Por Fulton Sheen
"Vinte anos atrás havia muito pouca disciplina no mundo, hoje há em demasia e de má qualidade. Sob a velha ordem do liberalismo, a disciplina era considerada uma repressão injusta, a licença era glorificada como "expansão da personalidade", e a mortificação era desdenhada como "um resquício da Idade Média". O homem livre era aquele que não estava sujeito nem a proibições nem a inibições. Supunha-se que os jovens que deixavam os esplendores e encantos do mundo pelas sombras e refúgios da Cruz onde se forjam os santos, faziam-no em consequência de uma decepção de amor. O convento ou o mosteiro eram considerados Legiões Estrangeiras religiosas onde os jovens entravam por terem perdido a sua bem-amada. A verdade é que ali entravam por terem encontrado o seu Bem-Amado.
Para a geração liberalista, a moralidade não era uma relação entre a ação e a lei ou finalidade, mas uma média estatística do modo como viviam homens e mulheres. O bem era que a maioria fazia; o mal era o que a maioria não fazia. A liberdade de pensamento veio a ser tão livre que, desprovida de pensamentos, se tornou insensatez.
Se os homens, naqueles tempos, se tivessem conduzido com aquele abandono e completo desrespeito pelas finalidades da vida humana, que presumiam, de há muito que viveríamos dentro do caos. Refundiram até os Evangelhos e rejeitaram, como antiquados e impróprios para os nossos tempos, todos os textos que recomendam ao homem: "tomar cada dia a sua cruz"e "perder a vida para salva-la", a crença na Divindade de Cristo supunha-se ter sido carcomida pelos "acidos do modernismo". Pelo menos foi o que nos disse Mr. Walter Lipmann. Em vez de ajustarem sua vida ao dogma, começavam os homens a ajustar os dogmas às suas vidas. Adaptaram a religião e a moral ao modo que viviam. Fizeram Deus dançar ao som de sua nova física e a teologia ao som da música da biologia. Julgava-se que os homens era livres porque não mais sofriam compressão.
Agora, tudo isso mudou. De um mundo de absoluta liberdade e nenhuma compressão, passamos para um mundo de coerção e nenhuma liberdade. De uma ordem em que não havia renúncia, o mundo reagiu até a negação da personalidade. Os regimes totalitários são todos fundados no princípio ascético: "fazei penitência, pois está perto o reino do homem". O ascetismo tornou-se moda; os homens tem agora de sacrificar tanto o que são como o que possuem.
Deve-se renunciar à liberdade individual em benefício do novo mito: a raça e a classe. "As depurações tornaram-se moda". É fato que nenhum sistema político, no decurso dos passados 1900 anos, levou tão longe o ascetismo como o fizeram o fascismo soviético e o nazismo. É na verdade improvável que tivessem pregado o ascetismo político com tamanho sucesso se não houvesse a Cruz de mortificação do Calvário lançado sua sombra sobre o mundo. Com a religião, o homem aprendera a se mortificar para o bem de seu destino eterno.
Quando a religião foi esquecida, o marxismo apoderou-se do ascetismo e fez os homens dobrarem-se mais uma vez ao seu jugo, não para o bem de suas almas, mas em benefício de uma produção maior. A mortificação era outrora a marca inconfundível dos homens bons - Marx e Lenin fizeram dela a própria divisa do mal.
O mundo estava preparado para essa volta ao ascetismo, pois já se saciara com a licenciosidade do individualismo. Andava à busca de alguma coisa que fizesse exigências à alma e encontrou-se no marxismo. Muitas coisas tiveram de ser abandonadas para se poder entrar em seu reino. O anjo coma espada flamejante montava guarda diante dos portões paradisíacos, ordenando a cada um que entrava abdicar de sua personalidade em benefício da coletividade.
Absoluta submissão às diretivas do partido foi ordenada, sob a ameaça de uma bala pelas costas nas escadarias do Kremlim; a propriedade produtiva privada teve de ser abandonada, num desafio ao Estado, a fim de que o trabalhador passasse a ser a unidade da nova ordem.
O fascismo soviético veio a usar exatamente os mesmos meios que o Cristianismo sempre usara antes, mas para um fim inteiramente diverso. Daí em diante sustentou que os homens precisavam ser disciplinados não para o bem de suas almas, mas em benefício da riqueza social. Os ouvidos modernos não mais ouviram o argumento em defesa da "expressão da personalidade", ou, se o ouviram, ouviram-no dos reacionários liberais.
Hoje em dia ouvem o argumento em defesa da violência, tanto da parte do Cristianismo como da de seus inimigos do fascismo soviético e do nazismo. É com efeito, digno de nota que o Cristianismo não menos que o comunismo prega a violência. Lenin disse que pouco se importava que quatro quintos do mundo fossem banhados em sangue contanto que o outro quinto se tornasse comunista.
Jesus Cristo pregou que o "Reino dos Céus é conquistado pela violência e só os violentos o arrebatarão". O olho deve ser arrancado, as mãos amputadas, os membros decepados, a cruz de cada dia carregada e até a vida precisa ser perdida para entrar em Seu Reino.
Fonte: O problema da Liberdade
Mais do Livro: AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário