domingo, 3 de julho de 2011

A Vida da Graça - A Redenção


Pela maravilhosa bondade de Deus, veio Jesus em favor do homem caído e condenado, para refazer este homem desfigurado pela culpa e o repõe em certo sentido, num estado melhor que o anterior à queda, a tal ponto que a Igreja, na sua Liturgia, não rejeita bendizer a culpa que nos valeu tal Redentor como o homem-Deus: ”O felix culpa quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem! ”

A Vida Espiritual - Explicada e Comentada - de Adolfh Tanquerey

Natureza da Redenção:

Deus que de toda a eternidade previra a queda do homem, O Pai quis também desde toda a eternidade preparar um Redentor na Pessoa de Seu Flho, que se fez homem. Ao ser constituído cabeça da humanidade, poderia expiar perfeitamente - sendo nosso representante - o nosso pecado e restituir-nos com a graça, todos os direitos ao céu. Deus soube tirar do mal um grande bem, conciliando os direitos de justiça, com os da bondade, reparando completamente a culpa. Efetuou a justiça perfeita que constituia na reparação adequada, igual à ofensa, oferecida por um representante legítimo. Fez isso com a Encarnação e Redenção.

O mais lindo é que esta reparação é não somente igual à ofensa , mas a supera e muito, pelo valor moral infinito, devido a dignidade infinita de Jesus homem-Deus, infinitamente digno. Apenas um de seus atos já teria este valor para reparar adequadamente nosso pecado, mas completou-a na imolação total de Seu Ser durante sua dolorosa Paixão e no Calvário, por consequinte, satisfez abundante e superabundantemente: Ubi abundavit delictum, superabundavit et gratia” ( Rm 5, 20). E ela é do mesmo gênero que a culpa. Como Adão tinha pecado por desobediência e orgulho, Jesus expia por meio da humildade e obdiência, pela Sua grande misericórdia e amor que nos tem.

A Santíssima Trindade, na Redenção

- O Pai: Não tem senão um Filho, igual a Si próprio, que ama como a Si mesmo e de quem é infinitamente amado; ora esse Filho único dá-o, sacrifica-o por nós, para nos restituir a vida que pelo pecado havíamos perdido. Poderia Ele nos dar mais que Seu Filho?

- O Filho: Se entrega em obediência ao Pai, se Encarna, se torna vítima e substitui todos os sacrifícios da Antiga Lei, e toda a Sua vida não será mais que um longo sacrifício, que se completa na imolação do Calvário, tudo por amor a nós.

- O Divino Espírito: Para completar a obra é nos enviado o amor substancial do Pai e do Filho, que não contente em nos dar as graças, as virtudes infusas, sobretudo a divina caridade, se nos dará a Si mesmo, para que, além de gozar da Sua presença e Seus dons, possamos ter também a Sua pessoa. Portanto a Redenção é a obra do amor, por excelência!

Efeitos da Redenção

Jesus não contente em reparar, pela Sua satisfação, a ofensa feita a Deus e de nos reconciliar com Ele, merece-nos todas as graças que havíamos perdido pelo pecado e outras ainda.

Auxílios Interiores - Primeira restituição - Os dons Sobrenaturais:

A- A Graça Santificante: vem com seu cortejo de virtudes infusas e dons do Espírito Santo e Jesus também institui os sacramentos, sinais sensíveis da graça invisível que nos será dada em cada fase de nossa vida.

B - Graças Atuais abundantes e que podemos crer até mais abundantes do que no estado se inocência, em virtude da palavra de São Paulo: ”ubi abundavit delictum, superabundavit gratia”

Já os dons Preternaturais - o dom da Integridade, é nos restituídos de uma forma progressiva. É certo que estamos ainda de posse da concuspicência e das misérias da vida, mas temos agora a força necessária para combater e vencer as tentações e ficamos robustecidos nas virtudes e podendo, portanto, alcançar muitos merecimentos. Põe diante de nossos olhos os exemplos de Jesus, com sua Cruz e estimula-nos a lutar. Já as graças atuais, que Ele nos mereceu, facilitam nossos esforços e vitórias. A medida que lutamos a concuspicências vão diminuindo, a nossa força de resistência vai aumentando e por fim chega a hora que muitas almas privilegiadas, são de tal modo confirmadas nas virtudes que, embora tenham liberdade para pecar, não cometem falta alguma de propósito deliberado.

Auxílios Exteriores

Nosso Senhor acrescentou ainda auxílios exeriores, em particular a Igreja Visível, que fundou e organizou, iluminando os espiritos com sua autoridade doutrinal, para guiar e santificar as almas com os sacramentos, sacramentais e indulgências. Não encontramos em tudo isso um auxílio imenso, de que devemos dar graças a Deus: O felix culpa? E por fim, a Encarnação, este bem precioso, por si só, já é motivo de júbilo! Pois se não fora o pecado original, não é certo que o Verbo se encarnaria.

Por isso cantamos: "O felix culpa!! Em vez de Adão, chefe bem dotado, sem dúvida, mas falível e pecável, temos por cabeça o Filho eterno de Deus, que revestido de nossa natureza, é homem tão verdadeiro, como é verdadeiro Deus. É o Mediador ideal, mediador de religião, como o é de Redenção, que adora o Pai não apenas em seu Nome, mas em nome da humanidade inteira, mais ainda em nome dos anjos. É o sacerdote perfeito que tem livre acesso ao trono de Deus pela sua natureza divina, e se inclina compassivamente para os homens, agora seus irmãos, que Ele, rodeado como está de fraqueza, trata com indulgência. Com Ele e por Ele podemos tributar a Deus as homenagens infinitas a que tem direito; com Ele e por Ele podemos alcançar todas as graças de que precisamos para nós e para nossos irmãos. Quando adoramos é Ele quem adora por nós, quando pedimos socorro, é Ele quem apóia as nossas súplicas, eis o motivo que tudo quanto pedimos ao Pai em Seu nome, nos é liberalmente concedido. Devemos, pois, regozijar-nos de ter um tal Redentor, uma tal Mediador, e depositar n’Ele confiança ilimitada….. Glória a Deus por nos amar tanto!!

Conclusão

Queridos, este esboço só nos revela a grande bondade de Deus para conosco, a excelência da vida sobrenatural e sobretudo a grandeza e ao mesmo tempo a fraqueza de quem é o beneficiário: Eu e você! Participamos realmente, se bem que de forma finita, da natureza e vida de Deus. Diviniae consortes natuare . E esta vida vem de um pensamento afetuoso de Deus, que nos amou desde a eternidade e que quis nos unir a Si mesmo na mais doce intimidade. Com amor eterno eu te amei; por isso, compadecido de ti, te atraí a mim (Jr 30).

Esta vida da graça tem tão grande preço que para no-la restituir, o Pai sacrifica o seu Filho único, que se imola completamente, e envia o Espírito Santo à nossa alma para no-la comunicar. Por todos estes motivos, devemos estima-la acima de tudo, guarda-la e cultiva-la com a mais cioso desvelo. E contudo, trazemos este tesouro em vasos de barro e tão frágil! Se nossos primeiros pais apesar de tantos dons e benefícios o perderam acarretando nossa perda tambem, que não havemos de recear nós, que a despeito da regeneração espiritual, estamos sujeitos à tríplice concuspiscência?

Há sem dúvida em nós tendências nobres e generosas, que vem do que existe de bom em nossa natureza e sobretudo de nossa incorporação à Cristo e das forças sobrenaturais que nos são dadas em virtudes de seus méritos, mas nós continuamos a ser fracos e inconstantes se deixamos de nos apoiar em Cristo, portanto o segredo de nossa força está em Deus. Nossos pais nos mostraram que o maior mal deste mundo é o pecado e que por isso devemos ser vigilantes para repelir os primeiros ataques tanto de nós mesmos quanto do inimigo.

Estamos porém bem armados contra eles, como veremos a seguir, aguardem!!

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