Por Orlando Figes
Livro: Sussurros
Resumo de uma parte do Capítulo: Crianças de 1917.
"Declarou Stalin em 1926: 'As atitudes e os hábitos que herdamos da antiga sociedade são os inimigos mais perigosos do socialismo'. Anatoly Lunacharsky escreveu em 1927: ' A dita esfera da vida privada não pode nos escapar, porque é precisamente nela que o objetivo final da revolução deve ser alcançado'.
A família foi a primeira arena na qual os bolcheviques começaram a luta. Na década de 1920, eles consideravam a nocividade social da 'família burguesa' uma verdade inquestionável: ela olhava para dentro de si própria e era conservadora, uma fortaleza da religião, da superstição, da ignorância e do preconceito; ela fomentava o egotismo e as aquisições materiais, além de oprimir mulheres e crianças.
Os bolcheviques esperavam que a família desaparecesse conforme a Rússia se desenvolvesse até se transformar em um sistema totalmente socialista, no qual o Estado assumiria a responsabilidade por todas as funções básicas do lar, oferecendo creches, lavanderias e refeitórios em centros públicos e em prédios residenciais. Liberadas do trabalho em casa, as mulheres ficariam livres para ingressar na força de trabalho em um nível igual ao dos homens. O casamento patriarcal, com suas correspondentes morais sexuais, morreria - para ser substituído, acreditavam os radicais, por 'uniões livres de amor'.
Para os bolcheviques as famílias eram o maior obstáculo à socialização das crianças. 'Por amar a criança, a família a torna um ser egotista, encorajando-a a ver-se como o centro do universo', escreveu a pensadora educacional soviética. Teóricos bolcheviques concordavam com a necessidade esse amor egotista pelo amor racional de uma 'família social'mais ampla. O ABC do comunismo (1919) vislumbrava uma sociedade futura na qual os pais deixariam de utilizar a palavra 'eu'em referência a um filho, pois se importariam com todas as crianças na comunidade.
Para acelerar a desintegração da família várias estratégias foram tomadas, como forçar as famílias ricas a dividirem seus apartamentos com os pobres urbanos. Os proprietários ocupavam os cômodos principais, enquanto os quartos dos fundos eram ocupados por outras famílias. A política tinha um apelo ideológico forte não somente como uma guerra contra o privilégio, como foi apresentada na propaganda do novo regime: 'Guerra contra os palácios!, mas também como parte da cruzada para projetar um modo de vida mais coletivo.
Para eles, desaparecendo o espaço e a propriedade privada, a família individual burguesa, seria substituída pela fraternidade e por oraganizações comunistas e a vida do indivíduo passaria a ser imersa na comundade.
A partir da metade da decada de 1920 os arquitetos construtivistas propuseram a obliteração completa da esfera privada construindo 'casas comunais', nas quais toda a propriedade, incluindo roupas e roupas intimas seriam compartilhadas, onde tarefas domésticas seriam designadas rotativamente a grupos e onde todos dormiriam em um grande dormitório, dividido por gênero, com quartos particulares para práticas sexuais.
O Novo Código da Casamento e da Família (1918) estabeleceu uma estrutura legislativa que visava claramente facilitar a ruptura da família tradicional, removendo a influência da Igreja sobre o casamento e o divórcio, tornando-os simples processos de registro com o Estado, e assegurando direitos legais iguais aos casamentos de facto (casais vivendo juntos) e aos casamentos legais. O Código tornou o divórcio acessível para todos. Resultado: maior indice de divorcios do mundo - à medida que o colapso da ordem cristã - patriarcal e o caos dos anos revolucionarios afrouxaram a moral sexual e os laços familiares e comunais.
Nos primeiros anos do poder soviético, a ruptura familiar era tão comum entre os ativistas revolucionários que quase constituía um risco do trabalho. Relações casuais eram praticamente a norma nos círculos bolcheviques, quando qualer camarada podia ser enviado de uma hora para outra para algum setor diante do front.
Os ativistas do partido e os jovens participantes da Liga Jovem Comunista eram ensinados a colocar o o compromentimento com o proletariado acima do amor romântico ou da família. A promiscuidade sexual era mais acentuada nos escalões jovens do que entre a juventude soviética de modo geral. Muitos viam a licença sexual como uma forma de libertação de convenções morais burguesas e um sinal da " modernidade soviética". Alguns até defendiam a promiscuidade como um modo de reagir à formação de relações burguesas bígamas que separavam os amantes do coletivo e os afastavam da lealdade do Partido.
Era comum que os bolcheviques fossem maus pais e maridos porque a exigências do patido os afastavam de casa. " Nós comunistas, não conhecemos nossas próprias famílias", observou um bolchevique de Moscou." Você sai cedo e chega tarde em casa. Você vê a esposa raramente e quase nunca vê os filhos"
Depois continuamos.
Na foto abaixo vemos crianças que sofreram os horrores do comunismo, com sua fome e suas desgraças. No comunismo todo mundo é igual, na miséria e na fome. Que Deus tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro.
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