Lúcio Navarro
Do Livro: A Legítima Interpretação da Bíblia.
Primeira Parte: A Tese do Pastor - O Caso dos Pagãos
"Passemos agora às religiões cristãs, que aceitam a Revelação feita por Nosso Senhor Jesus Cristo. Se elas ensinam que o "homem se salva pelas obras", estão ensinando uma coisa certa ou errada? Isto depende do sentido que se queira dar à frase.
Se se toma no sentido de que o homem se salva exclusivamente pelas suas obras, desprezando-se a fé, como a desprezam aqueles que dizem "Todas as religiões são boas, vem a dar tudo na mesma coisa; minha religião consiste em fazer o bem", a doutrina está errada. Foi precisamente para combater este erro, para mostrar que era preciso submeter humildemente a inteligência a todas as verdades por Êle reveladas, que Jesus Cristo tanto insistiu em dizer que - quem crê nÊle se salva, quem não crê se condena.
Mas, se se toma num sentido que não exclua a obrigação de crer e se leva em conta a absoluta necessidade da graça para a realização das boas obras, a frase tem um sentido legítimo e verdadeiro, perante a razão e perante a Bíblia. Senão, vejamos. Os cristãos, ou aqueles que têm conhecimento da doutrina cristã, Nosso Senhor veio ao mundo para dispensá-los da observância dos mandamentos, impondo-lhes ünicamente a obrigação de crer? Absolutamente não! porque é o próprio Cristo quem diz: Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mateus XIX-17).
Absolutamente não! porque ninguém está dispensado de obedecer à voz da consciência, de cumprir esta lei que está escrita no coração humano, se quiser conseguir o Céu. Foram abolidas tôdas as cerimonias e prescrições da lei mosaica, mas o Decálogo ficou de pé, porque é a lei eterna, que rege a alma do homem, é a fonte de toda a moral, de todas as leis.
O que acontece com o cristão é que, tendo um conhecimento mais vasto das coisas de Deus, dos preceitos e da vontade divina, a observância dos mandamentos lhe abre novos horizontes. Tem maiores obrigações e responsabilidades, desde que por sua vez recebeu maiores luzes, mais abundantes graças e tem mais facilidade para salvar-se. A todo aquele o quem muito foi dado, muito lhe será pedido (Lucas XII-48). Ele sabe que o grande mandamento da lei, é este: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração e de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (Mateus XXII-37). Bem como, conhece pelo Evangelho as palavras de Jesus Cristo. Ora, não estará amando a Deus com todo o seu entendimento, se não crer nas palavras do Divino Mestre. Logo, a obrigação de crer nas palavras de Jesus, que são palavras de Deus, pois Jesus Cristo é Deus, já está incluída na lei: observa os mandamentos.
Porque não posso amar a Deus e, ao mesmo tempo desacreditar a sua palavra. E quando Jesus lhe diz que quem crê nÊle se salva, quem não crê se condena, o cristão sabe que tem que aceitar todas as palavras de Jesus; logo, não pode desprezar a verdade que está contida nestas palavras: Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos (Mateus XIX-17).
Veja-se, portanto, que equilíbrio, que lógica se encerra na doutrina católica ! Os mandamentos incluem a obrigação da fé em Cristo, e a fé em Cristo traz como consequência a obrigação dos mandamentos.
Desequilíbrio da doutrina dos protestantes.
Nós lhes apresentamos um número incalculável de pagãos que existiram antes de Cristo ou que existem ainda hoje (milhões dos quais têm adorado o Deus verdadeiro, como os maometanos, por exemplo) pagãos estes que não chegaram a ter conhecimento da doutrina de Cristo e que têm a fé mínima, a que se refere S. Paulo na sua Epístola aos Hebreus, isto é, crêem que existe um Deus e que Êle é remunerador; quanto ao mais, nada sabem da doutrina revelada. Ora, segundo a doutrina protestante,
só a fé é que salva, as boas obras do indivíduo não vogam para a salvação.
Agora perguntamos: esta fé mínima - crer em um Deus Remunerador é suficiente para a salvação ou não?
Se é suficiente, todos esses pagãos se salvaram ou ainda se salvam, só vão para o inferno os ateus,
pois segundo os protestantes, o que salva é a fé, e não as obras. Neste caso, onde está a justiça de Deus, colocando assim no Céu a todo o mundo, indistintamente, sem nenhuma atenção à maneira de proceder de cada um? Se não é suficiente, então todos eles se condenam, mesmo que pratiquem as melhores obras deste mundo e se mostrem corretíssimos na sua maneira de proceder, pois as boas obras, segundo os protestantes, não influem na salvação. Estão esses pagãos irremediavelmente perdidos, porque sua fé é, na hipótese, insuficiente para salvar. Neste caso, onde está a justiça de Deus condenando, por não terem fé em Cristo povos inteiros que, sem culpa sua, desta fé foram privados!
Os protestantes já estão salvos aqui na terra apesar de tôdas as suas faltas e imperfeições, as quais temos todos nós humanos, quando morrem, vão diretamente para o Céu (pois os protestantes não acreditam na existência do purgatório) - mas fora do Protestantismo, são muitos os que inevitavelmente se condenam. Deus seria neste caso, não um Pai de Misericórdia, mas um Soberano evidentemente injusto e monstruoso, que predestina uns para o Céu e outros para a perdição.
Êste Deus que assim concebem os protestantes, que a inúmeros homens nega qualquer oportunidade
para se salvarem, pois para a salvação Só aceita a fé e nada mais, mas "Como crerão aquele que não ouviram? e como ouvirão se não houver quem pregue? (Romanos X-14), este Deus tão parcial que
aos protestantes dá tudo e a outros nega tudo em matéria de salvação, será o mesmo Deus da Bíblia que quer" que todos os homens se salvem "(1.u Timóteo II-4) ? que não tem acepção de pessoas (Romanos II-11, Efésios VI-9, Colossenses III-25; 1 Pedro I-17) ?
O único Mediador que eles pregam será mesmo Jesus Cristo que se deu a Si mesmo para a redenção de todos? (1.4 Timóteo II-6), Que é a propiciação dos nossos pecados e não apenas dos nossos, mas do mundo inteiro?(1 João II-2). Não há lógica, portanto, nesta matéria de doutrina da salvação, se não se admite aquilo que vimos agora mesmo a Bíblia dizer pela pena de S. PauÌo, na sua Epístola aos
Romanos: que Deus há de retribuir a cada um segundo suas obras (Romanos II-6)
Lutero pensava e ainda pensam os protestantes de hoje que se pode alterar facilmente a doutrina verdadeira que Deus deixou neste mundo e que vem sendo ensinada pela sua Igreja, a Igreja Católica.
Com a sua ampla liberdade para mexer na Bíblia e dela extrair apenas os textos que mais lhes convenham e agradem, os protestantes entenderam de tornar para si muito fácil a salvação, fazendo-a depender somente da fé, tornando-a inteiramente independente das boas obras. Mas ao mesmo tempo a tornaram impossível para os pagãos que nenhum conhecimento tiveram de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A doutrina da salvação só pela fé, sem as obras, logo se fez acompanhar da doutrina horrorosa e blasfema de que Deus predestina uns para o Céu e outros para o inferno, a qual já estava contida claramente nas obras de Lutero e foi abertamente ensinada por Calvino. Por mais que repugne a alguns modernos protestantes esta monstruosa teoria, não há como fugir a ela, na hipótese de que só a fé e nunca as obras do indivíduo é que podem influir na salvação. Aqueles a quem não chega a luz da revelação ficam assim numa situação irremediável.
No entanto, nada mais contrário ao ensino da Bíblia, segundo a qual Deus é infinitamente bom e quer salvar a todos. E é muito de admirar que os protestantes vejam perigo (de favorecer ao orgulho e à presunção) na teoria de que o homem se salva praticando boas obras - já veremos até onde existe este perigo na doutrina católica - e não vejam perigo nenhum em ensinar-se ao povo que pela fé ele iá está salvo e que as boas obras não influem nem direta nem indiretamente na salvação da nossa alma...
Depois veremos: Estranho Remédio para os males do mundo
Nenhum comentário:
Postar um comentário