quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Os Talentos

Por São João Crisóstomo



"A parábola dos talentos diz respeito a todos os homens que, em lugar de ajudarem os seus irmãos com os seus bens, os seus conselhos e outros meios, só vivem para si próprios. [...] Nesta parábola, Jesus quer revelar-nos a enorme paciência de Nosso Senhor, mas, quanto a mim, penso que também faz alusão à ressurreição geral. [...] Antes de mais, os servos que prestam contas da sua gestão reconhecem, sem hesitações, o que era dom do seu senhor e o que era fruto da sua gestão. O primeiro diz: «Senhor, confiaste-me cinco talentos» e o segundo: «Senhor, confiaste-me dois talentos»; reconhecem assim que foi graças à bondade do seu senhor que obtiveram o capital que puseram a render em seu proveito. O seu reconhecimento vai ao ponto de atribuírem todo o mérito e toda a glória do seu sucesso à confiança do seu senhor. E que responde o senhor? «Muito bem, servo bom e fiel.» E não é realmente ser bom aplicar-se a fazer o bem aos seus irmãos? [...] «Entra no gozo do teu senhor»: trata-se da bem-aventurança da vida eterna.

Mas não foi assim com o mau servo. [...] Qual foi, pois, a resposta do senhor? «Servo mau e preguiçoso! [...] Devias ter levado o meu dinheiro aos banqueiros» quer dizer, devias ter falado, exortado, aconselhado os teus irmãos. Mas, replica talvez o servo, as pessoas poderiam não me escutar. Ao que o senhor responde: Isso não te diz respeito. [...] Podias, pelo menos ter depositado esse dinheiro para que eu o recebesse com juros quando regressasse. Esses juros designam as boas obras que procedem da escuta da Palavra que devemos anunciar. Devias ter feito a parte mais fácil do trabalho, deixando a mais difícil a meu cargo. [...] Que significa isto? Aquele que recebeu, a bem dos outros, a graça da palavra e do ensinamento e não fez uso deles verá essa graça ser-lhe tirada. Mas aquele que oferece a graça que recebeu com zelo e sabedoria receberá uma graça ainda mais abundante"

São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre o Evangelho de Mateus, nº 78, 2-3; PG 58, 713-714

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