quarta-feira, 15 de julho de 2009

Música na Missa



Palavras do então Cardeal Ratzinger extraídas do livro "A Fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga", no qual este foi entrevistado pelo jornalista italiano Vittorio Messori. São palavras do capítulo IX ("Liturgia, entre o antigo e o novo"), pp. 95-97:

Sons e arte para o Eterno

- Encontra aqui seu ponto de referência uma conversa sobre a música sacra, aquela música tradicional do Ocidente católico, para a qual o Vaticano II não mediu palavras de louvor, exortando não somente a salvar, mas a incrementar "com a máxima diligência" o que ele chama "o tesouro da Igreja" e, portanto, da humanidade inteira. E, apesar disso?

"E, apesar disso, muitos liturgistas puseram de lado esse tesouro, declarando-o 'esotérico', 'acessível a poucos', abandonaram-no em nome da compreensão por todos e em todos os momentos da liturgia pós-conciliar. Portanto, não mais 'música sacra', relegada quando muito a ocasiões especiais, às catedrais, mas somente 'música utilitária', canções, melodias fáceis, coisas corriqueiras".

- Também aqui o Cardeal consegue mostrar com facilidade o afastamento teórico e prático do Concílio, "segundo o qual, além do mais, a música sacra é, ela mesma, liturgia, e não um simples embelezamento acessório".

- E, segundo ele, seria fácil também demonstrar, na prova dos fatos, como "o abandono da beleza mostrou-se uma causa de "derrota pastoral". "Torna-se cada vez mais perceptível o pavoroso empobrecimento que se manifesta onde se expulsou a beleza, sujeitando-se apenas ao útil. A experiência tem demonstrado que a limitação apenas à categoria do "compreensível para todos' não tornou as liturgias realmente mais compreensíveis, mais abertas, somente as fez mais pobres. Liturgia 'simples' não significa mísera ou reles: existe a simplicidade que provém do banal e uma outra que deriva da riqueza espiritual, cultural e histórica".

"Também nisso", continua ele, "deixou-se de lado a grande música da Igreja em nome da 'participação ativa', mas essa 'participação' não pode, talvez, significar também o perceber com o espírito, com os sentidos? Não existe nada de 'ativo' no intuir, no perceber, no comover-se? Não há, aqui, um diminuir o homem, reduzindo-o apenas à expressão oral, exatamente quando sabemos que aquilo que existe em nós de racionalmente consciente e que emerge à superfície é apenas a ponta de um iceberg, com relação ao que é a nossa totalidade? Questionar tudo isso não significa, evidentemente, opor-se ao esforço para fazer cantar todo o povo, opor-se à 'música utilitária'. Significa opor-se a um exclusivismo (somente tal música), não justificado nem pelo Concílio nem pelas necessidades pastorais".
- Este assunto da música sacra, percebida também como símbolo da presença da beleza "gratuita" na Igreja, é particularmente importante para Joseph Ratzinger, que lhe dedicou páginas vibrantes:

"Uma Igreja que se limite apenas a fazer música 'corrente' cai na incapacidade e torna-se, ela mesma, incapaz. A Igreja tem o dever de ser também 'cidade da glória', lugar em que se reúnem e se elevam aos ouvidos de Deus as vozes mais profundas da humanidade. A Igreja não pode se satisfazer apenas com o ordinário, com o usual, deve reavivar a voz do cosmos, glorificando o Criador e revelando ao próprio cosmos a sua magnificência, tornando-o belo, habitável e humano. Também aqui, porém, como para o latim, fala-me de uma "mutação cultural", ou, mais ainda, de uma como que "mutação antropológica", sobretudo entre os jovens, "cujo sentido acústico foi corrompido e degenerado, a partir dos anos 60, pela música rock e por outros produtos semelhantes" Tanto que, e alude aqui também a suas experiências pastorais na Alemanha, hoje seria "difícil fazer ouvir ou, pior ainda, fazer cantar a muitos jovens até mesmo os antigos corais da tradição alemã".
- O reconhecimento das dificuldades objetivas não lhe impede defender apaixonadamente não apenas a música, mas a arte cristã em geral e sua função de reveladora da verdade:

"A única, a verdadeira apologia do cristianismo pode se reduzir a dois argumentos: os santos que a Igreja produziu e a arte que germinou em seu seio. O Senhor torna-se crível pela magnificência da santidade e da arte, que explodem dentro da comunidade crente, mais do que pelas astutas escapatórias que a apologética elaborou para justificar os lados obscuros de que abundam, infelizmente, os acontecimentos humanos da Igreja.Se a Igreja, portanto, deve continuar a converter, a humanizar o mundo, como pode, na sua liturgia, renunciar à beleza, que é unida de modo inseparável ao amor e, ao mesmo tempo, ao esplendor da Ressurreição?Não, os cristãos não devem se contentar facilmente, devem continuar fazendo de sua Igreja o lar do belo, portanto do verdadeiro, sem o que o mundo se torna o primeiro círculo do inferno".

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