terça-feira, 8 de maio de 2012

Chesterton

"  Alguns desses judiciosos homens modernos devem ter abandonado o Cristianismo sob a pressão de uma das três seguintes e convergentes convicções:

1 - Que os homens, com a sua forma, a sua estrutura e a sua sexualidade, são, apesar de tudo, muito semelhantes aos irracionais, ou uma simples variedade do reino animal

2 - Que a religião primitiva teve princípio na ignorância e no medo

3 - Que os sacerdotes tem feito estiolar as sociedades no meio de amarguras e trevas.

Estes três argumentos anti-cristãos são muito diferentes, mas são todos perfeitamente lógicos e legítimos, e todos eles convergem para o mesmo ponto. Há, apenas, uma única objeção contra eles: é que são todos falsos.

Se deixarmos de olhar para os livros, que se ocupam dos irracionais e dos homens e começarmos a olhar os próprios irracionais e para o próprio homem, havemos de observar  que o mais impressionante não é ver quão semelhante é o homem aos brutos, mas sim como eles são dissemelhantes. É a monstruosa escala de sua divergência que precisa de uma explicação. Que o homem e o bruto são semelhantes é, em certo sentido, uma verdade; mas que, sendo tão semelhantes, sejam tão desmedidamente diferentes, essa é que é a grande surpresa e o grande enigma.

O fato de o macaco ter mãos é muito menos interessante para o filósofo do que o fato de ele nada fazer com elas; não toca violino, não joga o "Knucle-bones" (jogo de pedrinhas), não esculpe sobre mármore e não trincha um carneiro. Fala-se por vezes, a respeito de arquitetura bárbara e de arte trivial, mesmo em estilo rococó.  Os camelos também não pintam nem sequer más pinturas, embora andem providos com material que dava muitos pincéis. Certos visionários modernos dizem que as formigas e as abelhas tem uma sociedade superior à nossa. Tem, sem dúvida, uma civilização, mas essa civilização serve apenas para nos lembrarmos de que se trata de uma civilização inferior. Quem foi que encontrou já um formigueiro adornado com estátuas de formigas célebres? Quem foi que já viu um cortiço que  tivesse esculpidas imagens de antigas e faustosas rainhas?

Não, o abismo entre o homem e as outras criaturas pode ter uma explicação natural, mas é um abismo. Falamos de animais selvagens, mas o homem é o único animal selvagem. Foi o homem que saiu fora de si. Todos os outros animais são animais domesticados que seguem a rude respeitabilidade da tribo ou do tipo. Todos os animais são animais domésticos, apenas o homem se conserva por domesticar, quer seja libertino quer seja um monge.

Assim, esta primeira e superficial razão para o materialismo é, pelo contrário, uma razão para a doutrina oposta; é exatamente onde a biologia acaba que a religião começa.

(Depois veremos os outros dois argumentos)

Fonte: Ortodoxia pag 233-234

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