domingo, 11 de março de 2012

Chesterton


O Deus na caverna

"[..]Onipotência e impotência, ou divindade e infância, criam definitivamente uma espécie de epigrama que um milhão de repetições não conseguem transformar numa banalidade. Não é nenhum exagero chama-lo de único. Belém é decididamente um lugar onde os extremos se encontram.

Aqui começa, nem é preciso dize-lo, outra poderosa influência para a humanização da cristandade. Se o mundo quisesse o que se chama de um aspecto controverso do cristianismo, provavelmente escolheria o Natal. Todavia, o Natal está obviamente ligado ao que se supõe ser um aspecto controverso ( eu jamais consegui, em estágio algum de minhas avaliações, imaginar por quê): o respeito prestado à abençoada Virgem..

Na minha infância uma geração mais puritana levantou objeções contra a estátua sobre a minha igreja paroquial representando a Virgem e o Menino. Depois de muita controvérsia, concordaram em tirar a criança. Ter-se-ia até a impressão de que isso era mariolatria ainda mais deturpada, a menos que a mãe fosse considerada menos perigosa quando despojada de uma espécie de arma. Mas a dificuldade prática é também uma parábola.

Não se pode cortar da estátua de uma mãe todo o cenário de um recém-nascido. Da mesma forma, não se pode manter a ideia de uma criança recém-nascida suspensa no vazio, ou pensar nela sem pensar em sua mãe. Não se pode visitar a criança sem visitar a mãe, não se pode, na vida humana normal, abordar a criança a não ser por intermédio da mãe. Se nós simplesmente quisermos pensar nesse aspecto da vida de Cristo, a outra ideia é consequência como é uma consequência na história.

Devemos excluir Cristo do Natal, ou o Natal de Cristo: ou então devemos admitir, mesmo que seja apenas como admitimos num quadro antigo, que aquelas duas cabeças sagradas estão próximos demais para que suas auréolas não se misturem ou se sobreponham"

Fonte: O Homem Eterno - pag 181

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