quarta-feira, 14 de março de 2012

Confessando Crianças.


Por Padre Leo Trese

14,15

O resto da correspondência terá de esperar. É o momento de ir confessar os garotos e para isso precisarei de uma hora e quinze, pois são perto de quarenta.

Dois minutos para cada um não me parecem muitos, mas ainda me posso lembrar do tempo em que perdia a paciência quando levava uma hora a confessar por volta de sessenta.

Era uma época em que celebrava a Missa com tanta velocidade que quase fazia vento com as mãos ao dizer o Senhor esteja convosco; em que, ao dar Comunhão, dizia o Corpo de Cristo de qualquer jeito; em que as paredes do confessionário estremeciam como um tambor com as minhas entradas e saídas nas atarefadas tardes de sábado.

Talvez seja um pouco exagerado, mas as gerações de hoje me consideraria um verdadeiro Fittipaldi. Nunca compreenderei como fui induzido pelo demônio a admitir que havia algo de admirável na pressa. Mas é fácil compreender por que queria ele que eu pensasse assim. Satanás não é capaz de impedir o fluxo de graça que os Sacramentos derramam, mas tenta neutralizar uma parte da sua fecundidade, fazendo com que sejam administrados por mãos descuidadas.

As confissões, por exemplo. Não sei quando percebi pela primeira vez que não devia ser como uma máquina expedidora de Sacramentos; talvez tenha sido por uma chispa de graça na meditação da manhã. De qualquer modo, iluminou-se em mim a idéia de que " médico de almas" e "guia espiritual" são mais de que meras frases de uma prédica sobre o Sacramento da Penitencia.

Evidentemente, nunca deixei de admoestar com severidade um penitente que faltasse sistematicamente à Missa ou que tivesse andado com a mulher do próximo. Mas, quando se tratava de almas já de si piedosas, era fácil ouvi-las numa meia sonolencia, enquanto perguntava a mim mesmo se chegaria em casa a tempo de ouvir a transmissão de um jogo de futebol ou pensava nova idéia para o próximo sermão dominical.

Enquanto me ajoelho diante do altar e recito o Vinde Espírito Santo, penso se não haverá no céu almas que goza de uma grau a menos de glória por se terem confessado comigo. E fico com calafrios ao ocorrer-me que talvez possa haver alguém que se tenha condenado por eu ter cochilado quando precisava ter lhe dito umas palavras de salvação.

Um movimento de passos as minhas costas indica-me que os meninos me estão esperando. Mais uns segundos, enquanto renovo a minha resolução de dar importancia aos seus pecadinhos. Atrás de mim estão quarenta santos em potencial. A graça de Deus moldará as suas almas, mas a minha mão tem que sustentar o conzel que lhes dará forma. Nunca tão eloquentemente como agora pode um coração de um sacerdote falar e ser ouvido pelo coração de uma criança.

Dez palavras agora valem mais do que cem ditas na aula ou mil no púlpito.

Esqueceram diariamente as orações da manhã? Uma palavra sussurrada sobre o valor do oferecimento das obras matinal, uma visão rápida de um dia desperdiçado, como um dever de casa feito com uma esferográfica sem tinta. Furtos infantis? A infancia pobre de Jesus, sem brinquedos nem bombons, será o melhor remédio. Irritam-se? Então era só brincadeira que voce dizia a Jesus, na Via-Sacra, que gostaria de ajudá-lo a levar a cruz?

A primeira vez que comecei a dar conselhos aos pequenos, a Irmã afligiu-se....Demoravam tanto a confessar-se (quase dois minutos) que achou que deviam estar-se enganado no ato de contrição. Mas saíam tão sorridentes que não pode resistir a curiosidade.

Perguntou a uma menininha o que tinha feito durante tanto tempo. "O padre esteve contando-me uma história", foi a resposta. Agora, enquanto me soergo e olho pelas cortinas, vem-me ao pensamento que talvez a piedade estéril e anemica dos "bons catolicos" se deva as confissões rotineiras e que se habituaram desde crianças.

Sorrio na escuridão, imaginando o choque que experimentaria uma dessas penitentes que se acusam todas as semanas de "distrações nas orações", se lhe perguntasse como quem não quer nada: "Gostaria de ser santa?" Talvez o tente no próximo sábado.

Deve haver sacerdotes que recomendam a oração mental aos seus penitentes, mas eu nunca fui um desses. Agora penso nisso, talvez seja uma boa idéia. Pergunto-me se haverá algum livro que se adapte a vida dos leigos e que possa fazer por eles o que as meditações de Chaignon fazem pelos padres.

Um livro assim, baseados em princípios sólidos, ajudar-me-ia a ir eliminando escandalos e depois se envolvem em injustiças sociais, discriminações raciais ou intrigas políticas.

Mas vejamos, Leo! Não são as confissões das crianças que te ocupam agora? Enquanto abro a porta do confessionário, faço um último esforço por afastar do meu espírito qualquer outra preocupação.

Um dos garotos dirá: "Fui ao "banheiro" na rua" . E os atos de contrição serão variados e confusos: "Estou muito pouco triste pelos meus pecados" ou "Preza-me Senhor de Vos ter ofendido".

Contudo, no meio de tudo isso, nunca me sentirei tão unido ao meu Mestre como neste momento.

Cristo e seus pequeninos! Senhor, ajudai-me a levá-los até junto de Vós.

Fonte: Vaso de Argila

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