Creio em Deus
Mostram estas palavras...
Estas palavras "em Deus" nos mostram a dignidade e excelência da sabedoria cristã, pela qual podemos reconhecer o quanto devemos à bondade divina por nos levar, sem demoras de raciocínio, a conhecer pelos degraus da fé o ser mais sublime e desejável.
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Que a fé é superior à filosofia:
Existe, realmente, uma enorme diferença entre a filosofia cristã e a sabedoria deste mundo.
Guiada só pela luz da razão, pode esta desenvolver-se aos poucos, pelo conhecimento dos efeitos e pela experiência dos sentidos. Mas só depois de longos esforços é que chega afinal a contemplar, com dificuldade, "as coisas invisíveis de Deus"; a reconhecer e compreender a Deus como causa primeira e autor de todas as coisas.
A fé, pelo contrário, aumenta de tal maneira a penetração natural do espírito, que este pode sem esforço elevar-se até ao céu, e, inundado de luz divina, contemplar primeiramente o próprio foco de toda a luz, e de lá todas as coisas colocadas debaixo [de seu clarão]. Num transporte de júbilo, sentimos então que "das trevas, como diz o Príncipe dos Apóstolos, fomos chamados para uma luz admirável"(I Pe 2,9) ; e nessa "fé exultamos de inefável alegria". (I Pe 1,8)
É, pois, com razão que os fiéis professam em primeiro lugar sua fé em Deus, cuja majestade, numa expressão de Jeremias, dizemos ser "incompreensível". Deus "habita numa luz inacessível, como diz o Apóstolo, e nunca foi nem pode ser visto por homem algum". Ele mesmo disse a Moisés: "Não pode o homem ver-Me, e continuar com vida".
Com efeito, para chegarmos até Deus, o mais transcendente de todos os seres, é preciso que nossa alma desfaça totalmente das faculdades sensitivas. Isto, porém, não nos é possível por lei da natureza, enquanto durar a vida presente. Ainda assim, como diz o Apóstolo, Deus "não deixou, todavia de dar testemunho de Si mesmo, dispensando benefícios, mandando chuvas do céu e tempos férteis, dando alimento, e enchendo de alegria os corações dos homens".
Esta dá um conhecimento imperfeito de Deus
Eis por que os filósofos nada de imperfeito podiam admitir em Deus. Da noção de Deus, afastaram categoricamente tudo o que fosse matéria, crescimento, composição. Atribuindo-Lhe, pelo contrário, a suma plenitude de todos os bens, consideravam-n'O como fonte perpétua e inexaurÍvel de bondade e clemência, donde se derrama em todas as criaturas tudo o que nelas há de bom e perfeito.
Chamavam-Lhe, sábio, autor e amigo da verdade, justo, supremo benfeitor. Deram-Lhe ainda outros atributos que exprimem uma perfeição suma e absoluta. Em Deus reconheciam um poder imenso e absoluto, que abrange todos os lugares, e chega a todas as criaturas.
Aquela dá conhecimento mais perfeito..
No entanto, estas verdades são expressas, com mais vigor e propriedade, nas páginas da Sagrada Escritura, como por exemplo, nas passagens seguintes: "Deus é Espírito".(Jo 4, 24) "Sede perfeitos, como vosso Pai no céu é perfeito". (Mt 5,48)- "Todas as coisas estão a nu e a descoberto diante de seus olhos".(Hb 4,13) - "Oh! Que profundidade das riquezas, da sabedoria e do conhecimento de Deus!"(Rm 11,33) - "Deus é verdadeiro".(Rm 3,4)- "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". (Jo 14,16)- "Vossa destra é cheia de justiça". (Sl 47,11) - "Vós abris a mão, e encheis de bênçãos todos os viventes". - "Para onde irei, a fim de esquivar-me de Vosso espírito, e para onde fugirei da Vossa face? Ainda que tomasse asas, ao romper da aurora, e fosse morar nos confins do oceano, ainda lá me guiaria a Vossa mão, e Vossa destra me tomaria". - "Porventura, não encho Eu o céu e a terra? Diz o Senhor".
Não só aos filósofos e eruditos ...
Por grandes e sublimes que sejam os conceitos que, de harmonia com a doutrina da Sagrada Escritura, os filósofos tiraram da investigação das coisas criadas, devemos todavia reconhecer a necessidade de uma revelação sobrenatural.
mas também aos simples e ignorantes,
Para esse fim, basta considerar que a excelência da fé, como acima foi dito, não consiste apenas em patentear, aos simples e ignorantes, com clareza e prontidão, o que eminentes sábios conseguiram averiguar só depois de longas lucubrações. O conhecimento que a fé nos transmite dessas verdades, é também muito mais certo e estreme de erros, do que as noções adquiridas com os recursos ciência meramente humana.
dos mais sublimes mistérios
Além disso, quão superior não deve ser, aos nossos olhos, o conhecimento que a fé nos dá da essência divina, para o qual a contemplação da natureza não leva em geral todos os homens, enquanto a luz da fé propriamente o franqueia a todos os crentes?
Esse conhecimento está depositado nos Artigos do Símbolo. Expla-nos a unidade da essência divina, a distinção das três Pessoas. Ensina-nos que o último fim do homem é o próprio Deus, do qual o homem esperar a posse da celestial e eterna felicidade, segundo a palavra de - Paulo: "Deus retribuirá aos que o procuram".(Hb 11,6)
Para mostrar a grandeza dessa recompensa, e como a inteligência é de si mesma incapaz de imaginá-la, o Profeta Isaías disse muito antes de Paulo: "Nunca ninguém ouviu, nem ouvido algum percebeu, nem olhar enxergou, a não serdes Vós, ó meu Deus, o que tendes preparado para os que em Vós esperam". (Is 64,4)
Mostram-nos também a unidade de Deus:
a) prova filosófica:
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Das explicações dadas, segue-se também a obrigação de confessarmos que há um só Deus, e não vários deuses. A razão é óbvia. A Deus atribuímos suma bondade e perfeição. Ora, em vários seres não pode haver perfeição em grau sumo e absoluto. Se a um deles falta alguma coisa ser sumamente perfeito, por isso mesmo é imperfeito, e não lhe compete a natureza divina.
b) prova teológica:
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Comprovam esta verdade, muitas passagens dos livros Sagrados. Está escrito: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é um só " (Dt 6,4). Além disso, há um preceito do Senhor: "Não tereis deuses estras em Minha presença". (Ex 20,30) E pela boca do Profeta diz [Deus] com insistencia: "Eu sou o Primeiro, e Eu sou o Último. Fora de Mim, não há outro Deus".(Is 41,4) O Apóstolo também o atesta sem ambigüidade: "Um só Senhor, só fé, um só Batismo". (Ef 4,5)
"Deuses" na Escritura.
Não devemos estranhar que a Sagrada Escritura, por vezes, aplique o nome de "deuses" a seres criados. Quando chama de deuses aos juízes e profetas, não o faz à moda dos gentios que, louca e impiamente, imaginavam a existência de muitas divindades. Com tal expressão, quer apenas designar algum poder ou encargo extraordinário, que lhes foi confiado pela munificência de Deus.
resumo e transição
A fé cristã crê, pois, e confessa que Deus é uno em natureza, substância e essência, conforme o definiu o Símbolo do Concílio de Nicéia, em confirmação da verdade. Mas, subindo mais alto, ela crê de tal maneira em Deus Uno que, ao mesmo tempo, adora a Unidade na Trindade, e a Trindade na Unidade. É desse mistério que vamos tratar agora.
O nome de "Pai" designa Deus:
1. Como criador e governador do mundo ...
No Símbolo, vem a seguir a palavra "Pai" Ora, dá-se a Deus o nome de "Pai" sob vários pontos de vista. É preciso, pois, explicar primeiro o sentido, que lhe cabe neste lugar.
Não obstante as trevas do paganismo, chegaram alguns homens a reconhecer, sem a luz da fé, que Deus é uma substância eterna, da qual tiveram origem todas as coisas, e cuja Providência tudo governa, e tudo conserva em sua ordem e posição. Assim como chamamos de pai a quem funda uma família, e a dirige com critério e autoridade, assim também quiseram eles, por analogia, chamar de "Pai" a Deus, a quem reconheciam como Criador e Governador de todas as coisas.
A Sagrada Escritura emprega o termo também no mesmo sentido. Falando de Deus, declara que Lhe devemos atribuir a criação, o domínio e a admirável provisão de todas as coisas. Numa passagem lemos: "Não é Ele teu Pai, que te adquiriu, que te fez e tirou do nada?" (Dt 32,6) - E noutra: "Porventura, não é um só o Pai de todos nós? Não foi o mesmo Deus que nos criou?" (Ml 2,10)
2. Como Pai dos cristãos
Com maior insistência, e num sentido todo particular, Deus é chamado Pai dos cristãos, principalmente nos Livros do Novo Testamento.
Os cristãos "não receberam o espírito de servidão, para estarem novamente com temor, mas o espírito da filiação adotiva, o qual nos faz exclamar: Abba, Pai!" (Rm 8,15) - Tão grande é "o amor do Pai para conosco que somos chamados e de fato somos filhos de Deus".(I Jo 3,1) - "Se, porém, somos filhos, somos também herdeiros, sim, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo"(Rm 8,17), que é o Primogênito entre muitos irmãos (Rm 8,29), e não se vexa de nos chamar irmãos. (Hb 2,11)
Considerando, pois, quer o fato comum da Criação e da Providência, quer a grande realidade da adoção sobrenatural, têm os cristãos toda a razão de professarem sua fé em Deus Pai.
3. Como Primeira Pessoa da S.S. Trindade
Além destas noções assim formuladas, ao ouvirmos o nome de Pai [aplicado a Deus], devemos elevar o espírito para a contemplação de mistérios mais sublimes. Pelo nome de "Pai", a Revelação nos permite entrever aos poucos o que se acha profundamente oculto e encerrado naquela "luz inacessível onde Deus habita" , mistérios que a perspicácia do espírito humano não podia certamente atingir, nem tampouco suspeitar.
O termo indica que, na unidade da natureza divina, não devemos crer na existência de uma só Pessoa, mas de várias Pessoas realmente distintas.
origem eterna das três Pessoas
São três as Pessoas que existem numa só divindade: O Pai, que por ninguém foi gerado; o Filho, que gerado foi pelo Pai, antes de todos os séculos; o Espírito Santo, que também desde toda a eternidade procede do Pai e do Filho.
Na unidade da natureza divina, o Pai é a Primeira Pessoa, e "com seu Filho Unigênito e o Espírito Santo é um só Deus e um só Senhor, não na singularidade de uma só Pessoa, mas na Trindade de uma só natureza".
distinção de Pessoas ...
Não é lícito supor, nas três Pessoas, qualquer diferença ou desigualdade. Por conseguinte, só devemos considerá-las distintas em suas respectivas propriedades: O Pai não é gerado; o Filho é gerado pelo Pai; o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, mas igualdade de natureza.
Desta maneira, confessamos ser a mesma essência e a substância das três Pessoas; e "na confissão da verdadeira e sempre eterna divindade" cremos que é preciso adorar, pia e santamente, "não só a distinção nas Pessoas, mas também a unidade na essência, e a igualdade na Trindade".
Quando, pois, dizemos ser o Pai a primeira Pessoa, não é para entender como se na Trindade supuséssemos a idéia de anterior ou posterior, de maior ou menor. Tanta impiedade não deve infiltrar-se nos ânimos dos fiéis, pois a religião cristã apregoa, com relação às três Pessoas, a mesma eternidade, a mesma glória, e a mesma majestade.
Motivo da Paternidade da Primeira Pessoa
Com certeza, e sem a menor dúvida, afirmamos ser o Pai a Primeira Pessoa, porque é um princípio sem princípio. E como se não distingue, das outras Pessoas senão pela propriedade de Pai, é a Ela somente que se atribui, principalmente, a eterna geração do Filho. Mas, para inculcar que a Primeira Pessoa foi sempre Deus e sempre Pai ao mesmo tempo, é que no Símbolo enunciamos juntos os nomes de Deus e Pai.
Terminologia obrigatória
Ora, não há coisa mais perigosa do que versar este assunto, porque é o mais profundo e o mais difícil de todos; assim como não há mais grave responsabilidade, se viermos a errar na formulação e explicação deste mistério. Por isso, o pároco ensinará que é preciso reter, religiosamente, os termos "essência" e "pessoa" como [os únicos adequados] para exprimir esse mistério. Os fiéis devem ficar sabendo que a unidade está na essência, e a distinção nas pessoas.
Investigação sem sutileza
No mais, força é evitar toda sutileza de investigação, lembrando-nos do que sentencia a Escritura: "Quem quer sondar a majestade, será oprimido pelo peso de sua glória".(Pr 25,27) Para nós, deve bastar a certeza que a fé nos dá, de ter Deus assim falado. Grande loucura e desgraça seria, para nós, o não crermos em Suas palavras: "Ensinai, diz Nosso Senhor, todas as gentes, e batizai-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo".(Mt 28,19) E noutro lugar: "Três são os que dão testemunho no céu: o Pai, o Verbo e o Espírito Santo. E estes três são uma só coisa". (I Jo 5,7)
t) frutos desta doutrina
Quem pela graça de Deus crê estas verdades, reze com perseverança, e conjure a Deus Pai, que do nada criou todas as coisas; que tudo dirige com suavidade; que nos deu poder de tornar-nos filhos de Deus, que revelou à inteligência humana mistério da Santíssima Trindade. Ore, pois, sem interrupção, para ser um dia "recebido nos eternos tabernáculos" ; para ser julgado digno de contemplar essa infinita fecundidade de Deus Pai, que, considerando-Se e reconhecendo-Se a Si mesmo, gera ao Filho, que Lhe é igual e semelhante; - [para ser digno de ver] também como o Espírito Santo, que é de ambos a mesma e igual caridade, procedendo do Pai e do Filho, une entre Si, com vínculo eterno e indissolúvel, Aquele que gera e Aquele que é gerado; - [para ser digno afinal de verificar] como assim existe uma unidade de essência na Divina Trindade, ao mesmo tempo que existe uma perfeita distinção entre as três Pessoas.
Depois veremos: Todo Poderoso
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