sexta-feira, 9 de março de 2012

Honrar Pai e Mãe


"Honra teu pai e tua mãe, para teres longa vida na terra, que o Senhor teu Deus te há de dar".

Catecismo Romano

Importância dos Preceitos da Segunda Tábua

Estes preceitos nos ensinam a caridade do próximo; tomados, porém, em sua plena extensão, levam igualmente a Deus, que é a última razão por que amamos nosso próximo. Por isso, Cristo Nosso Senhor disse que eram iguais entre si os dois Preceitos de amar a Deus e amar ao próximo.

Mal podemos descrever quantas vantagens se encerram nessa palavra de Nosso Senhor, ela produz seus frutos, abundantes e excelentes, e constitui uma espécie de sinal, que faz transparecer a obediência e veneração que se devem ao Primeiro Mandamento.

São João diz: "Quem não ama seu irmão, a quem vê, como pode amar a Jesus, a quem não vê?" Analogamente, se não amamos e respeitamos nossos pais, a quem devemos amar segundo a vontade de Deus, apesar de em quase sempre diante de nossos olhos: que estima e veneração tributaremos a Deus, Pai supremo e boníssimo, a quem não vemos de maneira alguma? Por aí se patenteia a consonância que existe entre ambos os Mandamentos.

1. Âmbito do IV Mandamento.

O âmbito, porém, deste Preceito é muito vasto. Além daqueles que nos geraram, muitas são as pessoas que devemos venerar, como se fossem nossos pais, em razão de sua autoridade, de sua posição, de sua benemerência, de seu cargo e função importante.

Por sua parte, este Preceito suaviza também a tarefa dos pais e todos os superiores, cujo cuidado principal é conseguir que seus subordinados tenham uma vida honesta, enquadrada na Lei Divina. Ora, muito fácil será a tarefa, se todos reconhecerem que, por ordem e disposição de Deus, se deve tributar aos pais a mais alta veneração

Mas, para isto conseguirmos, é preciso conhecer certa diferença que há entre os Preceitos da Primeira e os da Segunda Tábua da Lei.

2. Sua integração nas Duas Tábuas

Antes de tudo, temos que saber que os divinos Preceitos do Decálogo foram gravados em duas tábuas. A primeira, como reza a tradição dos Santos Padres, continha os três Preceitos relativos ao amor a Deus. A segunda abrangia os restantes.

Essa enumeração vem muito a propósito, porquanto a própria seqüência dos Preceitos faz ressaltar a sua razão intrínseca. Ora, nas Sagradas Escrituras, todas as ordens e proibições da Lei Divina se reduzem a uma das duas categorias, pois toda e qualquer obrigação se relaciona com a caridade, quer para com Deus, quer para com o próximo.

Por sinal, os três Preceitos anteriores ensinam a caridade para com Deus; o que, porém, diz respeito ao amor e união dos homens entre si, se contém nos sete Preceitos restantes. Não é, pois, sem motivo que se fez tal distinção, de sorte que uns Preceitos foram descriminados na Primeira Tábua, e outros na Segunda.

3. Sua relação com o 1.0 Preceito...

Nos três Preceitos anteriores, o objeto intrínseco, por assim dizer, é Deus, o sumo Bem; nos demais é o bem do próximo. Aqueles propõem o amor máximo; estes, um amor que fica próximo do supremo. Aqueles visam o fim [de toda a Lei]; estes, os meios que se coordenam ao fim. (Santo Thom. II-II q.122 art.1-2)

Mais ainda. O amor a Deus de Deus depende, pois Deus deve ser sumamente amado, por atenção a Ele mesmo, e não por outro motivo qualquer. Porém o amor ao próximo tem sua origem no amor a Deus, e deve referir-se a esse amor, como norma segura.

Pois, se amamos nossos pais, se obedecemos aos superiores, se respeitamos as autoridades, fazemo-lo, antes de tudo, porque Deus é quem os criou e quis prepô-Io a outros, para governar e defender os demais pelo seu ministério. Ora, sendo Ele mesmo que nos manda honrar tais pessoas, é de nossa obrigação fazê-lo, por isso mesmo que Deus as distinguiu com essa dignidade.

Em conseqüência, a honra que prestamos aos pais parece referir-se antes a Deus, do que aos homens. Assim o lemos em São Mateus, quando do acatamento devido aos superiores: "Quem vos recebe, a Mim recebe".

E na epístola aos Efésios, instruindo os escravos, diz o Apóstolo: "Servos, obedecei aos vossos senhores temporais, com temor e tremor, de coração sincero, como se fosse a Cristo; não servindo só quando sois vistos, como para agradar aos homens, mas fazei-o como servidores de Cristo".

a) ... que o limita...

Acresce, ainda, que nenhuma honra, nenhuma reverência, nenhuma veneração é bastante digna de tributar-se a Deus. O amor para com Ele pode crescer em proporções infinitas. Por isso, é necessário que nosso amor a Deus se torne cada vez mais ardente, pois segundo o Seu preceito devemos amá-Iode todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todas as nossas forças.

Ora, o amor que nutrimos ao próximo tem seus limites.

Nosso Senhor manda amar o próximo como a nós mesmos. Se alguém ultrapassa os limites, a ponto de ter igual amor a Deus e ao próximo, comete um pecado de máxima gravidade. O Senhor declarou: "Se alguém vem a Mim, e não odeia seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até a sua própria vida, não pode ser Meu discípulo".

No mesmo sentido falou: "Deixa os mortos sepultarem os seus mortos" - quando certo homem queria primeiro enterrar seu pai, para depois seguir a Cristo. Mais clara é a explicação que deste assunto se acha em São Mateus: "Quem ama pai e mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim"
.

b) ... que o engrandece

Não há dúvida, devemos extremar-nos no amor e respeito a nossos pais. Mas, para que nisso haja piedade filial, é preciso, antes de tudo, prestar-se a principal honra e veneração a Deus, que é o Pai e Criador de todos os homens. Por conseguinte, devemos amar nossos pais, de modo que toda a veemência desse amor se refira ao Pai Celeste e Sempiterno.

Se alguma vez as ordens dadas pelos pais contrariarem os Preceitos de Deus, é evidente que os filhos devem antepor a vontade de Deus aos maus intentos dos pais, lembrando-se daquela advertência: "É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens".

Que é "honrar"?

Consiste ela em ter apreço por alguma pessoa, e nutrir 0 mais alto conceito de tudo o que se lhe refira. Acompanham essa honra os sentimentos de amor, respeito, obediencia e veneração. De caso pensado, empregou-se na Lei o termo "honra", e não "amor" ou "temor", apesar do muito que devemos amar e temer nossos pais. Quem ama, nem sempre respeita e venera; quem teme, nem sempre ama. Mas quem honra de coração, tambem ama e teme.

Que se entende por pais?

Ainda que a Lei fale, dos pais que nos geraram, esse nome se aplica tambem a outras pessoas que a Lei por certo abrange da mesma maneira. Sem mais dificuldade o deduzimos de numerosas passagens da Sagrada Escritura. Conforme ja fizemos notar, alem dos pais que nos deram a vida, falam as Sagradas Escrituras de outras especies de pais, a quem se deve uma honra correspondente.

Em primeiro lugar, chamam-se pais os Superiores eclesiasticos, tanto prelados como sacerdotes. Prova-o a passagem do Apóstolo, quando escrevia aos Corintios: "Nao escrevo estas coisas para vos confundir, mas exorto-vos como filhos meus carissimos. Pois, ainda que tenhais dez mil mestres em Cristo, nao tendes contudo muitos pais. Mas fui eu que pelo Evangelho vos gerei em Jesus Cristo" (I Co 4,14) E no Eclesiastico esta escrito: "Louvemos os ilustres varões, nossos pais, a cuja geração pertencemos".(Sr 44,1)

Da-se ainda o nome de "pais" aqueles que receberam uma jurisdição, uma delegação de poderes, o governo geral da Nação. Assim é que Naamã era chamado pai pelo seus servos. (2Rs 5,13)

Outrossim, chamamos de "pais" aqueles a cuja direção, lealdade, honradez e prudencia estão confiadas outras pessoas. Desta categoria são os tutores, curadores, educadores e mestres. Por isso, os filhos dos Profetas davam o titulo de "pai" a Elias e Eliseu. (2Rs 2,12; 13,14) Afinal, chamamos de "pais" os anciãos e as pessoas encanecidas, a quem alias, devemos reverencia.

Devemos honrar todos os pais, seja qual for a sua categoria, mas que em primeiro lugar estão os pais que nos puseram no mundo, pois a eles e que a Lei Divina se refere de modo particular.

A. Obrigacao de filhos e súditos:

São eles, por assim dizer, imagens de Deus imortal; neles vemos uma representação de nossa origem; por eles nos foi dada a vida; deles Se serviu Deus para nos dar uma alma racional; foram eles que nos levaram aos Sacramentos, que nos formaram para a vida religiosa e social, que nos instruiram na integridade e pureza de costumes.

Com razão se menciona o nome de "mãe", neste Preceito, para termos em consideração seus benefícios e benemerencias para conosco, com quanto cuidado e angustia ela nos trouxe debaixo de seu coração, com quanta dor e sofrimento nos deu a luz e nos criou.

Carater de nossa piedade filial

Devemos honrar nossos pais de tal maneira, que nossas demonstrações de respeito para com eles procedam, visivelmente, de um coração cheio de amor e carinho. O principal motivo desta nossa obrigação e o nutrirem eles tal afeição para conosco que, por nossa causa, não recusam nenhum trabalho, nenhuma fadiga, nenhum perigo, não podendo experimentar maior alegria do que se sentirem benquistos de seus filhos, a quem-amam extremosamente.

José do Egito, por ser o primeiro em glória e majestade abaixo do Rei, recebeu com todas as honras a seu pai, quando este se transferiu para o Egito. Salomão levantou-se, indo ao encontro de sua mãe que chegava, inclinou-se diante dela, e colocou-a a sua direita no trono real.

Manifestações da piedade filial

Ha ainda outras mostras de honra, que devemos prestar aos nossos pais. Assim é que tambem os honramos, quando nos afervoramos em pedir a Deus, para que tudo lhes corra prosperamente; que tenham a maior estima e consideração entre os homens; que sejam bem aceitos aos olhos de Deus e dos Santos no céu.

Outra maneira de honrar nossos pais é regular nossos planos pelo seu juízo e vontade. Assim o aconselha Salomão: "Ouve, meu fllho, as advertências de teu pai, e não abandones a doutrina de tua mãe, para que isto seja como um adorno em tua cabeça, e como um colar no teu pescoço".

Do mesmo sentido são as exortações dadas por Sao Paulo: "Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois assim é de justiça". E tambem: "Fllhos, obedecei em tudo a vossos pais, porque nisso se compraz o Senhor".

Abonam esta doutrina os exemplos de pessoas muito virtuosas. Isaac submeteu-se, humilde, sem relutancia, quando seu pai se pos a liga-lo para o holocausto. E os Recabitas, por não contrariarem o preceito de seu pai, abstiveram-se de vinho para sempre

Honramos tambem nossos pais:

1 - imitando-lhes os bons exemplos e costumes, pois o maior sinal de estima que se pode dar a uma pessoa e procurar a maior semelhança com ela.

2 - , quando não só pedimos, mas também pomos em pratica os seus conselhos.

3 - quando os socorremos, ministrando-lhes o necessário para a sua mantença e posição social.

Prova-o uma palavra de Cristo que, reprovando a dureza dos fariseus para com os pais, lhes perguntou: "Por que violais o Mandamento de Deus, por amor de vossa tradição? Pois Deus disse: Honra teu pai e tua mae - e: Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe, seja punido de morte. Vós, porem, apregoais: Todo aquele que disser a seu pai ou a sua mãe: Qualquer oferenda que eu faça a Deus te há de aproveitar - esse já não esta obrigado a honrar seu pai e sua mãe. Desta forma, invalidastes o Mandamento de Deus, por causa de vossa tradição".

Os deveres da piedade filial, devemos cumpri-los em todas as ocasiões, mas sobretudo quando os pais caem em doença perigosa. Cumpre-nos cuidar que nada se omita a respeito da Confissao e dos mais Sacramentos, que todos os cristãos devem receber, quando a morte esta iminente.

Procuremos que pessoas boas e piedosas os visitem com frequencia, para os confortarem e aconselharem, quando enfraquecidos na fé, para os levarem a esperança da vida eterna, quando ja se acham em boas disposições, de sorte que ponham toda a sua alma nas mãos de Deus, depois de tela desapegado das coisas humanas

Sendo, assim, venturosamente acompanhados pela fe; esperança e caridade, tendo o socorro da santa Religião, [nossos pais] não só temerão a morte, que é realmente inevitavel, mas até a julgarao desejavel, porque franqueia o acesso para a eternidade.

Por ultimo, presta-se honra aos pais, quando falecidos, fazendo-lhes os funerais, promovendo condignas exequias, preparando uma honesta sepultura, garantindo os sufragios e Missas aniversarias, executando fielmente suas declarações de ultima vontade.

Obrigacoes para com os Superiores

Devemos, no entanto, honrar não só aqueles que nos deram a vida, mas tambem os que em geral merecem o nome de pais, como sao os Bispos, sacerdotes, reis, principes, magistrados, tutores, curadores, mestres, educadores, anciaos e outras pessoas de igual condição. Todos eles são dignos, uns mais e outros menos, de tirar proveito de nossa caridade, de nossa obediencia, de nossa fortuna.

Dos Bispos e outros superiores eclesiasticos esta escrito: "Sacerdotes, que desempenham bem o seu ministerio, sao dignos de honra dobrada, mormente os que se afadigam em pregar e ensinar". (ITm 5,17)

Na verdade, quantas provas de amor não deram os Galatas ao Apóstolo? Ele próprio lhes rendeu grande preito de gratidão, quando escrevia: "Posso assegurar-vos que, se possivel fora, até os próprios olhos teríeis arrancado, para me fazerdes presente deles". Aos sacerdotes, devemos proporcionar-lhes o que for necessário para a sua manutenção. Por isso perguntava o Apóstolo: "Quem vai jamais a guerra, e custeia-se a si mesmo?" E no Eclesiastico está escrito: "Honra os sacerdotes, e purifica-te do pecado pela oferta das espaduas. Da-lhes, como te foi mandado, a parte das primicias e da expiação".

Deve-se-lhes tambem obediencia, conforme ensina o Apóstolo: "Obedecei aos vossos superiores, e sujeitai-vos a eles, pois eles estao vigilantes, como quem ha de dar contas de vossas almas". E Cristo Nosso Senhor mandou até obedecer aos maus pastores, quando declarava: "Na cadeira de Moises estão sentados os escribas e fariseus. Respeitai, pois, e executai tudo o que vos disserem. Mas não façais de acordo com suas obras, porque eles falam e não praticam".

Outro tanto se diga dos reis, príncipes, magistrados e mais pessoas, a cujo poder estamos submetidos. Na epistola aos Romanos, o Apóstolo se detem em especificar qual honra, respeito e submissao Ihes devemos a eles. Faz lembrar a obrigação de se rezar também por eles. E São Pedro diz por sua vez: "Sede submissos, por amor de Deus, a toda autoridade humana, seja ao rei como soberano, seja aos governantes como seus delegados".

A honra que lhes tributamos a Deus se refere, pois os homens acatam a preeminencia do cargo, por ser esta um reflexo do poder divino. Assim reverenciamos tambem a Providencia de Deus que, confiando-lhes o exercício de um cargo publico, se serve deles como ministros de Seu poder

As autoridades indígnas

Nossa veneração, naturalmente, não se reporta a malícia e perversão humana, se tal houver nos detentores do poder, mas a autoridade divina de que estão revestidos. Por mais estranho que pareça, nunca poderá haver uma razão suficiente para lhes negarmos o devido respeito, ainda que eles nos persigam com todo rancor e hostilidade

Assim é que Davi levava por diante suas grandes atenções para com Saul, embora este lhe mostrasse os piores sentimentos. Davi no-lo da a entender nas seguintes palavras: "Eu era pacato com os que odiavam a paz". Contudo, não podemos obedecer-lhes de maneira alguma, quando dão ordens ímpias e injustas, porque não o fazem de acordo com os seus poderes, mas por injustiça e maldade.

Premios e sansões:

1 - Longa vida...

Seu maior fruto, porem, é que "tenham longa vida". Na verdade, digno de lograr um beneficio, o mais tempo possivel, se torna aquele que o tem continuamente na lembrança. Portanto, os que honram seus pais, e se mostram gratos a quem lhes deu o gozo da luz e da vida, merecem com razao alcançar a extrema velhice.

Depois, é preciso dar uma explicacao bem declarada da divina promessa, pois não se promete apenas o gozo de uma vida eterna e venturosa, mas também da vida que levamos aqui na terra. Assim o explica São Paulo naquela passagem: "A piedade para tudo é proveitosa; tem a promessa, tanto para a vida presente, como para a futura". (ITim 4,8)
.
2 - vida venturosa ...

Esta recompensa não é pequena, nem desprezível, ainda que grandes Santos, como Jó, Davi e Paulo anelavam pela morte, e que pessoas tristes e sofredoras não encontram prazer numa vida prolongada.

Pois a clausula que vem a seguir: " [na terra] que o teu Senhor te há de dar" - promete não só uma vida dilatada, mas tambem o repouso, a paz e a segurança que se requer para uma vida venturosa. O Deuteronomio não se limita a dizer: "para que tenhas longa vida", mas acrescenta tambem: "para que sejas feliz". 0 mesmo pensamento foi, mais tarde, inculcado pelo Apóstolo

O problema da morte prematura

Dizemos, todavia, que Deus prodigaliza tais bens aos homens, cuja piedade filial Ele quer remunerar. Alias, a divina promessa não deixa de ser menos segura e constante, ainda que por vezes seja mais curta a vida daqueles que tiveram grande amor filial a seus pais.

Isto acontece, ou porque é melhor para eles deixar o mundo, antes que abandonem a pratica da virtude e do dever: são, pois, arrebatados, para que "a malícia nao Ihes perverta o entendimento, e a hipocrisia não lhes seduza o coração" . Ou então são separados de seus corpos, na iminencia de males e flagelos públicos, para escaparem as provações dos tempos que correm. "O justo, diz o Profeta, é arrebatado, em vista da malicia reinante".

Assim acontece, para que não venha a perigar sua virtude e salvação, quando Deus castiga os pecados dos homens; ou para que, em tempos de suma tristeza, não tenham de chorar, amargamente, a desgraca de parentes e amigos.

Por isso, mais razões há para se temer [grandes castigos de Deus], quando pessoas virtuosas sao ceifadas por uma morte prematura.

3. Castigos dos maus filhos

Assim como Deus prometeu premio e benção, pelo cumprimento de seu dever, aos que são carinhosos para com os pais: assim tambem reserva penas gravíssimas aos filhos ingratos e impiedosos. Pois esta escrito: "Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe, seja punido de morte". E "Quem acabrunha seu pai e sua mãe é um infame desgraçado" ". Noutro lugar: "Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe, verá sua candeia apagar-se no meio das trevas". Afinal: "O olho que escarnece de seu pai, e despreza o parto de sua mãe, seja arrancado pelos corvos das torrentes, e comido pelos filhotes da aguia".

Conforme lemos nas Escrituras, dos filhos que ultrajaram os próprios pais, muitos houve contra os quais se inflamou a vinganca da cólera divina. Assim Deus não deixou Davi sem desafronta. Infligiu o devido castigo a Absalao, e puniu seu crime, fazendo que fosse trespassado por três lanças.

Daqueles, porém, que não obedecem aos sacerdotes, esta escrito: "Quem se ensoberbece, não querendo obedecer ao sacerdote, que nesse tempo ministra ao Senhor teu Deus, tal homem seja, por sentença do juiz, condenado a morte"

Obrigações dos Pais e Superiores

1. Educar por bons princípios

Se, pois, a Lei de Deus manda aos filhos honrar, obedecer e acatar seus pais, é tambem dever e encargo dos pais educar os filhos por princípios e costumes bem assentados, dar-lhes as melhores normas de vida, para que eles, tendo boa instrução e formação religiosa, sirvam a Deus com perseveranca e fidelidade. Dessa maneira procederam os pais de Susana, consoante o que lemos nas Escrituras.(Dn 13,3)

Por isso mesmo, advirta o sacerdote que, para com os filhos, devem os pais haver-se como mestres da virtude, pela retidao, continencia, modestia, e santidade, procurando, antes de tudo, evitar três pontos, contra os quais costumam muitas vezes cometer faltas.

Primeiro, quando falam ou repreendem, não sejam asperos demais para com os filhos. É o que manda o Apostolo na epístola aos Colossenses: Pais, nao provoqueis o rancor de vossos filhos, para que se nao tornem retraidos". Há perigo de ficarem covardes e subservientes, porque de tudo se arreceiam. Por isso, deve [o paroco] ordenar que os pais evitem o rigor demasiado, procurando antes morigerar os filhos, do que castiga-los propriamente.

Segundo, não perdoem nada aos filhos, por nímia indulgencia, quando cometerem alguma falta que exija castigo e repreensão. Nao raras vezes os filhos se desencaminham por causa da excessiva brandura e complacencia dos pais. Para os desviar dessa irrazoavel condescendencia, sirva-lhes de exemplo o sumo sacerdote Heli, que sofreu o pior dos castigos, por se ter excedido na bondade para com os filhos.

Terceiro, não sigam os pais princípios errados na instrução e educação dos filhos, o que seria a maior das calamidades. Pois muitos são os que pensam e só cuidam em deixar aos filhos bens materiais, rendas pecuniarias, grandes e suntuosas heranças. Não os exortam a pratica da religiao e piedade, nem a aquisição de bons conhecimentos, mas antes a ganancia de aumentarem sempre mais a sua fortuna. Pouco se lhes da o bom nome e a salvaçao eterna dos filhos, contanto que estes tenham dinheiro e façam grande fortuna. Poder-se-ia falar ou pensar de modo mais vergonhoso?

Assim herdam eles aos filhos nao tanto os bens de fortuna, quanto os seus crimes e desordens. Em ultima analise, tornam-se guias que os não conduzem ao céu, mas aos eternos suplícios do inferno. Os pais, portanto, devem ensinar seus filhos no temor e na santidade, recebendo por isso copiosos frutos de amor, obediencia e respeito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário