domingo, 12 de agosto de 2012

A Ruptura entre Cristãos e Judeus

Por Georges Suffert

1 - Introdução
2- Jesus ou Aquele que precedeu a Igreja
3- A estratégia inicial dos Apóstolos
4- A Igreja de Jerusalém: Ascensão e Queda
5 - A Irrupção de Paulo
6 - O Primeiro Concílio da História



"Não se pode subestimar a importância histórica da ruptura entre os grupos da diáspora judaica e as comunidades cristãs. A divergência sobre as práticas judaicas não é a única razão dessa decisão que afastará durante séculos duas religiões que têm a mesma raiz e uma esperança escatológica semelhante.

O acontecimento que precipita essa ruptura parcial é a emergência de um nacionalismo judaico radical. Trata-se de um acontecimento surpreendente. O nacionalismo, para os homens de hoje, é uma realidade bastante normal.

Não era assim na época em que o Império Romano se constitui sobre os escombros da República. Naturalmente, os povos dos territórios conquistados por Roma às vezes resistem. Será o caso da Gália. Mas é uma revolta fugaz. As nações não existem. Ademais, Roma não é uma nação, no sentido moderno da palavra. É um Império que estabelece suas leis sobre o mundo conhecido.

Há prova melhor que o Egito? Tratase de um país, uma tradição cultural, uma religião, um sistema econômico. Roma precisa de seus portos, de seu trigo, talvez até de sua ciência. O Egito poderia ter demonstrado seu mau humor, mas funde-se no Império Romano sem resistência aparente, como se essa fusão fosse natural. Certo: Alexandre passou por lá. Ele impôs uma dinastia, mas era um conquistador, isto é, uma espécie de imperador. Não deseja carregar a nação grega em sua bagagem. Aliás, adotou os deuses e os costumes da Ásia. Portanto, há dois mil anos o nacionalismo é um anacronismo.

Mas a nação judaica se revolta, em nome de seu prestigioso passado. Prestigioso para seu povo; os romanos consideram os judeus apenas uma gente insuportável e provocadora.

A batalha começa por volta de 66-67. Durará cerca de quatro anos.

Os judeus não tinham a mínima chance de vencer. Morrem aos milhares. Jerusalém e as principais cidades da Galiléia são aniquiladas. Masada, o último bastião da resistência judaica, animado pelos zelotes, cai em 73d.C. Para o povo judeu, é uma catástrofe. Agora, ele estará reduzido à diáspora; esta, com uma coragem obstinada, começará a repetir: "Ano que vem em Jerusalém" (La ShanaAba ba Iroushalaiin).

Os cristãos viram o drama chegar. Tudo indica que eles se separaram.

Tiago, bispo de Jerusalém, fora apedrejado em 62

A crer nos relatos de testemunhas (duvidosos), os fariseus é que teriam imposto a sentença de morte. Por quê? As relações entre os dois grupos não costumavam ser más.

Eusébio de Cesaréia, escrevendo por volta de 325, considera que os fariseus temiam a influência de Tiago sobre o povo de Jerusalém. Porém, o bispo se opunha ao crescimento do nacionalismo zelote; como a maioria dos cristãos, ele considerava um impasse essa revolta da qual todo mundo falava. O Reino de Jesus não estava na ponta das espadas. A morte de Tiago seria pois um dos prenúncios da batalha que iria começar.

66: a comunidade cristã de Jerusalém retira-se para Péla, na Transjordânia. É uma opção deliberada.

Essa comunidade não quer se deixar arrastar para essa guerra; deseja sobreviver. É Simeão, primo de Jesus e sucessor de Tiago, que conduz esse êxodo limitado. Mas para os judeus, como para os cristãos, está decidido: os dois grupos sabem que já não seguem o mesmo caminho.

No entanto, nem todos os cristãos devem ter se encontrado em Péla. Estima-se hoje que muitos membros das comunidades cristãs próximas do epicentro do abalo foram levadas pelo sismo. Por exemplo, a comunidade da Galiléia, que não deixou qualquer vestígio. Ativa, numerosa antes de 66, desaparece depois de 70.

Em 70, Tito toma Jerusalém e arrasa o Templo; o número de vítimas entre os judeus é ignorado. Mas os romanos são implacáveis. Para eles, os judeus são uma pequena mancha no imenso mapa do Império em formação.

Para os cristãos, a ruptura de fato com a comunidade judaica está feita.

Com isso, a Igreja perde o centro. É certo que Antióquia tem um papel que não é desprezível. Mas jamais será uma capital. A partir desse instante, Roma se impõe por diversas razões.

Primeiro, por ser a capital do Império e pelo fato de que o cristianismo vai se enraizar nas cidades dominantes do mundo conhecido. Depois, por ser o local onde Pedro e Paulo morreram. Pedro provavelmente foi assassinado em 64 por Nero, após o incêndio de Roma. É possível que os romanos só tenham conseguido encontrar o apóstolo graças a uma denúncia anônima, como manda o figurino.

Vemos que o processo é antigo. É óbvio que essa denúncia certamente partia dos meios judaico-cristãos. A guerra pró ou contra o nacionalismo judeu se teria prolongado até Roma. Paulo morrerá em condições semelhantes, em 67. Em todo caso, dois homens já não estavam mais neste mundo quando eclode a revolta.

Para os cristãos, contudo, a morte em Roma dos dois pilares da Igreja é um sinal. Ainda se passarão alguns séculos antes que o bispo de Roma se torne efetivamente o chefe da Igreja. Mas, desde os anos 65-70, está decidido: o centro da Igreja fica em Roma. Simplesmente porque o bispo de Roma é o sucessor de Pedro, e porque este - dizem - está enterrado essa cidade.

Fonte: Tu és Pedro - de George Suffert

Depois veremos: Os Primeiros Cristãos aguardam a volta de Jesus e o fim dos tempos


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