segunda-feira, 20 de maio de 2013

Apostolado




" Contemplemos a facilidade com que a Virgem Santa nos dá o seu filho Jesus. É o seu gesto habittual, familiar. Mal um velhinho o deseja, logo ela lho entrega de bom grado. Está sempre disposta a da-lo. Façamos como ela: demos Jesus pela oração, pelo sacrificio, pelo bom exemplo, por uma palavra, pelo desejo interior.

—Quando estivermos em contacto com o próximo, oremos interiormente, peçamos ao Senhor que se dê: que esta alma com quem falo o ame acima de tudo, o sirva mais generosamente... Só há um meio de amar as almas: é querer-lhes bem, o seu único Bem, dando-lhes Cristo. Para isso, imitemos as virtudes da Virgem Santa: amor, devoção, esquecimento de si: privemo-nos de Cristo para o darmos aos outros

Antes de ensinar os outros a amar a Deus, devemos começar por O amar. Como podemos dá-lo, se não o possuímos? Fazemos o bem na medida da nossa união com Jesus. Nem sempre reparamos nisso, mas é assim. Quando somos bruscos e duros, não é Jesus que atua em nós. Pelo contrário, repreende-nos: Vós não sabeis de que espírito sois?

Nunca nos impacientemos. A impaciência é sempre uma falta.

Para fazer bem as almas, é preciso ter o coração espiritual intima e continuamente unido a Deus. Quanto mais se é instrumento, ligado, apertado, por um movimento voluntário ao agente principal, mais bem se faz, melhor se faz esse bem, e com mais proveito próprio. A ação é, então, uma contemplação contínua. Vemos a obra, vemos o Obreiro, vemo-nos entre os dois, felizes pelo bem que passa por nós, felizes, sobretudo, por nos sentirmos nas mãos d'aquele que é bom e nos faz comungar na sua bondade.
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—Pensemos que estamos a cumprir um dever, o primeiro de todos depois do dever de amar a Deus, e cumpramo-lo por amor, pois é o amor que dá valor a tudo, ao copo de água fresca como ao sacrifício da vida.

Os que são dotados duma certa força de pensamento ou de imaginação estao expostos a quererem fazer entrar a bem ou a mal os homens, as idéias, as coisas, nos quadros rigidos dos seus conceitos ou das suas imagens. Esses devem, antes de tudo, perguntar a si proprios se esses quadros estão de acordo com a realidade e, depois, o que é mais importante, certificar-se de que os homens estão preparados para os aceitar. A verdade e difícil de dizer... sem preparacao.

Há uma arte de conduzir as almas a Verdade. É a caridade que no-la ensina: ela dá-nos a conhecer as disposições da pessoa com quem falamos e leva a nossa inteligencia a encontrar o caminho por onde a Verdade poderá ser revelada àquela alma

O amor ensina-nos a sair de nós próprios: torna-nos semelhantes Àquele que amamos; permite, assim, à inteligência conhece-lo como se o víssemos por dentro. Uma vez no interior, vemos melhor como agir para lá fazer entrar a Verdade, e é a verdade que nos liberta.

Depois de sabermos ganhar, pela bondade, as simpatias da alma, voltamo-la pouco a pouco, suavemente, para a Verdade; ela habitua gradualmente os seus pobres olhos a esta benfazeja luz, e acaba por ser capaz de a fixar a direito e de sustentar o seu brilho.

Caritas patiens est (1 Cor., XIII, 4)—Facientes veritatem in caritate (Ef, IV,15).

O melhor objetivamente não é sempre o melhor para esta ou aquela alma. Deus quer almas que rezem e que sofram, especialistas da oração e do sofrimento, mas quer tambem especialistas do apostolado. O que importa é saber o que Deus quer de nós em concreto.

Devemos estabelecer-nos firmemente na vida interior, compreender-lhe a necessidade, o mecanismo e a riqueza. Então, poderemos voltar-nos para a ação porque a vemos com outros olhos, a queremos por razoes mais puras, a realizamos sem abandonar a íntima uniao com Deus. É entao a vida mista, a verdadeira.

Não nos demoremos a olhar para o mal que há no mundo; é preciso semear sempre; orações, obras, sacrifícos. Entreguemos todos os outros cuidados a Deus. Se fossemos melhores, o mundo nao seria tão mau.

A maneira como respondemos às confidencias basta para fazermos compreender que temos experiência pessoal do sofrimento: fazermos as nossas em troca diminui-nos, muitas vezes, aos olhos do próximo e nao lhe traz nenhuma vantagem; pelo contrário.

Não falemos de nós; isso só pode ser prejudicial; pelo contrario, façamos tudo para passarmos despercebidos. As almas que sofrem tem necessidade sobretudo que se lhes fale delas e, ainda mais, de Deus. O nosso apostolado será tanto mais fecundo quanto melhor praticarmos o recolhimento e o abandono; renuncia constante nas pequenas coisas: Queremos passar sempre ao lado dos caminhos traçados pelo Mestre.

Quando amarmos muito a Deus, seremos indulgentes para com os outros; mas não antes. Se Nosso Senhor nos tratasse segundo o nosso valor, seríamos bem infelizes!

Deve-se responder às confidências das almas duma maneira impessoal; falar-lhes, principalmente, delas e de Deus. As almas não tem todas a mesma vocação; para que duas sensibilidades estejam perfeitamente em uníssono, é necessária, além duma harmonia natural, que é raríssima, uma harmonia de alma mais rara ainda: Jesus e Maria - Isto deve fazer-nos compreender as censuras injustas dos que vivem só para o mundo (não tem os mesmos pontos de vista). E deve fazer-nos compreender também como é que a autêntica caridade, depois de ter vencido todo o egoísmo, sabe verdadeiramente falar a linguagem do coração.

Esperemos para falar de Deus com certa profundidade, que uma espécie de indicação da graça nos autorize a faze-lo. Devemos ver, também, com quem falamos; não há duas almas idênticas. Devemos ser apóstolos quando Deus quer e como Ele quer. E nessa altura sê-lo com simplicidade.

Fonte: Princípios da Vida Interior de Robert de Langeac - Quadrante

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