Desde o princípio da pregação, nos primeiros tempos do Cristianismo, nasceram duas fontes de graça na Igreja visível para cercar as almas em conformidade com a diversidade em suas naturezas. E essas duas fontes são a Igreja dos Sacramentos e a Igreja dos carismas - os bispos e os monges.
Nos momentos mais difíceis da história eles se ampararam e trocaram entre si seus dons e é por isso que hoje os padres não se casam e os monges se ordenam. A Igreja dos Bipos é a Hierarquia que tem o centro em Roma, na Cátedra de Pedro, e pastoreia dispensando às almas o Sacramento e o Magistério.
A Igreja dos monges, enquanto sómente monges, é formada da comunidade que milita sob uma regra na unidade do Espírito Santo: seu papel no mundo é o exemplo ontológico, concreto, duma antecipação do Reino, da Jerusalém celeste. Vivem à espera do Senhor com cintos apertados e as lâmpadas acesas. Por isso pode-se também dizer que sua função no mundo é cantar a Esperança.
O mundo amanhã, que mal entrevemos nessa aurora de sangue, ou voltará a Cristo ou se perderá. A última colheita dos eleitos ficará então entregue à cólera paternal do Rei que manda buscar com violência os convivas nos caminhos. Mas o mundo só poderá voltar ao Cristo substancialemente, isto é, ao Cristo e não essa aquarela esbatida que chamam de civilização cristã.
E duas coisas aparecem com uma urgência insofismável para que essa volta seja realmente uma volta cristã e para que ela seja possível. É preciso insistir, ensinar, restaurar a firmeza de pedra, de Pedro, na objetividade Sacramental do Catolicismo; e também, e principalmente se é verdade que o mundo sofre perticularmente de desespero, é preciso colocar o monaquismo na sua base antiga, paulina, para que os povos inebriados tenham u exemplo de unidade e ouçam o cando da Esperança.
O Evangelho de João não tem como o de Mateus uma longa mensagem de esperança. No Evangelho de João a esperança entra pelo amor e começa logo com as núpcias de Caná. É muito mais tarde, já nas vésperas da Paixão, Jesus diz aos discípulos: ' Ainda um pouco de tempo e vós não me vereis; depois, ainda um pouco de tempo, ver-me-eis novamente'.
Os discípulos O interrogaram sobre esse modicum , esse " ainda um pouco de tempo" e Jesus lhes promete uma alegria que ninguém lhes poderá tirar. A esperança nesse Evangelho está abraçada à caridade e as palavras de Jesus procuram conter no amor a impaciência cristã.
O Homem de Deus também é impaciente, ms em relação ao hóspede que tarda.´É impaciente na parusia, mas paciente no cotidiano. Estamos no tempo, mas não somos do tempo. E como estamos no tempo, somos pacientes; e como não somos do tempo, somos impacientes.
O cristão é realmente segundo a esperança, vigilante como um soldado e confiante como a criança. Cuidadoso como um soldado que o Rei mandou vigiar os confins de seu Império, e descuidado como uma criança que dorme. Nossa impaciência é amorosa porque queremos conhecer os nomes de filhos que nos estão guardados na eternidade; mas nossa paciência ainda é mais amorosa porque é com ela que participamos na Paixão do Senhor.
Somos impacientes como crianças, pacientes como soldados. Impacientes como noivos e pacientes como noivos. Não há conflito ou paradoxo entre a parusia e o cotidiano, como os há entre a parusia e o cotidiano, como não os há entre o enxoval e as núpcias. Há ainda um pouco de tempo...
O tempo já não é nosso inimigo porque, se tem a medida duma separação, tem também a medida duma solicitude , e assim sacralizado na Liturgia, é instrumento de Redenção.
Os anos entram e saem nos arrastando para as idades que o mundo ridiculariza; passam novos solstícios e novos plenilúnios, enquanto a Penélope paciente parece tecer e desmanchar como uma louca diante dos olhos dos pretendentes. Dizem que os ciclos do Natal e Páscoa giram monotamente em torno dum sol alheio e distante.
Mas a Esposa paciente que gira a roca e maneja o fuso tem ouvidos finos e ouve os passos do Bem_Amado que vem correndo pelos montes. Curva-se mais sobre o pano que tece, vigia com mais zelo o óleo de sua lâmpada. Ainda um pouco de tempo, ainda um pouco de tempo...
Os monges, soldados que vigiam e crianças que cantam, curvam-se sobre a imensa tapeçaria litúrgica que paramenta os séculos, e retomam o fio: Advento, Natal, Páscoa; e recomeçam cada dia: Vésperas, Matinas, Laudes; atentos como soldados, confiantes como crianças.....
E a Esposa de ouvidos finos ouve os passos do Bem- Amado que vem correndo pelos montes. Ele aí vem! E cedendo à impaciencia apaixonada que nada mais pode conter, suspende ummomento o fuso, para um instante a roca, esquece a lâmpada, e grita dentro do coração:
- Vinde, Senhor Jesus, vinde! Maranata!
Fonte: a Descoberta do Outro - pags 160 a 163.
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