domingo, 25 de novembro de 2012

Cristo Rei do Universo


Por João Paulo II



" No calendário litúrgico pós-conciliar ligou-se a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo com o último domingo do ano eclesiástico. E está bem assim. De facto a verdade da fé que queremos manifestar e o mistério que queremos viver encerram, em certo sentido, cada dimensão da história, cada etapa do tempo humano, e abrem, ao mesmo tempo, a perspectiva de um novo céu e de uma nova terra (Apoc. 21, 1), a perspectiva de um reino que não é deste mundo (Jo. 18, 36). 

É possível que se entenda erradamente o significado das palavras sobre o «Reino» pronunciadas por Cristo diante de Pilatos — ou seja: sobre o reino que não é deste mundo. Todavia o contexto singular do acontecimento, em cujo âmbito elas foram pronunciadas, não permite compreendê-las assim. Devemos admitir que o Reino de Cristo, graças ao qual se abrem diante do homem as perspectivas extraterrestres, as perspectivas da eternidade, forma-se no mundo e no tempo. Portanto, forma-se no próprio homem através do testemunho da verdade (Ibid. 18, 37). que Cristo deu naquele momento dramático da sua Missão messiânica: perante Pilatos, perante a morte na cruz, pedida ao juiz pelos seus acusadores. Portanto, a nossa atenção deve incidir não apenas sobre o momento litúrgico da solenidade de hoje, mas também sobre a surpreendente síntese de verdade que esta solenidade exprime e proclama.[...]

 Jesus Cristo é «a Testemunha fiel» (Cfr. Apoc. 1, 5), como afirma o Autor do Apocalipse. É «a Testemunha fiel» do domínio de Deus na criação e, sobretudo, na história do homem. De facto Deus, como criador e, ao mesmo tempo, como Pai, formou o homem, desde o início. Por isso está Ele, como Criador e como Pai, sempre presente na sua história. Tornou-se não apenas o Princípio e o Fim de todo o criado, mas também o Senhor da história e o Deus da Aliança: Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do Universo (Apoc. 1, 8).
Jesus Cristo — «Testemunha fiel» — veio ao mundo precisamente para dar testemunho desta verdade.
A Sua vinda no tempo! — quão concretamente e de modo sugestivo a preanunciaria o profeta Daniel na sua visão messiânica, falando na vinda de um filho de homem (Dan. 7, 13) e delineando a dimensão espiritual do Seu reino nestes termos: Foi-Lhe entregue o domínio, a majestade e a realeza, e todos os povos, nações e línguas O serviram. O Seu domínio é domínio eterno, que não passará jamais, e a Sua realeza não será destruída (Ibid. 7, 14). É assim que o profeta Daniel, provavelmente no século VI, viu o reino de Cristo antes de Ele ter vindo ao mundo.

Aquilo que se passou diante de Pilatos na sexta-feira antes da Páscoa permite-nos expurgar a imagem profética de Daniel de qualquer associação imprópria. De facto o «Filho do homem» mesmo responde à pergunta que lhe fez o governador romano. Esta resposta manifesta-se deste modo: O Meu Reino não é deste mundo. Se o Meu Reino fosse deste mundo, os Meus guardas lutariam, para que eu não fosse entregue aos Judeus. Mas, de facto, o Meu Reino não é aqui (Jo. 18, 36).
Pilatos, representante do poder exercido em nome da poderosa Roma sobre o território da Palestina, homem que pensa segundo as categorias temporais e políticas, não entende tal resposta. Por isso pergunta pela segunda vez: Logo, Tu és Rei? (Ibid. 18, 37).
Também Cristo responde pela segunda vez. Como na primeira explicou em que sentido não era rei, assim agora, para responder totalmente à pergunta de Pilatos e, ao mesmo tempo, à pergunta de toda a história da humanidade, de todos os soberanos e de todos os políticos, responde assim: Sou Rei. Se nasci, se vim a este mundo, foi para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz (Cfr. ibid.).Esta resposta, em ligação com a primeira, exprime toda a verdade sobre o Seu reino; toda a verdade sobre Cristo Rei.

 Nesta verdade se encerram, igualmente, as ulteriores palavras do Apocalipse, com as quais o Discípulo amado completa, de certo modo e à luz do colóquio que teve lugar Sexta-feira Santa na residência de Pilatos em Jerusalém, o que, em tempos, tinha escrito o profeta Daniel. São João anota: Ei-1'O que vem entre as nuvens (assim se exprimira já Daniel). Todos o verão com os seus próprios olhos, até aqueles que O transpassaram ... Sim. Ámen! (Apoc. 1, 7). Precisamente: Amen. Esta única palavra autentica, por assim dizer, a verdade sobre Cristo Rei. Ele não é apenas «a Testemunha fiel», mas também o Primogénito dos mortos (Ibid. 1, 5). E se é o Soberano da terra e daqueles que a governam — o Soberano dos reis da terra (Ibid.) — é-o por isto, sobretudo por isto, e definitivamente por isto: porque nos ama e, pelo Seu Sangue, nos libertou do pecado e fez de nós um Reino de sacerdotes para o Seu Deus e Seu Pai (Ibid. 1, 5-6).Eis a plena definição desse reino, eis toda a verdade sobre Cristo Rei. 

Viemos hoje a esta Basílica para aceitar esta verdade uma vez mais, com os olhos da fé inteiramente abertos e com o coração pronto a dar a resposta. Pois esta é verdade que exige, de modo particular, uma resposta. Não apenas a compreensão. Não apenas a aceitação por parte da inteligência, mas resposta que nasça de toda a vida.[...]

 Cristo foi elevado na cruz como um Rei singular: como a eterna Testemunha da verdade. Se nasci, se vim a este mundo, foi para dar testemunho da verdade . Este testemunho é a medida das nossas obras. A medida da vida. A verdade por que Cristo deu a vida — e que confirmou com a ressurreição — é o princípio fundamental da dignidade do homem. 

O reino de Cristo manifesta-se, como ensina o Concílio, na «realeza» do homem. É necessário que, a esta luz, nós saibamos participar em todas as esferas da vida contemporânea e saibamos formá-la. Nos nossos tempos não faltam, de facto, propostas dirigidas ao homem, não faltam programas que se apregoa fomentarem o seu bem. Saibamos relê-los à luz da plena verdade sobre o homem, da verdade confirmada com as palavras e com a cruz de Cristo! Saibamos discerni-los bem! Concorda aquilo que declaram com a medida da verdadeira dignidade do homem? A liberdade que proclamam favorece a realeza do ser criado à imagem de Deus ou, pelo contrário, prepara a privação ou restrição dela? 

Por exemplo: servirão a verdadeira liberdade do homem ou exprimirão a sua dignidade, a infidelidade conjugal, mesmo que sancionada pelo divórcio, ou a inconsciência da responsabilidade pela vida concebida, embora a técnica moderna ensine como desembaraçar-se dela? Com certeza, nenhum permissivismo moral se baseia na dignidade do homem, nem educa o homem para ela.[...]

Cristo, num certo sentido, está sempre diante do tribunal das consciências humanas, como se encontrou uma vez diante do tribunal de Pilatos. Ele revela-nos sempre a verdade do seu reino. E sempre se enfrenta com a pergunta, vinda de muitos lados: Que é a verdade?(Ibid. 18, 38).
Por isso, esteja Ele ainda mais perto de nós. Esteja o seu reino cada vez mais em nós. Retribuamos-Lhe com o amor a que nos chamou — e n'Ele amemos cada vez mais a dignidade de cada homem!
Seremos então verdadeiros participantes da Sua missão. Tornar-nos-emos apóstolos do Seu reino"

Fonte: AQUI


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