quarta-feira, 1 de maio de 2013

Os auxílios divinos



A graça atual é um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e fortalecer a vontade na produção dos atos sobrenaturais.

a) Opera, diretamente sobre as nossas faculdades espirituais, a inteligência e a vontade, não já unicamente para elevar essas faculdades à ordem sobrenatural, senão para as pôr em movimento, e lhes fazer produzir atos sobrenaturais.

Demos um exemplo: antes da justificação, ou infusão da graça habitual ou santificante, a graça atual ilumina-nos acerca da malícia e dos temerosos efeitos do pecado, para nos levar a detestá-lo. Depois da justificação, mostra-nos, à luz da fé, a infinita beleza de Deus e a sua misericordiosa bondade, a fim de no-lo fazer amar de todo o coração.

b) Mas, a par destas graças interiores, há outras que se chamam exteriores, e que, atuando diretamente sobre os sentidos e faculdades sensitivas, atingem indiretamente as nossas faculdades espirituais, tanto mais que muitas vezes são acompanhadas de verdadeiros auxílios interiores.

Assim, a leitura dos Livros Santos ou duma obra cristã, a assistência a um sermão, a audição dum trecho de música religiosa, uma conversa boa são graças exteriores; é certo que, por si mesmas, não fortificam a vontade; mas produzem em nós impressões favoráveis, que movem a inteligência e a vontade e as inclinam para o bem sobrenatural.

E por outro lado Deus acrescentar-Ihes-á muitas vezes moções interiores, que, iluminando a inteligência e fortificando a vontade, nos ajudarão poderosamente a nos convertermos ou tornarmos melhores. É o que podemos concluir daquela palavra do livro dos Atos dos Apóstolos, que nos mostra o Espírito Santo abrindo o coração duma mulher chamada Lídia, para que ela preste atenção à pregação de São Paulo.

Enfim, Deus, que sabe que nós nos elevamos do sensível ao espiritual, adapta-se à nossa fraqueza, e serve-se das coisas visíveis, para nos levar à virtude.

A vida de batizado consiste em: 

Assegurar o estado de graça e explora-la ao máximo.

1 – Assegurar o estado de graça em si mesmo:

Consiste em fugir de pecado e toda ocasião de o encontra-lo. Haveremos de travar uma guerra entre a “carne”e o “espírito”, para fazer vencer o homem novo renascido em Cristo. O que o Espírito Santo realiza, a partir do momento que veio habitar em nós, pelo Batismo, é predominar as potências espirituais, a vontade racional esclarecida e ajudada pela fé. Se permaneço fiel, na terra, esta vida florescerá no Céu – “Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus dos mortos, habita em vós, Ele, que ressuscitou à Jesus, também fará reviver os nossos corpos mortais graças ao seu Espirito que habita em vós”.

Ele nos dá a cada dia, forças para lutar e nos conduz à libertação quando nos ajuda a sacudir o que nos arrastaria ao mal. Para tanto, é preciso que vivamos com prudência para prevenir qualquer ataque, seja do mundo, da carne ou do demônio, que nos quer aliciar e matar para Deus. O divino Espirito nos adestra para a guerra a fim de poder repeli-los.

A vida em estado de graça deve ser nossa meta, para que não sejamos surpreendidos pela morte em estado de pecado, com todas as suas consequências. Esta vida em estado de graça é que nos fará “merecer”estar diante de Deus. Com ela, nosso labor, nossas dores, nossas renúncias, nossas provações, terão repercussão no céu e nos fará ajuntar um tijolinho para ele.

2 – Explora-la ao máximo, com os auxílios de Deus e minha vontade racional bem formada pela doutrina e pela graça.

Para explora-la, devemos entender que não se trata só de uma parte negativa: não ter pecados mortais na consciência, mas também de alguma coisa muitíssimo positiva: a presença de uma Hóspede ilustre e santo em mim – doce hóspode da alma. "Se Ele é aquele que guia, santifica e que habita no Batizado, deve ser então “nosso” Mestre e nosso guia. – “É pela “intimidade”da Sua união com Ele que medem os seus progressos de santidade” - (La Divinisation du Chrétien – Pe. P. Ramiére, pag. 218)

O que temos que entender é que a vida da graça deve ser contínua, já que se trata de intimidade e este hóspede habita e convive conosco. Jesus nos alertava sobre esta presença santa que deve ser cultivada com toda solicitude e amor, se alguém vive em estado de graça, “meu Pai o amará, e nós viremos a ele, e faremos nele a nossa morada”(São João, XIV, 23). Ora, não haveremos nós de deixarmos limpo este aposento para tão ilustre hóspede, não preparemos nós a morada de nosso coração para Deus, tirando dele toda imundície das más obras?
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Devemos procurar o Senhor não somente no tempo da compunção, mas também no tempo da tentação e muito mais neste, já que é exatamente nele que poderemos perder o santo dentro de nós. Para isso, é exigido decisão de mudança e de perseverança. Temos que estar dispostos a evitar e rejeitar “tudo”, para não perder o estado de graça.

Concílio de Trento:

Cap. X - Do incremento da salvação obtida:

Os que conseguiram a salvação e assim tornados amigos e íntimos de Deus, caminhando de virtude em virtude, se renovam como diz o Apóstolo, dia após dia. Assim é, que mortificando sua carne e servindo-se dela como instrumento para salvação e santificação mediante à observância dos mandamentos de Deus e da Igreja, crescem na mesma santidade que conseguiram pela graça de Cristo, e auxiliando a fé com as boas obras, se salvam cada vez mais, segundo o que está escrito: "Aquele que é justo, continue em sua salvação". Em outra parte: "Não te receies da salvação até a morte". Também: "Bem sabeis que o homem se salva por suas obras, e não só pela fé".

Este é o aumento de santidade que pede a Igreja quando roga: "Concedei, ó Senhor, aumentar a nossa fé, esperança e caridade".

Cap. XIV - Dos justos que caem em pecado e de sua reparação
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Os que tendo recebido a graça da salvação, a perderam por pecado, poderão novamente salvar-se pelos méritos de Jesus Cristo, procurando, estimulados com o auxílio divino, recobrar a graça perdida, mediante o sacramento da Penitência.

Este modo de salvação é a reparação ou restabelecimento daquele que caiu em pecado, a mesma que com muita propriedade foi chamada pelos Padres de segunda tábua (apoio de salvação) depois do naufrágio da graça que perdeu.

Assim sendo, para aqueles que, depois do batismo, caírem em pecado, foi estabelecido por Jesus Cristo o sacramento da Penitência, quando disse: "Recebei o Espírito Santo, e àqueles a quem perdoares os pecados, ficarão perdoados, e àqueles a quem não perdoares, não serão perdoados".

Por isto, se deve ensinar que é muito grande a diferença entre a penitência do homem cristão depois de sua queda, e o batismo, pois a penitência não somente inclui a separação do pecado e sua renegação, ou o coração contrito e humilhado, mas também a confissão sacramental dos pecados, ao menos em desejo de fazê-la no devido tempo, e a absolvição dada pelo sacerdote, e também a satisfação por meio de ajudas, esmolas, orações e outros exercícios piedosos da vida espiritual. Não da pena eterna, pois esta se perdoa juntamente com a culpa, pelo sacramento, ou por seu desejo, senão pela pena temporal que segundo ensina a Escritura, não sempre como sucede no batismo, é totalmente perdoado àqueles que ingratos à divina graça que receberam, entristeceram o Espírito Santo, e não se envergonharam de profanar o templo de Deus.

Desta penitência é que diz a Escritura: "Lembre-se de qual estado você caiu: faça penitência e executa as boas obras". E também: "A tristeza de haver pecado contra Deus, produz uma penitência permanente para conseguir a salvação". E ainda: "Fazei penitência e fazei frutos dignos de penitência".

Como age a graça atual?

a) A graça atual influi sobre nós, de modo juntamente moral e físico: moralmente, pela persuasão e pelos atrativos, à maneira da mãe que, para ajudar o filho a andar, suavemente o chama e atrai, prometendo-lhe uma recompensa; fisicamente, acrescentando forças novas às nossas faculdades, demasiado fracas para operar por si mesmas; tal a mãe que toma o filho nos braços e o ajuda não somente com a voz, senão também como gesto, a dar alguns passos para a frente.

b) Sob outro aspecto, a graça previne o nosso livre consentimento ou acompanha-o na realização do ato.

Assim, por exemplo, vem-me o pensamento de fazer um ato de amor de Deus, sem que eu tenha feito alguma para o suscitar: é uma graça preveniente, um bom pensamento que Deus me dá; se a recebo bem e me esforço por produzir esse amor, faço-o com o auxílio da graça adjuvante ou concomitante.

Análoga a esta distinção é a graça operante, pela qual Deus atua em nós sem nós, e a da graça cooperante, pela qual Deus atua em nós e conosco, com a nossa livre cooperação.

Sua necessidade

O princípio geral é que a graça atual é ncessária para todo o ato sobrenatural, pois que deve haver proporção entre o efeito e o seu princípio. Assim, quando se trata da conversão, isto é, da passagem do pecado mortal ao estado de graça, temos necessidade duma graça sobrenatural, para fazer os atos preparatórios de fé, esperança, penitência e amor, e até mesmo para o começo da fé, para aquele pio desejo de crer que é o seu primeiro passo.

É também pela graça atual que perseveramos no bem no decurso vida e até à hora da morte.

A graça atual é-nos, pois necessária, ainda mesmo depois da justificação, e eis o motivo por que os nossos Livros Santos insistem tanto sobre a necessidade da oração, pela qual se obtém essa graça da misericórdia divina,.

Também a podemos obter pelos nossos atos meritórios, ou, por outros termos, pela nossa livre cooperação com a graça; é que, na verdade, quanto mais fiéis nos mostrarmos em aproveitar as graças atuais que nos são distribuídas tanto mais inclinado se sente Deus a nos conceder novas mercês.

É necessário sabermos que temos de cumprir todos os deveres; e o esforço enérgico, constante, que este cumprimento requer, não se pode sem o auxílio da graça: Aquele que em nós começou a obra da perfeição, é o único que a pode levar a bom termo «o Deus de toda a graça, que nos chamou em Jesus Cristo à sua eterna glória, depois de haverdes padecido um pouco, Ele mesmo nos aperfeiçoará, fortificará e consolidará»( IPe 5,10)

Isto é sobretudo verdade, tratando-se da perseverança final que é um dom especial e um grande dom: morrer em estado de graça, a despeito de todas as tentações que nos vêm assaltar no último momento ou escapar a essas lutas por meio de morte súbita ou suave, em que a alma adormece no Senhor, é, na expressão dos Concílios, a graça das graças, que não se poderá nunca pedir demasiadamente, que não se pode merecer estritamente, mas que se pode obter pela oração e fiel cooperação com a graça.

Fonte: Tanquerey.

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