Adaptação do livro A Vida Interior - de François Sales Pollien
Primeira parte: A Vida que herdamos
Segunda parte: A finalidade da criação
Terceira parte: O ordenamento de minhas relações divinas
Quarta parte: A anterioridade de Deus
Os direitos de Deus
Mas o divino não é somente anterior ao humano, é também superior.
A anterioridade afirma os direitos de Deus a receber minhas homenagens; a superioridade estabelece o seu direito de ditar as regras segundo as quais devo servi- Lo.
Tanto sua anterioridade e superioridade, atestam Seus direitos sobre tudo que existe, e proclamam em si, a razão do que devo fazer e do modo como devo fazê-Lo.
A impiedade rejeita a todo custo os direitos de Deus e a piedade muitas vezes a ignora. Jamais, por nossa própria conta, os situaríamos demasiadamente alto, uma vez que somente a sua elevação pode elevar-me. Quanto mais Deus dominar minha vida, mais a atrairá a Si e mais perto de participar de sua herança, dos bens de seu reino, e de reinar com Ele eternamente na glória da eternidade, estarei.
Seus direitos resultam da Criação
O direito que Deus tem de reger o que Ele criou é uma necessária decorrência do fato criador. Qual o homem que tendo plantado uma arvore, não teria direitos sobre seus frutos? E, no entanto, ainda que ele seja dono da arvore, não fez a terra, nem a semente, nem os elementos, nem os instrumentos de seu crescimento, nem suas energias, nem suas leis. Ainda assim, quem poderia contestar seus direitos de produtor?
Pois bem, se a razão reconhece a inegável legitimidade de tal domínio, quanto mais deverá afirmar a soberania absoluta de Deus sobre o homem que dele provém inteiramente, alma e corpo, faculdades e aptidões, vida e vitalidade!
O Senhor
Por direito de criação, Deus é Senhor absoluto - Ele o diz e pretende continuar sendo, como nos demonstram as Sagradas Escrituras. O que foi o AT senão uma afirmação, durante 40 anos de seu direito de posse? Ele os proclamou antes que fossem desrespeitados e por várias vezes reiterou suas declarações diante de tantas infrações. Inúmeras são as passagens onde Ele disse: "Sou eu o Senhor". Assim Ele proclama seu senhorio sobre o universo e tudo o que nele contém. Bençãos e Castigos vem de suas mãos.. Se alguém viola seu domínio, ele vinga a ofensa, a quem respeita sua autoridade, Ele recompensa a fidelidade.
A terrível liberdade do homem se levanta com frequência contra Deus , mas suas desgraças atestam que os direitos soberanos não dormem. Pode-se ataca-los, mas eles nunca perderão a validade. Deus é o Senhor e permanece sendo o Senhor, acima de todas as ingratidões, impiedades e esquecimentos.
O Servo
Se Deus é Senhor, o homem é o servo, se o Senhor comanda, o servo obedece. Como Deus não abre mão de seus direitos, o servo está obrigado à obediência. O universo lhe pertence, é governado por sua Providência. O homem, que é seu servo e que Ele quer tornar filho e herdeiro, é dirigido por sua Paternidade. Ele deu suas leis ao mundo e as criaturas obedecem as suas ordens e a seu governo. O homem também recebeu suas leis; por que será que entre as criaturas é ele o único a transgredir as disposições e a orientação de seu Autor?
Triste espetáculo o dessa criatura privilegiada, que se serve dos próprios privilégios de sua grandeza para colocar-se abaixo de todas as criaturas obedientes! Ele é chamado a ser um servidor livre, súdito voluntário, filho dedicado; e sua liberdade rejeita o jugo, sua vontade nega a dominação, sua filiação insulta a Paternidade. Sendo assim, como estranhar que ele sofra tão lamentável desgraças? Isto bem revela o quanto a glória dada ao Senhor é a única fonte de felicidade para o servo.
Na dependência absoluta
Em nenhuma criatura há coisa alguma que não esteja inteiramente nas mãos de Deus. Tudo em minha vida lhe está submetido, mesmo que forçosamente. E como quero ordenar minha existência segundo a correção exigida pela lei da minha criação, devo concluir que nenhum dos meus movimentos livres, pode subtrair-se à direção de Deus que me possui.
O Senhor espera e tem direito a meus frutos de glória; ele espera e tem direito à direção do meu trabalho, Ele espera e tem direito à escolha dos meus métodos.
Para que eu possa conformar minha vontade com a Sua, é preciso que eu a conheça, como fim a atingir, como caminho a seguir e como meios a utilizar; que conhecendo eu me apegue a ela; e que a ela tendo me apegado; a ele me devote. Assim Ele será meu Senhor e eu serei o Seu servo. E se eu souber, como servo bom e fiel -, seguir o Mestre segundo suas próprias instruções, chegarei, segundo Sua promessa, lá onde Ele se encontra; e, depois de o ter servido, serei coroado de honra por Seu Pai (Jo 12,26)
Depois veremos: O uso das criaturas
Fonte: A vida interior - de François Sales Pollien
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