quarta-feira, 8 de junho de 2011

Virtude Teologal da Esperança


Pelo Batismo, morremos com Cristo para com Ele renascer para uma vida nova - Vida de filhos de Deus. Além da Graça exuberante que ganhamos para nos transformar neste filho com direito ao Céu, nosso Pai nos dá neste momento, as virtudes teologais, que nos acompanharão nesta vida até um dia quando O veremos - se Deus quiser - face a face.

Este estudo é retirado do livro: As Maravilhas da Graça Divina de M. J. Scheeben - Editora Quadrante

1. A segunda das virtudes teologais, derramada em nosso coração pela graça, é a virtude da esperança cristã, nem menor nem menos formosa que a primeira. Como o amor, relaciona-se a esperança, não com a razão, mas com a Vontade.

Possui esta dois atos diferentes:

Pode em primeiro lugar amar o bem ou nele encontrar sua complacência; e em segundo lugar, tende efetiva e confiantemente para este bem. Assim como a fé comunica a nossa razão um conhecimento sobrenatural e divino, também a esperança comunica à vontade uma força divina e uma confiança sobrenatural, de modo a poder ela tender eficazmente para o bem supremo e infinito, chegar até ele com toda segurança, o que é interdito a toda a força criada. Do mesmo modo eleva-nos esta virtude sobre toda criatura, até Deus, para fazer-nos descansar em seu seio, fortificar-nos com seu poder, e estabelecer-nos irrevogavelmente sobre este poder como sobre inabalavel rocha.
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A grandeza e a formosura da esperança dependem, pois, de dois elementos:

Dá-nos a confiança de que podemos possuir perfeitamente e por toda a eternidade, o bem sobrenatural e supremo, que é o próprio Deus; e baseia esta confiança no poder infinito e na força do mesmo Deus, único que se possui a si mesmo por sua natureza, e igualmente único que pode introduzir a criatura na posse de si mesmo.

"A esperança ou confiança, diz S. Tomás, é um levantamento e uma elevação da alma, pela qual tende seguramente a um bem elevado e difícil de conseguir-se, e despreza e vence todas as dificuldades que se Ihe opõem. É um sentimento de coragem que comunica a alma a consciência de uma grande força e a enche de alegre intrepidez, anima-a com um particularíssimo contentamento, e a arrebata melhor que qualquer outro bem. Quanto mais elevado for o bem a que nos dirigimos, e maior a força em que nos apoiamos, tanto maior e mais forte será também o sentimento de nobreza comunicado pela esperança" - Sum Theol I-II,q.25,a.3

2. Forte e amável deve ser a esperança cristã que Jesus infunde em nossos corações pela graça. Por ela temos a consciência, cheia de consolo e conforto, de sermos chamados por Deus a inefável dignidade da filiação divina, bem como sermos seus herdeiros e co-herdeiros de seu Filho, e haveremos de nos sentar com Ele em seu trono, para com Ele reinarmos enquanto se nos submeterá o mundo e nos pertencerá o proprio Deus com toda a sua gloria, suas riquezas, seus tesouros e sua felicidade.

Por ela apoiam-nos não já sobre o débil caniço de um poder criado, mas sobre a grandeza incomparável do próprio Deus, que, segundo o Apóstolo, nos enche da plenitude de sua divindade e opera infinitamente mais, em nós do que o seriamos capazes de pedir e de compreender. Ef 3,19-20

Podemos considerar como nossa a onipotência de Deus, e nela nos apoiar como se nos pertencesse. Com efeito, ao fazer-nos filhos seus, Deus nos pertence, quando com seu inefavel amor paterno nos abraça e nos adota em seu seio, cobre-nos com sua onipotencia e faz-nos fortes com toda a plenitude de sua força divina, de modo que podemos exclamar com o Apóstolo:" Se Deus esto conosco, quem estara contra nós? Se não poupou seu Filho Unigênito e o entregou por nós, será possível não nos tenha dado, com ele, todas as coisas? Rom 8,31-32

Graças a esta consciência. a esperança dos filhos de Deus converte-se em confiança triunfal, que não teme nem perigos nem obstáculos, nem se intimida por nenhum poder criado e nem pode ela provir de nenhum poder criado. Nela encontramos uma segurança estável e infalível, que não conhece vacilações nem temores, desconhece a decepção e nos garante a consecução de nosso sim como se ja o possuíramos.

Por isto fala o Apóstolo: "Quem nos separará da caridade de Cristo? A tribulação, a angustia, a fome, a nudez? Por ocaso os perigos, a perseguição, a espada? Em semelhantes circunstancias, aquele que nos amou nos fará vencedores. Estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem um anjo, nem as potestades, nem as dominações, nem as coisas presentes nem as futuras, nem criatura alguma é capaz de separar-nos da caridade de Deus, que esta em Cristo, Nosso Senhor Rom 8,35-39

Senhor! Como pode nosso tão pobre e débil coração conter e suportar uma confiança tao firme que sobrepuja o céu e a terra, triunfa de todo, até mesmo de nós? Embora seja certo que nao podemos excita-la por nossas próprias forças, nao é menos verdade que no-la pode conceder tua poderosa graça. Nosso coração, por si, nem sequer poderá aguenta-la, se não viera em seu auxilio a graça, para fortalece-lo. Aos primeiros passos na vertiginosa estrada que conduz ao ceu, cairia sem vida, se tua graça nao Ihe desse asas para voar sobre os abismos, para elevar-se da terra ate além das montanhas que roçam as nuvens, para continuar subindo sempre para repousar em teu seio. Sim! estamos seguros com infalível certeza de gue nenhum poder inimigo, quer celeste, quer terreno, nem mesmo nossa grande fraqueza, poderao impedir-nos de alcancar nossa meta, a nao ser que expulsemos de nos a graça de Deus e sacrifiquemos a esperanca, ou se por nossa deliberada vontade, com toda malicia e nao apenas por nossa fraqueza nos subtrairmos a forca incomparavel de Deus. Nao é mister temer nos abandone ela, se antes não a abandonarmos; permanece junto de nós e em nós, enquanto junto dela permanecermos; aperfeiçoa e firma sobre a base frágil de nossa alma a construçao celeste, que ninguem pode destruir, a nao ser que o façamos nós próprios, abandonando esta mesma base.

Queira Deus como pede o Apóstolo, esclarecer os olhos de nosso coração para reconhecermos qual é a esperança de sua vocação e as riquezas da glória de sua herança nos santos. Possamos todos, pela força do Espírito Santo que recebemos como penhor de nossa glória, como consolador de nossa miséria e auxílio de nossa fraqueza, suspirar por esta perfeita adoção dos filhos de Deus, na qual até mesmo nosso corpo se verá livre da escravidão da corrupção

Possamos todos ter com o Apóstolo acesso à graça na qual nos achamos e gloriar-nos na esperança da glória dos filhos de Deus . Sim, como diz o Apóstolo, devemos alegrar-nos nas tribulações, pois sabemos que a tribulação gera a paciência, a paciência a provação e a provação produz a esperança que não engana

Quanto não desonramos esta inefável virtude da esperança divina, com nossa covardia e preguiça! Estremecemo-nos diante do menor perigo, sucumbimos em face da mais insignificante tentação, apegamo-nos à terra, sem aventurarmos um só passo no caminho escarpado que sobe ao céu. Se considerarmos tão somente nossa forças naturais, é certo que temos razões para perder a coragem. Mas como justificar semelhante falta de coragem quando Deus nos cumula com sua poderosa graça e nos coloca a tal altura que estamos em condições de enfrentar o inferno inteiro?

Por que não estendermos a mão a esta graça, por que não nos apoiarmos nela para livrar nosso coração de todo temor, de toda ansiedade? Inclinemo-nos a confiar excessivamente em nossas próprias forças, a vangloriar-nos ainda quando deficientes ou relacionadas com insignificantes assuntos. Por que cometeremos para conosco este imenso erro, e faremos a Deus tal injúria, desconfiando de sua graça, e não desprezando, como seu auxílio, todos os perigos, todos os inimigos?

Esforcemo-nos por honrar a graça desta celeste esperança; prefiramos, com santo orgulho, a esperança da glória destinada aos filhos de Deus, a qualquer outro poder e a todas as riquezas da terra. Com inquebrantável segurança, ergamos os olhos para a posse do Bem supremo, que coroa nossa esperança mediante a persuasão inefávelmente doce de que nunca poderemos perde-lo, nem por nossa culpa.

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