O elenco de milhares do Apocalípse:
Exceto por uma praga de filmes de anticristos na década de 1970, Hollywood nem mesmo tentou filmar um Apocalípse, como fez com os evangelhos e o livro do Êxodo.Talvez algumas coisas sejam simplesmente estranhas, sangrentas e extravagantes até mesmo para Hollywood. Ou talvez os diretores sintam-se dissuadidos pelo
número de atores que o Apocalípse exigiria (sem mencionar o custo dos efeitos especiais!).
Em Os dez mandamentos, o diretor contentou-se com um elenco de milhares, mas o Apocalíse exigiria literalmente centenas de milhares, pois talvez seja o livro mais populoso da Bíblia.
Quem são essas personagens que enchem os cenários da terra e do céu de João? Neste capítulo, vamos tentar conhecê-los um pouco melhor.Primeiro, porém, Scott confessa: Trilhar esse caminho o assusta! Talvez o assunto que mais fascine e preocupe os estudiosos e pregadores do Apocalípse e os que a ele se dedicam como passatempo seja a identificação das bestas, das criaturas, dos anjos e das pessoas do livro.
A identificação dessas personagens pelo leitor depende, em grande parte, de seu sistema de interpretação.O sistema futurista inspirou os intérpretes a identificar as bestas, em sucessão, com Napoleão, Bismark, Hitler e Stalin, entre outros.
A visão "passadista"- que enfatiza o cumprimento das profecias do Apocalípse no séc.I- tende a identificar as bestas , por ex., com um ou outro imperador romano, ou com a própria Roma, ou com Jerusalém.
Uma terceira perspectiva, às vezes chamada " idealista", considera o Apocalípse uma alegoria da guerra espiritual que todo crente tem de enfrentar.
Ainda outra visão , a "historicista", afirma que o Apocalípse traça o plano-mestre de Deus para a história, do início ao fim.
Que opinião segue Scott? Bem todas elas. Não há nenhuma razão que as impeça de serem todas verdadeiras, simultaneamente. As riquezas da Escrituras são infinitas. Os cristãos primitivos ensinavam que o texto sagrado opera em quatro níveis e que todos eles, ao mesmo tempo, ensinam a verdade única de Deus - como uma sinfonia. Se Scott prefere uma perspectiva às outras, essa é a passadista. Contudo, ele repete, não descarta as outras. O que une todas elas é o que nos liga todos à Cristo: A nova aliança, selada e renovada pela liturgia Eucarística.
No Apocalípse, surge um padrão - de aliança, queda , julgamento e redenção - e esse padrão descreve realmente determinado período da história, mas também descreve cada período da história e a história toda, além do transcurso da vida para todos nós.
Eu, João
Scott já mencionou que há muita controvérsia a respeito da autoria do livro do Apocalípse por João. Embora fascinante, para nosso estudo da Missa e do Apocalípse esse debate é apenas secundário. Entretanto uma coisa está clara: o texto associa-se explicitamente à João (Ap 1,4.9;22,8). E, no NT ( e para os padres da igreja), "João" significa o apóstolo João.
Na verdade, os próprios livros indicam que, se não compartilham um autor comum, eles pelo menos originam da mesma escola de pensamento, pois o Apocalípse e o Quarto Evangelho compartilham muitas preocupações teológicas.
Os dois livros revelam um conhecimento bastante preciso do Templo de Jerusalém e seus rituais; ambos parecem preocupados em apresentar Jesus como o "cordeiro", o sacrifício da nova Páscoa (veja Jo 1,29.36; Ap 5,6).
Além disso, o evangelho de João e o Apocalípse compartilham uma terminologia que, no NT é característica apenas deles. Por ex., só o quarto evangelho e o Apocalípse referem-se a Jesus como " a Palavra de Deus" e só esses dois livros referem-se à adoração segundo a nova aliança " no espírito". E só esses dois livros falam da salvação em termos de "água da vida".
Ainda assim, essa identificação do autor João com o apóstolo João é importante só por nos dar um discernimento da força da visão do Apocalípse.
No evangelho, por ex., João era identificado como " o discípulo que Jesus amava". João era o apóstolo que mais gozava da intimidade do Senhor, o discípulo que estava literalmente mais próximo de seu coração. Na Última Ceia, João, reclinou-se no colo de Jesus. Contudo no Apocalípse quando vê Jesus em seu poder e glória com domínio universal e soberania divina, João cai como morto (Ap 1,17).
São detalhes importantes para nós que queremos ser discípulos "amados" hoje. Embora precisemos lutar por uma relação cada vez mais íntima com Jesus, não poderemos entabular a conversa enquanto não virmos Jesus como quem Ele é, em sua santidade insuperável.
A identidade de João é importante também em relação às preocupações terrenas do Apocalípse. A tradição identifica o apóstolo João como bispo de Éfeso, uma das sete Igrejas destinatárias do Apocalípse. As igrejas identificam-se com cidades, todas as sete localizadas em um raio de 80 kms na Ásia menor, que provavelmente limitava a esfera da autoridade de João. Entendemos porque João, como bispo, foi escolhido para transmitir a mensagem pastoral que encontramos no Apocalípse, em especial nas cartas ás sete Igrejas (Ap 2;3).
" O Cordeiro"
O título e a imagem favoritos do Apocalípse para Jesus Cristo: o Cordeiro. Sim, ele é o príncipe (1,5); está no meio dos candelabros , paramentado como sumo sacerdote(1,13); é o "Primeiro e o Último" (1,17), o "santo" (3,7), "Senhor dos senhores e Rei dos reis" (17,14) - mas Jesus é, irresistivelmente, o cordeiro.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, o Cordeiro é: "Cristo crucificado e ressuscitado, o único sumo sacerdote do verdadeiro santuário, o mesmo 'que oferece e é oferecido, que dá e que é dado'"(n.1137)
Quando vê pela primeira vez o Cordeiro, João está, na verdade, à procura de um leão. Ninguém tem o poder de abrir os selos do livro e revelar seu conteúdo, e João começa a chorar. Então um ancião lhe diz: "Não chores! Eis, ele alcançou a vitória, o leão da tribo de Judá, o rebento de Davi, ele abrirá o livro e seus sete selos" (Ap 5,5). João olha em volta para ver o leão de Judá mas, em em vez disso, ele vê...um cordeiro. Para começar, cordeiros não são muito fortes, e este está de pé , como que "imolado" (Ap 5,6).
Não precisamos repetir tudo que analisamos no cap. dois. Deve ficar claro que Jesus, aqui, é um cordeiro sacrifical , como o cordeiro da Páscoa.
Então os anciãos (presbyteroi,sacerdotes) cantam que o sacrifício de Cristo permitiu-lhe romper os selos do livro, o Antigo Testamento. "Tu és dígno de receber o livro e de romper-lhe os selos porque fostes imolado, e redimiste para Deus , por teu sangue, homens " (5,9). Em seguida, o céu e a terra glorificam Jesus como Deus: "Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos século...E os anciãos prostraram-se e adoraram" (5, 13-14).
O Cordeiro é Jesus. O Cordeiro é também "filho de homem", paramentado como sumo sacerdote (1,13); o Cordeiro é vítima sacrifical; o Cordeiro é Deus.
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