sexta-feira, 31 de maio de 2013

Visita de Maria à Santa Izabel

Por Bento XVI


"Na hodierna festa da Visitação, a liturgia faz-nos ouvir de novo o trecho do Evangelho de Lucas, que narra a viagem de Maria de Nazaré à casa da sua idosa prima Isabel. Imaginemos o estado de espírito da Virgem a seguir à Anunciação, quando o Anjo a deixou. Maria encontrou-se com um grandioso mistério encerrado no seu ventre; Ela sabia que tinha acontecido algo de extraordinariamente singular; dava-se conta de que tinha encetado o último capítulo da história da salvação do mundo. Mas ao seu redor tudo tinha permanecido como antes, e a aldeia de Nazaré desconhecia completamente o que lhe tinha acontecido.

No entanto, antes de se preocupar consigo mesma Maria pensa na sua prima Isabel, que ela sabia que estava em estado de gravidez avançada e, impelida pelo mistério de amor que tinha acabado de receber em si mesma, põe-se a caminho "à pressa" para ir levar-lhe a sua ajuda. Eis a grandeza simples e sublime de Maria! Quando chega à casa de Isabel, acontece algo que nenhum pintor jamais poderá representar com a beleza e a profundidade da sua realização. A luz interior do Espírito Santo envolve as suas pessoas. E, iluminada do Alto, Isabel exclama: "Bendita és Tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! Como posso merecer que a Mãe do meu Senhor me venha visitar? Logo que a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre. Bem-Aventurada Aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu" (Lc 1, 42-45).

Estas palavras poderiam parecer-nos desproporcionadas em relação ao contexto real. Isabel é uma das numerosas mulheres idosas de Israel, e Maria uma jovem desconhecida de um povoado perdido da Galileia. O que elas podem ser e o que podem realizar num mundo onde contam outras pessoas e são importantes outros poderes? Todavia, Maria surpreende-nos mais uma vez; o seu coração é límpido, totalmente aberto à luz de Deus; a sua alma está sem pecado, não se encontra sobrecarregada pelo orgulho nem pelo egoísmo.

 As palavras de Isabel fazem brotar no seu espírito um cântico de louvor, que é uma autêntica e profunda leitura "teológica" da história: uma leitura que nós temos que aprender continuamente dela, cuja fé está desprovida de sombras e sem manchas. "A minha alma proclama a grandeza do Senhor". Maria reconhece a grandeza de Deus. Este é o primeiro sentimento indispensável da fé; o sentimento que oferece segurança à criatura humana e que a liberta do medo, mesmo no meio das tempestades da história.

Indo para além da superfície, Maria "vê" a obra de Deus na história com os olhos da fé. Por isso é bem-aventurada, porque acreditou: com efeito, pela fé Ela acolheu a palavra do Senhor e concebeu o Verbo encarnado. A sua fé levou-a a descobrir que os tronos de todos os poderosos deste mundo são provisórios, enquanto o trono de Deus é a única rocha que não muda e não cai. À distância de séculos e de milénios, o Magnificat permanece a mais verdadeira e profunda interpretação da história, enquanto as leituras feitas por inúmeros sábios deste mundo foram desmentidas pelos acontecimentos ao longo dos séculos.

Prezados irmãos e irmãs! Voltemos para casa com o Magnificat no nosso coração. Tenhamos em nós os mesmos sentimentos de louvor e de acção de graças de Maria em relação ao Senhor, a sua fé e a sua esperança, o seu dócil abandono nas mãos da Providência divina. Imitemos o seu exemplo de disponibilidade e de generosidade no serviço aos irmãos. Com efeito, somente acolhendo o amor de Deus e fazendo da nossa existência um serviço abnegado e generoso ao próximo poderemos elevar com júbilo um cântico de louvor ao Senhor. Que nos alcance esta graça Nossa Senhora, que nesta tarde nos convida a encontrar refúgio no seu Coração Imaculado. Concedo a todos vós a minha Bênção.

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