segunda-feira, 27 de agosto de 2012

A Fé desaparecerá quando a sociedade amadurecer?


Por Alfonso Aguilló



"Em um dos seus livros, López Quintás conta que um dia, ao entardecer, depois de visitar a catedral de Notre-Dame, enquanto vagueava pela velha Paris, deparou, sem querer, com um pequeno edifício abandonado com as suas sórdidas janelas cruzadas por sarrafos de madeira. Aquela construção quase em ruínas era o famoso “Templo da Nova Religião da Ciência” que o filósofo francês Augusto Comte tinha erigido fazia século e meio.

O contraste foi tão brusco como expressivo. O templo com o qual se pretendera dar culto ao progresso científico estava em ruínas.

A velha catedral, pelo contrário, irradiava as suas melhores galas, como na sua brilhante época medieval. A música combinava nela coma harmonia das linhas arquitetônicas, com as belas palavras dos oradores, com o magnífico esplendor litúrgico que num dia de Natal, anos atrás, emocionara o grande poeta Claudel, até levá-lo à conversão.

A história daquele templo esquecido está aparentada com a da Ilustração, que no seu tempo se ergueu com o sonho de “despojar o homem dos grilhões irracionais das crenças e conhecimentos supersticiosos baseados na autoridade e nos costumes”. O pensamento ilustrado da Enciclopédia considerava os conhecimentos religiosos como “simples e ingênuas explicações sobre a vida dadas pelo homem não - científico”.

Na sua aversão à fé, uma multidão de pensadores deleitava-se em atribuir a origem mais baixa possível ao sentimento religioso. Concebiam os nossos antepassados como “seres perpetuamente atemorizados, empenhados em conjurar as forças hostis do céu e da terra mediante práticas irracionais”. Viam a Deus como um simples “produto do medo das civilizações primitivas, num tempo em que esses espíritos atrasados ainda acreditavam em fábulas”.

A teoria de Comte sobre a evolução humana através dos três estados – religiosidade, pensamento filosófico e conhecimento científico – gozou na sua época de grande aceitação e em sua honra foi erigido aquele templo dedicado à “Nova Religião da Ciência”.

- Não é curioso que a ciência adquirisse essa faceta religiosa?

Foi efetivamente em curioso fenômeno de substituição. Fascinado pela ciência, o homem elevou-a até ocupar o lugar do sagrado. Mas não era um simples conflito entre a ciência e a fé.  Com efeito, entronizar uma bonita mocinha parisiense na catedral de Notre – Dame – como fizeram durante a Revolução Francesa - , dando –lhe o título de “Deusa Razão”, não parece que fizesse parte das ciências experimentais.

Por trás de tudo aquilo latejava o empenho ateu de proclamar a salvação da humanidade por si mesma, e o advento de uma sociedade iluminada unicamente pela razão humana. Passaram-se menos de dois séculos, e o estado de abandono em que se encontra hoje aquele templo laico é talvez um fiel reflexo do abandono da concepção do homem que tanta força teve na sua época.

Aquela ilusão segundo a qual o advento da era científica permitiria eliminar o mal do mundo acabou por ser um doloroso engano. As suas hipóteses acabaram por estar mais impregnadas de ingenuidade do que a que eles atribuíam às épocas históricas anteriores.

Depois veremos: A ciência pode explicar tudo?

Veja mais do livro: É Razoável Crer?

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