segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Mulher que Aborta....



Por Cormac Burke

"Como sacerdote, aprendi a distinguir entre o pecado e o pecador. Aprendi também que, embora possamos e às vezes devamos julgar as ações e os acontecimentos, é difícil e arriscado julgar as pessoas. Só Deus pode faze-lo. Num momento de tentação, uma mulher grávida - que não quer ter o seu filho e decide abortar -, pode ter sido influenciada por incontáveis fatores:De formação pessoal, de pressões provenientes do ambiente, dos parentes ou amigos, fatores de solidão, de medo, de tensão nervosa...Não podemos julgar o grau de culpa que uma mulher pode ter em tal situação. Somente Deus, repito, que leva todas essas coisas em conta, pode julgar. Podemos, contudo, julgar outra coisa, ou pelo menos formar uma opinião segura a esse respeito: o que acontecerá com essa mulher, em termos humanos, conforme se arrependa ou não do que fez.

Não nos enganemos. A mulher que praticou um aborto sabe que procurou a morte, o assassinato, de seu próprio filho, fruto do seu ventre. E passa a ter uma profunda ferida na sua conciência. Uma sociedade permissiva pode não encontrar dificuldade em perdoa-la, mas o problema é que ela não será capaz de perdoar-se ou de esquecer o que fez. E a experiência é que, nos casos excepcionais em que uma mulher conseguiu silenciar a sua consciência, fê-lo à custa de um suicídio moral, destruindo a sua própria consciência, o sentido dos valores, desfeminizando-se a si mesma. O seu instinto maternal em particular, e em geral toda a sua capacidade de amar, sofreram uma lesão enorme e irreparável.

A Igreja nunca condena as pessoas. Se condena o pecado, se condena as ações erradas, é para ajuda-las a ter idéias claras, para ajuda-las a olhar para a própria consiência(que também as acusará se cometerem algum erro), e para que então, pelo arrependimento, possam encontrar o perdão e a paz. Os que negam a culpa das ações imorais são os que podem estar condenando as pessoas a uma vida terrível de angustia moral.

Personalização e Despersonalização

Isto leva-nos a tocar um outro pseudo-argumento dos abortistas, segundo o qual o caráter da pessoa da criança não-nascida deveria depender não de fenômenos biológicos, nem de fatores vinculados ao tempo (como a viabilidade ou o nascimento), mas de um fator psicológico. Baralhando conceitos pedidos de empréstimo à psicologia moderna - conceitos que sublinham a importância dos relacionamentos intersubjetivos no processo de "personalização"- , alguns abortistas vêm sugerindo que a criança não-nascida não pode propriamente ser olhada como uma pessoa antes de ser aceita pelos pais; se falta essa aceitação - continua o argumento -, não poderá ser considerada pessoa nem possuir direitos humanos.

Este argumento incorre no mesmo tipo de problema que o argumento da "viabilidade": "prova"demasiado. Sobre essa base, uma criança de um ou de cinco anos não seria uma pessoa, caso seus pais não a "aceitassem". Obviamente, é antes e não depois de gerar uma criança que os pais tem que decidir se a querem ou não. Antes, era uma possibilidade; precisamente, uma simples "potencialidade". Depois, é uma realidade e essa realidade é uma pessoa, quer tenha um dia de idade ou um ano. É uma pessoa que, por isso mesmo, possui personalidade no sentido humano mais pleno, uma personalidade que a torna sujeito de direitos* (*) - Extraio aqui um argumento da ciência jurídica - todas as jurisprudências atribuem a criança não nascida plena personalidade jurídica, expressa por exemplo na sua capacidade de herdar

Existe, naturalmente, uma certa ambiguidade no argumento da personalização. Mas é uma ambiguidade que, quando vem à tona, se volta contra os próprios defensores desse argumento. Como é óbvio, se alguém perguntar se a criança não-nascida tem a sua própria "personalidade"no sentido popular do termo - no sentido de possuir uma forma de ser totalmente pessoal de pensar, de falar e de agir -, a resposta será não. Neste sentido, a criança não-nascida não é uma criança "personalizada", quer tenha um dia ou um mês de idade, mas também está muito pouco personalizada a criança de três ou de cinco anos.

Na medida em que a "personalização"significa realmente o processo de desenvolvimento de uma personalidade individual, designa um processo que leva anos a completar-se; na verdade, todos os anos da vida. Somente com os anos - com tudo o que os anos trazem de experiência humana: de generosidade ou de egoísmo, de virtudes e de pecados, de respeito e de amor aos outros ou ausência destes, de capacidade de assumir responsabilidades ou de rejeita-las - é que uma pessoa desenvolve a sua personalidade própria.

Auto-Realização para Mulheres "Liberadas"?

O argumento da personalização - que não se aplica ao caso da criança não-nascida (que personalidade pode ser desenvolvida a uma pessoa que se mata?) - aplica-se, pelo contrário, muito clara e precisamente ao caso da mãe que aborta. Pois aqui, podemos perguntar e prever em ampla medida: "que tipo de personalidade uma pessoa que mata irá desenvolver?"

A psicologia moderna insiste em que os homens e as mulheres se "realizam"ou se "completam"sobretudo no seu relacionamento com outras pessoas, e que uma das provas mais evidentes da presença ou da ausência de personalidade é a capacidade ou incapacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais. Que personalidade será desenvolvida por uma mulher que, diante do mais íntimo relacionamento interpessoal imaginável - o relacionamento entre a sua pessoa e a pessoa do filho que ela concebeu, o relacionamento verdadeiramente único entre o seu corpo e o corpo do filho no seu ventre -, rejeita e destrói esse relacionamento, matando o seu filho e entregando o corpo desse filho a um incinerador de hospital? Que outros relacionamentos poderão permitir que essa mulher "se realize", se a sua reação ao sagrado relacionamento mãe-filho foi extirpar do coração os seus mais íntimos instintos de maternidade e de compaixão, extirpando do seu corpo o filho?

É triste ver a propaganda "pró-escolha"apresentar o aborto como um "direito"de toda mulher, reivindicando esse direito precisamente em nome da "liberação"das mulheres. É uma triste propaganda, essa que só pode tornar amarguradas e tristes as mulheres, que lançam mão desse "direito". Quem irá "liberá-las"depois de ganharem consciência do que fizeram, violando os seus instintos humanos mais íntimos?

Há alguns anos, quando se debatia na Inglaterra a proposta de "liberalização" da lei do aborto, lembro-me de ter visto um programa de TV em que se entrevistava uma série de mulheres, cada uma das quais tinha cometido vários abortos. As perguntas do entrevistador visavam evidentemente "provar"um ponto: que nem física nem psicologicamente elas tinham sofrido qualquer efeito adverso proveniente desses abortos. As respostas das mulheres corroboravam totalmente essa tese. Contudo, ainda guardo viva a lembrança das suas faces rígidas, do seu modo de responder, da sua evidente preocupação por justificar-se, da sua insistência em que nunca tinham sido incomodadas pelo menos sentimento de repugnância ou de remorso, do seu ar de orgulho e de triste solidão; numa palavra, a impressão do que mencionei acima: de uma brutal desfeminização e desumanizacão.

Gostaria de examinar dois pontos: duas novas "recomendações"ou argumentos que tendem a aparecer cada vez com mais frequência nas campanhas pró-aborto. - O argumento Eugenésico e o argumento demográfico - (veremos depois)

Fonte: Amor e Casamento - Quadrante

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Poderíamos aproveitar para assinar e difundir o Abaixo-assinado pela aprovação do Estatuto do Nascituro –

http://brasilsemaborto.wordpress.com/
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