terça-feira, 6 de março de 2012

Um conto de fadas para Adultos



Por Alfonso Aguiló

" Muitas pessoas dizem que a teoria do big bang, como tal, é perfeitamente a auto-criação do Universo, e portanto não precisa de Deus para explicar seja o que for"

O big-bang e a auto-criação do Universo são duas coisas bem diferentes. A teoria do big-bang, como tal, é perfeitamente conciliavel com a existencia de Deus*. (*Essa teoria diz que todo o universo se teria originado de um ponto inicial de massa e energia quase infinitas, mas a teoria nada afirma sobre a origem deste ponto inicial)

Mas, quanto à teoria da auto-criação - que sustenta, mediante explicações mais ou menos engenhosas, que o Universo se criou a si próprio do nada - seria preciso objetar duas coisas:

Primeiro, que desde o momento em que se fala de criação a partir do nada, estamos já fora do método científico, já que o nada não existe e, portanto, não é possível aplicar-lhe o método científico. E, segundo, que é necessária muita fé para pensar que uma massa de matéria ou de energia possa ter-se criado a si mesma.

Tanta fé, que o próprio Jean Rostand - para citar um cientísta de reconhecida autoridade mundial nesta matéria e, no seu tempo, pouco suspeito de simpatia pela doutrina católica - chegou a dizer que essa história da auto-criação é como "um conto de fadas para adultos".

Afirmação que André Frossard reforça ironocamente dizendo que "se deve admitir que algumas pessoas adultas não são muito mais exigentes que as crianças a respeito dos contos de fadas[...]:as partículas originais, sem qualquer impulso nem direção exteriores, começam a associar-se, a combinar-se aleatoriamente entre elas para passar dos quasares aos átomos e dos átomos a moléculas de arquitetura cada vez mais complicada e diversa, até produzirem, depois de milhares de milhões de anos de esforços incenssantes, um professor de astrofísica de óculos e bigode. É o supra-sumo das maravilhas. A doutrina da Criação não pedia senão um milagre de Deus. A da auto-criação exige um milagre a cada décimo de segundo".

Evolução: está certo, mas a partir do quê?

- Há quem entenda a história do Universo como a evolução dos organismos vivos que emergiram da matéria e alcançaram um certo grau de complexidade...

Para os que defendem essas teorias, parece que o mundo é apenas um questão de geometria extraordinariamente complexa. No entanto, por mais que algumas estruturas se compliquem, e por mais que se admita uma vertiginosa evolução da sua complexidade, essa evolução da substancia material depara com pelo menos duas objeções importantes.

A primeira é que a evolução nunca explicaria a origem primeira dessa matéria incial. A evolução transcorre no tempo; tem por pressuposto a Criação.

A segunda é que a passagem da matéria para a inteligencia humana é um salto ontológico - um salto no modo de ser de cada coisa - que não se pode dever a uma simples evolução fruto do acaso.

Por muito que a matéria se desenvolva, não é capaz de produzir um só pensamento que lhe permita compreender-se a si mesma, do mesmo modo que - como exemplifica André Frossard - "nunca veríamos um triangulo que, depois de um extraordinário processo evolutivo, notasse de repente, maravilhado, que a soma dos seus ângulos internos é igual a cento e oitenta graus".

- Há algum inconveniente em que um católico acredite na evolução das espécies? Muitos dizem que não faz sentido que a Igreja continue relutante em aceitar um dado que está provado cientificamente.

Talvez não estejam bem informados, porque a Igreja Católica não tem inconveniente algum em aceitar a evolução do corpo humano a partir de um primata. Para conciliar a doutrina da evolução humana com a teologia católica, é suficiente admitir que Deus agiu num momento determinado sobre o corpo do primeiro casal, infundindo-lhes uma alma humana.

Deus pôde, com efeito, ir formando o corpo do homem a partir de alguma espécie de primata em evolução, de acordo com um projeto desenhado por Ele, e quando esse primata alcançou o grau de desenvolvimento requerido, dotou-o de alma humana.

A Igreja não tem nenhum inconveniente em que um católico aceite essa hipótese, se a considera digna de crédito.

- Então um católico não tem de acreditar ao pé da letra no relato da Criação que aparece no Gênesis?

Não é preciso acreditar ao pé da letra. O relato do ato da Criação que o Genesis oferece, não pretende seu uma explicação científica sobre a origem do ser humano.

As descrições de fenomenos físicos ou naturais que encontramos na Bíblia não pretendem proporcionar-noa diretamente ensinamentos em matéria científica, e os detalhes contidos nessas descrições também não afetam diretamente a doutrina da salvação.

Observa-se perfeitamente que a narrativa do Genesis é um esquema teológico, que não pretende ser histórico, mas proporcionar uma visão geral das verdades mais fundamentais, a fim de deixar claro que o mundo procede somente do poder de Deus. O modo como o processo se levou a cabo é uma questão que a Bíblia deixa completamente em aberto.

O autor do Genesis não se propunha das aulas de astrofísica ou de biologia molecular. Dá a entender que todo o homem, e o homem todo, em corpo e alma, vem de Deus, depende de Deus e foi criado por Deus; que o Universo não é auto-suficiente e que Deus é o criador e senhor de todas as coisas.

As aparentes divergencias que parecem observar-se entre algumas narrativas bíblicas e os conhecimentos científicos atuais devem-se ao sentido matafórico ou figurado com que, em alguns casos, os autores sagrados escreviam, ou então a um modo diferente de expressar-se, de acordo com as aparencias sensíveis ou a maneira de falar do povo da época.

Estudos anteriores AQUI


Fonte: É Razoável crer? - Quadrante

Depois veremos: Deus pode caber na minha cabeça?

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