Maria esteve sempre imune de todo pecado.
1º) No instante de sua conceição.
Pois se cre razoavelmente que gerou ao Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade, receberia maiores privilégios de graça que todos os outros. Pelo qual, como se lê em São Lucas (I, 28): "O anjo lhe disse: Deus te salve, cheia de graça". Sabemos, não obstante, que alguns outros foi concedido o privilégio de ser santificados no seio materno, como a Jeremias, al qual se diz (I, 5): "Ante que saístes do ventre materno, te santifiquei"; também a João Batista, do qual se há dito: "E será cheio do Espírito Santo, mesmo desde o ventre da sua mãe (Luc I, 15)".
Logo, para que recebesse mais, Maria devia não só ser santificada no seio materno, senão também preservada da culpa original.
Esta infusão da graça santificante não se verificou antes da animação, senão no primeiro instante da animação.
Os fatos que tiveram lugar no Antigo Testamento são figura do Novo, conforme àquilo: "Todas estas coisas aconteciam a eles em figuras (I Cor X, 11)". Mas pela santificação do tabernáculo, do qual se diz: "Santificou seu tabernáculo o Altíssimo (Sal XLV, 5)", parece significar a santificação da Mãe de Deus, chamada tabernáculo de Deus conforme aquilo do Salmo (XVIII, 6): "Armou para o Sol um tabernáculo". Do tabernáculo se diz no Êxodo: "Depois que foram cumpridas todas estas coisas, cubriu uma nuvem o tabernáculo do testemunho, e encheu a glória do Senhor (Ex XL, 31-32)".
Logo assim mesmo a Bem-Aventurada Virgem não recebeu a graça senão quando foram cumpridas todas suas coisas, a saber: Corpo e alma (quer dizer, no mesmo instante).
2º) Durante toda sua vida.
Deus prepara e dispõe a quem elege para algo, de modo que se fazem idôneos para os que são elegidos: "Nos hão feitos ministros idôneos do Novo Testamento (II Cor III, 6)". Se pois, a Bem-Aventurada Virgem foi eleita por Deus para que fosse Mãe de Deus, não deve duvidar-se que Deus a fez idônea para isto por sua graça, segundo o que o anjo disse: "Há achado graça diante de Deus; eis que conceberás... (Lc I, 30)".
Não havia sido, se alguma vez houvesse pecado; já porque a honra dos pais redunda nos filhos, segundo aquilo: "Glória dos filhos são seus pais (Prov. XVII, 6)", e pelo contrário a ignomínia da mãe redundaria no filho; já também porque teve singular afinidade com Cristo , que recebeu dela sua carne. Se diz na 2ª carta aos Coríntios (VI, 15): "Que concórdia entre Cristo e Belial? O que tem em parte o fiel com o infiel?"
Já também, porque o Filho de Deus, que é a Sabedoria de Deus, habitou nela de modo singular, não somente em sua alma, senão também em seu seio. Mas se diz no Livro da Sabedoria (I, 4): "Por quanto na alma maligna não entrará a sabedoria, nem morará no corpo submetido a pecados"; por conseguinte, é preciso reconhecer que a Bem-Aventurada Virgem não cometeu pecado algum atual, nem mortal nem venial; para que assim se cumprisse nela o que se diz: "Toda é formosa, amada minha, e mácula alguma há em ti (Cant IV, 7)".
(Sum. Theol. 3ª, q. XXVII, a. IV)
Pe. Mézard O. P. - Meditationes ex operibus S. Thomae derromptae (trad. en castelhano por Luiz M. de Cádiz. Ed. Emecé, Buenos Aires, 1948)
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