja por culpa própria.

Alguém que seja católico e abandone a Igreja deliberadamente não poderá salvar-se se não retornar; a graça da fé não se perde a não ser por culpa própria. Um não-católico que, sabendo que a Igreja Católica é a verdadeira, permanece fora por sua culpa, não poderá salvar-se. Um não católico cuja ignorância da fé católica seja voluntária, com cegueira deliberada, não poderá salvar-se.

Mas aqueles que se encontram fora da Igreja sem culpa própria, e que fazem tudo o que podem conforme o seu reto entender, fazendo bom uso das graças que Deus certamente lhes dará em vista da sua boa vontade, esses poderão salvar-se. Deus não pede o impossível a ninguém; recompensará cada um segundo o uso que tenha feito do que foi concedido.

Mas isto não quer dizer que nós possamos eludir a nossa responsabilidade dizendo: “ Afinal, já que o meu vizinho pode ir para o céu sem se fazer católico, por que me vou preocupar?” Também não quer dizer que “tanto faz uma igreja como outra”.

Deus quer que todos pertençam à Igreja que Ele fundou. Jesus Cristo quer “um só rebanho e um só Pastor”.

E nós devemos desejar que os nossos parentes, amigos e conhecidos alcancem essa maior confiança na salvação de que gozamos na Igreja de Cristo; maior plenitude de certeza; mais segurança em saber o que está certo e o que é errado; os inigualáveis auxílios que a Santa Missa e os sacramentos nos oferecem.

Levamos pouco a sério a nossa fé se convivemos com os outros, dia após dia, sem nunca nos perguntarmos: “Que posso fazer para ajudar esta pessoa a reconhecer a verdade da Igreja Católica e a unir-se a mim no Corpo Místico de Cristo?”

O Espírito Santo vive na Igreja permanentemente, mas com frequência tem que esperar por mim para achar um modo de entrar na alma daquele que está ao meu lado"

Fonte: A Fé Explicada

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