quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Sola Fide - a Salvação é só pela Fé?




Do Livro: A Legítima  Interpretação da  Bíblia

 De Lúcio Navarro

A Tese do Pastor:

"Bem se pode imaginar com que ânsia, emoção e contentamento o nosso amigo, pastor protestante, se aproximou do microfone, para fazer a sua dissertação pelo rádio, naquele dia. Tratava-se de uma mensagem sensacional, que ele pensara em transmitir. O seu objetivo era nada mais, nada menos que dar uma bonita rasteira em todas as religiões do mundo, sem respeitar nem sequer a Santa lgreja Católica Apostólica Romana, ficando de pé exclusivamente a doutrina dos protestantes. Para isto, idealizou o jovem e fervoroso pastor a argumentação seguinte: "Todas as religiões ensinam que o homem se salva pelas suas próprias obras; o Protestantismo, ao contrário, ensina que o homem se salva pela fé. Ora, sabemos que a Bíblia é a palavra de Deus revelada aos homens;  palavra infalível, porque Deus não pode errar. E a Bíblia tem inúmeros textos que afirma que o homem se salva pela fé. Logo, se vê pela Bíblia que o Protestantismo é a única religião verdadeira, e assim está refutada a doutrina perigosa (perigosa, sim, foi o que disse o pastor, e é o que dizem, em geral, os protestantes),  de que o homem alcança a salvação pelas suas obras"

Textos Evangélicos

Queremos apenas dar uma amostra de como os textos eram mesmo de impressionar o desprevenido ouvinte que não tivesse um conhecimento completo da verdadeira doutrina do Evangelho. Veja-se, por exemplo, o seguinte trecho do Evangelho de S. João:

"Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus" (João III-16 a 18)

Textos como estes que asseveram tão abertamente quem crê em Jesus se salva, quem não crê se condena - seriam suficientes para convencer qualquer pessoa:

 1 - Se não fosse tão ímpio, tão absurdo, e, portanto, tão indigno dos lábios de Jesus o que se quer provar com eles, ou seja, a doutrina de que, para o homem salvar-se, basta que tenha fé em Cristo e nada mais;

2. E se não houvesse outros textos, igualmente claros, dos Evangelhos, para nos provar a necessidade das boas obras para a conquista do Céu, como este por exemplo:  Bom Mestre, que obras devo fazer para ter a vida eterna? - Se tu queres entrar na vida, guarde os Mandamentos - (Mateus XIX-16 e 17).

Conciliação de textos:

É claro que fazer uma boa interpretação da Bíblia não consiste em aferrar-se alguém a uns textos, desprezando, esquecendo, refugando, pondo de lado outros, igualmente valiosos: tudo quanto está na Bíblia é palavra de Deus. A interpretação imparcial, conscienciosa, legítima, procura harmonizar inteligentemente os textos das Escrituras.

E é bastante tomar na devida consideração as duas afirmativas -.- quem crê em Jesus se salva, quem não crê se condena - para entrar na vida eterna, é preciso guardar os mandamentos -  Para se chegar à conclusão de que para a salvação eterna, tanto é necessária a fé nas palavras de Cristo, como a obediência aos mandamentos divinos. É o que nos ensina a Igreja Católica, a qual não afirma que o homem se salva só pelas obras, como queria fazer crer o nosso amigo, pastor protestante, basean-
do a sua argumentação em que tôdas as reÌigiões assim o ensinam; segundo a teoÌogia católica, a fé no ensino de Cristo que nos é apresentado é também indispensável.

Vê-se logo por aí quanto a doutrina da Igreja é desconhecida, até mesmo por aqueles que ardorosamente a combatem. Temos, portanto, que expor a doutrina católica sobre o assunto, máxime, porque ela fala de um terceiro elemento, importantíssimo e igualmente indispensável à salvação, como seja, o auxílio da graça de Deus; explicado êste ponto, se esclarecem muitos textos das Escrituras que tanta confusão provocam na cabeça dos protestantes.

O caso dos pagãos - perante a lógica e a Bíblia

Basta igualmente esta palavra de Cristo - "se tu queres entrur na vida, guarda, os mandamentos" (Mateus XIX-17) - para mostrar que, se o Protestantismo se distingue de tôdas as religiões do mundo ensinando que o homem se salva só pela fé e não pelas obras, isto não é sinal de que seja a única Religião Verdadeira; é sinal, apenas, de que ensina uma coisa que evidentemente está contra a lógica e o bom senso.

Este princípio estabelecido por Jesus Cristo - guardar os mandamentos, para salvar-se - vigora em todas as religiões, porque é também um imperativo da razão humana, e a razáo, assim como a fé, procede de Deus, nosso Criador.

 A Humanidade viveu milhares de anos antes de Jesus Cristo vir a este mundo e, durante todo êsse tempo, excetuando o povo judaico, pequenino povo que tinha a revelação dada por Deus a Moisés e aos profetas, todas as nações da terra estavam imersas no paganismo, desconhecendo as verdades da fé. Mesmo depois da vinda de Jesus Cristo, quantos milhões e milhões de pessoas tem havido e ainda há, como por exemplo entre budistas, bramanistas, confucionistas, mao- metanos, índios selvagens etc, que sem culpa nenhuma sua, desconheceram ou ainda desconhecem a revelação de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 Podiam ou podem estes homens salvar-se?

Sim, sem dúvida alguma, porque não é admissível que Deus os condenasse a todos irremediavelmente ao inferno, se eles não tinham culpa nenhuma em desconhecer a revelação cristã. 

Mas salvar-se como?  - Seguindo o que Cristo disse: "Se tu queres entrar na vida, guarda os mandamentos" (Mateus XIX-17).

 E aqui perguntará o leitor: "Se os mandamentos foram revelados aos judeus por intermédio 
de Moisés, e as religiões pagãs não conheciam esta revelação, como  podiam admitir este princípio: - guarda os mandamentos, se queres salvar-te? Conheciam por acaso estes mandamentos?" 

- Conheciam, sim; embora não tão perfeitamente como nós os conhecemos. Porque êstes mandamentos, Deus os gravou no coração do homem. Honrarás pai e mãe, não matarás, não furtarás, não levantarás falso testemunho, não desejarás a mulher de teu próximo etc, são leis que se impõem a todos os homens pela voz imperiosa de sua consciência-  se a Religião tem por fim o aperfeiçoamento moral do homem e a sua união com Deus, esta união, este aperfeiçoamento não se realizam senão, 
quando ele obedece à voz da consciência, que é a própria voz de Deus, falando a sua alma, a seu coração. Só assim podia (ou pode ainda hoje) o pagão que nunca ouviu falar de Cristo, agradar a Deus e, agradando a Deus pelas suas obras, conseguir a salvação. 

- Mas, dirá o protestante, esta história da possibilidade de se salvarem os pagãos, pode-se provar 
petas Escrituras? 

Perfeitamente. Abra-se a Epístola de S. Paulo aos Romanos: Lemos aí "que Deus haverá de retribuir 
a cada um segundo as suas obras; com a vida eterna, por certo, aos que, perseverando em fazer boas obras, buscam a glória, honra e imortalidade, mas com ira e indignação aos que são de contenda e que não  se rendem à verdade, mas que obedecem à injustiça. A tribulação e a angústia virá sobre toda alma do homem que obra mal, ao judeu primeiramente e ao grego, mas a honra glória e a paz será dada a todo obrador do bem, ao judeu primeiramente e ao grego, porque Deus não faz acepção de pessoas.(Romanos II, 6 a II)

O grego que se refere aí S. Paulo, em contraposição ao  judeu, é o gentio, o pagão, o que não conhecia a lei de Moisés. Deus, não tem acepção de pessoas: todo o que opera o bem recebe a vida eterna* 
seja judeu, seja gentio. Porque, como diz em continuação o apóstolo S. Paulo, se os judeus tinham uma lei escrita dada por Deus e os gentios; não a tinham, o que interessa a Deus não é que se ouça a lei que foi  dada por Ele, rnas sim que se pratique o que ordena esta mesma lei. E o gentio, cumprindo a lei que estava escrita no seu coração, se podia tornar também justificado diante de Deus. 

Vejamos as palavras do Apóstolo:Porque diante de Deus não são justos os que ouvem a lei, mas serão tidos por justos os que praticam a lei. os pagãos que não tem a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei, eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente.


- Mas perguntará alguém: Não diz a Bíblia que sem a fé é impossível agradar a Deus? Como podiam esses pagãos agradar a Deus  sem a fé? 

- A dificuldade é muito fácil de resolver. Na mesma ocasião em que diz a Bíblia - ser impossível sem a fé agradar a Deus - mostra imediatamente qual o programa mínimo de fé que é exigido desses que 
não cheguem a ter conhecimento da revelação divina; dêles se exige apenas que creiam o seguinte: que existe um Deus e que este Deus recompensa os bons. 

Vejamos o texto: Sem fé, é impossíael, agradar a Deus; porquanto é necessário que o que se chega a Deus creia que há Deus e que é remunerador dos que O buscam (Hebreus XI-6). Se eles estavam ou estão, sem nenhuma culpa sua, na ignorância de muitas outras verdades da fé, Deus se contenta com este mínimo: crer na existência de um Deus Remunerador; é o bastante para se aproximarem de Deus. 

Portanto, se as religiões pagãs que existiram antes do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo ensinavam que seus adeptos podiam conseguir a recompensa divina mediante as suas obras, se as religiões pagãs ainda hoje existentes ensinam que os seus seguidores (que não têm suficiente conhecimento da doutrina de Jesus Cristo) se salvam peia maneira digna e correta de proceder, essas religiões podem ter lá os seus erros graves em matéria de doutrina, mas neste ponto tem ensinado uma 
coisa certa, confirmada por S. Paulo, quando afirmou que os gentios se salvam obedecendo à lei que está escrita em seus corações (Romanos II-15).

 O caminho do Céu para êles é êste mesmo. Agora, se de fato foram muitos ou foram poucos os que procederam corretamente e obedeceram a esta lei, isto já é outra questão. O homem tem a Sua liberdade; pode usar dela bem ou mal. Infelizmente a tendência desta nossa corrupta Humanidade é mais para usar mal do que para usar bem; porém tinha que haver para os pagãos, assim como para os cristãos (falamos, é claro, dos pagãos de boa fé) algum direito, alguma possibilidade de salvar-se. 

Do contrário Deus seria injusto, não seria bom para todos os homens que O temem. Bem-aventurados todos os que temem ao Senhor, os que andam em seus caminhos (Salmos CXXVII-1). E o pagão que 
não recebeu as luzes da revelação cristã, mas crê na existência de um Deus Justiceiro, embora erre, por ignorância invencível, sôbre a própria natureza da Divindade, não tem outro meio para mostrar que teme o Senhor e que quer andar nos seus caminhos, senão obedecendo fielmente aos ditames da sua própria consciência. 

Depois veremos: O Caso dos cristãos - Perante a lógica e a Bíblia.

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