A Doutrina Católica, a vida dos Santos, o Itinerário Espiritual do Cristão, me fascinam. Leio tudo incansavelmente e trago para o Blog. Que ele sirva de formação para perseverarmos na verdade da fé, defendendo-nos contra as astúcias do inimigo, para a Glória de Nosso Senhor.
terça-feira, 14 de junho de 2011
Aborto
A partir de hoje, trarei uma série de escritos de Comarc Burke - sacerdote holandês que fala sobre família de uma forma esplêndida.
Fonte: Amor e Casamento - Quadrante
O que é o Aborto?
A resposta a esta pergunta, até vinte e cinco anos atrás, era muito simples. Cometer aborto significava matar uma criança não-nascida, matar um ser humano cuja fraqueza peculiar consistia na sua incapacidade de sobreviver fora do seio materno. E havia duas avaliações morais para este ato:
1 - que era um homicídio justificável - em certos casos. Essa era a posição de muitos não-católicos, embora não fosse de forma alguma a de todos.
2 - que era um homicídio injustificável - isto é, que sempre constituía assassinato, e portanto nunca seria lícito. Essa era a posição católica, compartilhada pela Igreja Ortodoxa grega e por muitas outras pessoas religiosas e não religiosas
As razões que apoiavam a primeira afirmação - o justificável -, eram simples: no caso extremo (o único contemplado)de conflito entre e vida da mãe e a vida do filho, a vida da mãe tinha mais valor, e a vida do filho deveria ser sacrificada para que a mãe pudesse sobreviver. O caso extremo seria a gravidez que, chegasse ao fim, acabaria por causar a morte da mãe e talvez do filho também.
Que pensar nesta situação? Duas coisas:
A - pode-se aceitar com certa facilidade que era inspirada por um sincero sentimento humanistarista.
B - que os princípios nos quais se baseava - o de que uma vida humana vale mais do que a outra, e o de que se pode matar uma pessoa inocente a fim de salvar outra - tinham inevitavelmente de abrir as portas à atitude que se vem generalizando nos nossos dias em relação ao aborto: a atitude daqueles que advogam o aborto on demand,, sem outra justificativa além do fato de que a mãe - ou talvez o Estado -, o pede.
Quanto à posição católica, basta dizer por ora que se baseia no princípio claro de que todo ser humano recebe vida diretamente de Deus, e que somente Deus a pode tirar, a menos que a pessoa abra mão do seu direito à vida por uma agressão criminosa voluntária. Não é possível imaginar ninguém mais inocente do que uma criança não-nascida; não se pode, portanto, mata-la diretamente por causa alguma.
Era esta a situação quanto ao aborto há não muitos anos, uma situação global em que era fácil indicar e circunscrever os pontos de concordância e os pontos de discordância. Havia concordância entre os dois lados sobre a natureza do aborto:Significava matar uma criança, era um homicídio, porque o ser no seio materno é um ser humano. E havia discordância quanto à licitude desse homicídio: para alguns, era sempre ilícito; para outros era justificável e lícito em certos casos graves. Vale a pena acrescentar que, mesmo nos países em que prevalecia este último ponto de vista e a legislação civil reconhecia a legalidade do aborto nesses casos extremos, essa mesma legislação proibia e punia abortos realizados sem que se verificassem essas circusntâncias.
A Posição Atual
Se examinarmos a situação atual, veremos que se dão, não duas, mas três respostas à pergunta sobre o que é o aborto:
1 - que é um homicídio injustificável; ou seja; é a posição católica, reafirmada por certo pelo COncílio Vaticano II - em termos mais fortes -, que diz (na Constituição sobre a Igreja no Mundo moderno n. 51) que o aborto é um "crime abominável"
2 - que é um homicídio justificável em algumas circuntâncias, ou seja, a posição - já comentada -, de certos não-católicos
3 - que não é um homicídio de forma alguma! Esta é a posição de que desejo ocupar-me especialmente, pois via de regra é a posição dos pró-abortistas modernos e é a posição ideológica - a nova base "moral" -, com que procuram justificar o que não pode ser justificado.
A Reformulação do Problema
O aborto, dizem os novos reformistas liberais, não é de modo nenhum um homicídio, por uma razão muito simples: o que se mata não é um ser humano, o que está no útero não é um ser humano. É evidente que esta posição significa reformular por inteiro o problema do aborto. E a reformulação é tão radical que, se aceitássemos a base de que parte, o aspecto problemático da questão praticamente desapareceria para muitas pessoas, e o aborto tornar-se-ia um assunto - segundo pensam - quase que inteiramente destituído de dificuldades de natureza moral.
Por que a Reformulação?
Talvez a primeira coisa a fazer com relação a esta nova posição seja perguntarmo-nos por que e como surgiu em tão poucos anos. Não é difícil encontrarmos a resposta. Não há quem não goste de sentir-se humanitário. Os "liberais" da atual escola moral positivista não só gostam de sentir-se humanitários, mas também de poder proclamar-se como tais.
O sentido humanitário liberal dos não-católicos de trinta anos atrás aceitava sem demasiada dificuldade que a vida de uma criança não-nascida fosse sacrificada para salvar a vida da mãe. Os anos passaram e, com os anos, intervieram dois fatores essenciais. Um é que os avanços da medicina praticamente eliminaram o caso extremo que obrigava a escolher a vida da mãe ou a do filho. Apesar disso - e aqui está o segundo fator -, a procura pelo aborto aumentou. Houve muitos motivos para esse aumento, entre os quais algumas "recomendações" de natureza mais ou menos médica: a fraca saúde da mãe, a tensão que uma gravidez representa para os seus nervos, etc. Mas o motivo principal relaciona-se simplesmente com o crescimento da mentalidade favorável ao controle da natalidade.
Apesar de virem envolvidas em referências aparentemente desinteressadas aos problemas populacionais do mundo, as justificativas para o aborto em todos os casos individuais - pelo menos nos países mais desenvolvidos - quase sempre se reduzem à Incapacidade de ver a criança com amor
. Afinal de contas, é a incapacidade de amar que faz um casal pensar na criança não-nascida como um peso - o peso da gravidez e dos cuidados que exigirá mais tarde - e que leva os pais a temer que, se a criança nascer, terão de renunciar a algum conforto material; é a incapacidade de amar que faz com que a mãe não queira carregar a dar à luz a criança que concebeu.
(Depois veremos: Transformar o Feto numa "coisa")
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