quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Papa Pio V - Sobre a Maneira de Ensinar


Fonte: Catecismo Romano

A - Requisito

O primeiro requisito, ao que parece, é lembrarem-se, continuamente, que toda ciência do cristão se resume nesse ponto capital, ou antes, como se exprime Nosso Salvador:"Esta é a vida eterna, que só a Vós reconheçam como verdadeiro Deus, e a Jesus Cristo, que Vós enviastes"

B - Conhecimento e ....

Por conseguinte, quem ensina procurará, em primeiro lugar, que todos queiram de coração conhecer a Jesus Cristo, e por sinal que crucificado; que tenham a firme persuasão e creiam com íntimo amor e respeito, que debaixo do céu não foi dado, aos homens outro nome pelo qual possamos salvar-nos, porque Ele mesmo é a propiação pelos nossos pecados.

C - ...Imitação de Cristo

Como só temos certeza de conhecê-lO, se observarmos os Seus mandamentos, a segunda obrigação, intimamente ligada à que acabamos de estatuir, é mostrar que os fiéis não devem viver no ócio e na preguiça, mas que devemos andar, como Ele mesmo andou, e com todo zelo de praticar a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a mansidão. Pois Cristo entregou-Se a Si mesmo, por nossa causa, a fim de nos remir de toda iniquidade, e purificar para Si um povo aceitável, zeloso na prática de boas obras.

D - Antes de tudo pelo amor a Deus e ao próximo

Nosso Senhor e Salvador não só ensinou, mas também mostrou com seu exemplo, que da caridade dependem a Lei e os Profetas. Mais tarde, o Apóstolos exprimiu-se nesse mesmo sentido, dizendo que a caridade é o fim do preceito e a consumação da Lei.

Ninguém pode, pois, duvidar que é um dever, e dever primordial, incitarmos, com o maior zelo, o povo cristão ao amor de Deus em toda a Sua infinita bondade para conosco. Inflamado, assim, de amor divino, pode o povo assim elevar-se até o Bem sumo e perfeito. Sua posse constitui a verdadeira e sólida felicidade de quem pode exclamar com o Profeta: "Fora de Vós, que há para mim no céu, e que almejo eu sobre a terra?"

Este é o "caminho mais excelente" que nos mostrava o Apóstolo, quando punha na caridade, que jamais desfalece, a razão de ser de sua pregação e cura de almas. Ao propormos alguma doutrina que tenha por objeto a fé, a esperança, ou qualquer ação obrigatória, devemos também encarecer, com muito empenho, o amor a Nosso Senhor. Então, os fiéis hão de reconhecer, sem titubear, que todas as obras de virtude e perfeição cristã, não pode ter outra fonte, nem outro termo, que não a própria caridade.

E - Adaptar-se aos Ouvintes

Se em toda instrução muito vai a questão de método, não se pode negar sua máxima importância na instrução cristã do povo. Cumpre, portanto, atender à idade, inteligência, costumes e padrão de vida das pessoas que ouvem. Quem ensina deve fazer-se tudo para todos, e lucrá-los todos para Cristo. Deve, pois, mostrar-se fiel e, a exemplo do servo bom e fiel, fazer-se digno de que o o ponha chefe de muitas coisas.

Não imaginem que a seu cuidado foram entregues almas de um só feitio. Por conseguinte, não poderá instruí-las todas pela mesma cartilha, invariavelmente; nem servir-se do mesmo chavão para formar os fiéis na verdadeira piedade. Uns serão como que "crianças recém nascidas"; outros já cmneçaram a crescer em Cristo; outros enfim terão alcançado o vigor da idade.

Devem, pois, averiguar cuidadosamente, quem ainda precise de leite e quem tenha necessidade de comida mais forte. A cada um ministrarão o sustento doutrinário que mais for próprio para enrobustecer o espírito, "até chegarmos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado de varão perfeito, conforme a idade madura de Cristo"

F - A exemplo dos Apóstolos...

Dessa obrigação queria o Apóstolo dar a todos um exemplo em sua pessoa, quando se de
"devedor aos gregos e aos bárbaros, aos sábios e ignorantes". Certamente, assim falava para que os chamados a tal ministério reconhecesse a necessidade de acomodar-se à índole e à inteligência dos ouvintes, quando lhes explicam os mistérios da fé e os preceitos da vida cristã. Enquanto saciam com alimento espiritual os fiéis de formação mais adiantada, não deixem perecer de fome os pequeninos que pedem pão, sem haver quem lho parta.

Ninguém esmoreça, contudo, no fervor de ensinar, se de vez em quando for preciso explicar aos ouvintes certas verdades mais simples e elementares. Estas não soem ser tratadas com interesse, mormente por espíritos que costumam pairar e repousar na contemplação de idéias muito elevadas.

G - ...e do próprio Cristo.

Se a própria Sabedoria do Eterno Pai baixou à terra para nos ensinar, na vileza da carne humana, as leis de uma vida toda celestial, quem não será levado, pelo amor de Cristo , a fazer-se pequeno no meio de seus irmãos? E qual mãe que amamenta os filhinhos, quem não desejará tanto a salvação do próximo, que esteja pronto, de si mesmo dizia o Apóstolo, não só a dar-lhe o Evangelho de Deus, mas até a própria vida?

H - Seguir os quatro pontos tradicionais...

Ora, toda a doutrina por ensinar ao fiéis, está contida na palavra de Deus. Reparte-se
em [duas fontes], Escritura e Tradição, que dia e noite devem constituir objeto de reflexão para os pastores. Lembrar-se-ão, neste particular, da advertência de São Paulo a Timóteo. Todos os diretores de almas a considerarão como feita a si mesmo. Está concebida nos seguintes termos: ''Aplica-te à leitura, à exortação e ao ensino" "porquanto toda Escritura, divinamente inspirada, é útil para ensi_ para repreender, para corrigir, e para educar na justiça. Desta arte che- homem de Deus à perfeição, habilitado que é para toda boa obra".

Sendo tão amplos e variados os elementos constitutivos da Revelação divina, não é fácil abrangê-los com a inteligência, nem guardá-los de memória, ainda que deles se tenha a devida compreensão. Em vista disso, para se seguir uma explicação rápida e satisfatória, no momento de ensinar, nossos maiores reduziram e distribuíram, com exímia prudência, toda a doutrina da salvação em quatro pontos capitais: Símbolo dos Apóstolos, Sacramentos, Decálogo e Oração Dominical.

A doutrina do Símbolo encerra tudo o que o magistério da Igreja nos propôe a crer, com relação a Deus, à criação e ao governo do mundo, à redenção do gênero humano, à recompensa dos bons e à punição dos maus.

A doutrina dos sete Sacramentos abrange os sinais que são, por assim dizer, instrumentos para se conseguir a graça divina.

O Decálogo descreve os Mandamentos, cujo fim é a caridade.

Finalmente, a Oração dominical contém tudo o que o homem possa querer, esperar e pedir para a sua própria salvação.

I - que encerram todos os quesitos da instrução..

Explicados que forem estes quatro pontos, tidos como "lugares comuns" da Escritura, já não faltará quase nenhuma das verdades que o cristão deve saber para a sua instrução. Em conclusão, pareceu-nos conveniente dar ainda um aviso prático. Todas as vezes que tiverem de interpretar algum lugar do Evangelho, ou qualquer outra passagem da Sagrada Escritura, saibam que sentido coincide com algum artigo dos quatro pontos mencionados. A esse ponto podem então recorrer, como a uma fonte doutrinária do trecho devem explicar [na Escritura].

J - ...e os sincronizam com a explicação do Evangelho

Se tiverem, por exemplo, de explanar o Evangelho do primeiro domingo do Advento: "Haverá sinais no sol e na lua, etc." ; encontrarão um comentário no artigo do Símbolo: "Há de vir a julgar os vivos e os mortos"

Usando de tal expediente, o pastor de almas terá um só trabalho ensinar ao povo cristão o Símbolo e o Evangelho. Por conseguinte, em suas instruções e comentários, conservará o costume de sempre recorrer a esses quatro pontos capitais, que segundo a nossa opinião encerram a medula doutrinária de toda a Sagrada Escritura.

L - Seguir a ordem que melhor lhe parecer.

Quanto à disposição da matéria, tomará o esquema que mais próprio lhe parecer às pessoas, e às circunstâncias de tempo. De nossa parte, seguindo a autoridade dos Santos Padres que, para levarem os homens ao conhecimento de Cristo Nosso Senhor e de Sua doutrina, começavam pela doutrina da fé, havemos por bem explicar, antes de tudo, o que diz respeito a esta virtude.

Fiquem com Deus

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