Por Georges Suffert
" Os documentos, desconfia-se, são extremamente raros. Apenas dois nomes que Irineu (século II) amavelmente menciona sem comentários: Lino [67-79 (?)] e Cleto [79-90 (?)].
Eles teriam dirigido a comunidade de Roma nesse período. Ou seja, por mais de vinte anos.
Só por volta do ano 100 é que vai surgir um personagem - o papa Clemente - que parece ter a constituição de um responsável. Clemente é conhecido pela epístola que dirige aos coríntios. Nessa carta, ele descreve com detalhes a comunidade de Roma, que compreende epíscopos e diáconos (os primeiros se tornarão bispos, os segundo "fiscais" e "intendentes"). Ele, Clemente, é o chefe de duas hierarquias paralelas. Menciona os martírios de Pedro e Paulo. Parece tê-los conhecido no início de sua conversão. Evita dar qualquer recomendação que seja. Apenas participa sua experiência. Evidentemente, é um papa preciso e modesto.
É preciso então esclarecer o significado do termo papa nesse início do século II.
O que é uma comunidade cristã em 100 d.C.? É, bem entendido, um grupo de mulheres e homens dispersos no seio de uma cidade. Em lugar nenhum a evangelização começou pelo campo. Entre os cristãos, há artesãos, comerciantes, pescadores, aos quais deve-se acrescentar funcionários, às vezes oficiais, e com freqüência o que chamaríamos de notáveis.
Na maioria dos casos, a assembléia reúne-se pelo menos uma vez por semana. Muitas vezes, na noite de sábado para domingo. O bispo preside a cerimônia religiosa. Trata-se de orar junto e compartilhar o pão e o vinho. Obviamente, é a missa começando a se desenhar sob nossos olhos. Porém, só muio tempo depois ela encontrará sua forma atual. Muitas vezes foi escrito que essas reuniões, em Roma, realizavam-se nas catacumbas (ad catacumbas - Literalmente: "perto da comba ou da ravina").
De fato, tratava-se de cemitérios subterrâneos usados como locais de culto, mas cuja existência nada tinha de secreta. A polícia os conhecia e os invadia com freqüência. Essas reuniões nas catacumbas foram bastante raras. Em tempos normais, a cerimônia era realizada na sala comum da casa de um dos cristãos. Isto é que faz as vezes de igreja. Ainda levará muitos anos para que elas comecem a desenhar o território do que será a cristandade.
Não conhecemos todos os detalhes da cerimônia. Um texto de Justino - um filósofo pagão que se converteu e morreu como mártir, decapitado em 165 - nos dá algumas indicações. Justino redige suas Apologias (justificativas) por volta de 150. Mas o que ele descreve é muito antigo.
Primeira certeza: lemos as memórias dos apóstolos. Porém, elas ainda não constituem um conjunto fixo. Parece que assistimos ao nascimento da forma pública dos Evangelhos. Essas leituras são um momento privilegiado, já que narram para a assembléia os sermões relativos aos atos de Jesus.
Segunda certeza: recitam-se os "escritos dos profetas". Justino não diz de que textos se trata. Mas devem ser as epístolas de Paulo e de Pedro que são lidas para os participantes. Naturalmente, é preciso acrescentar alguns textos selecionados do Antigo Testamento. Não estamos muito longe da divisão atual das leituras. Os fiéis ouvirão em seguida a homilia. Depois rezarão em conjunto por esta ou aquela intenção dita em voz alta. Trocarão o beijo da paz; finalmente receberão o pão e o vinho consagrados.
A invenção do que será a missa então é antiga
Observe-se que hoje já desapareceu uma prática da qual nada resta, e que tinha lugar antes do início da cerimônia propriamente dita: a confissão coletiva. Sem dúvida uma herança judaica, levou muito tempo para desaparecer. Foi necessário reconhecer o sacramento da penitência e, especificamente, a confissão individual. Esperaremos muitos séculos"
Fonte: Tu és Pedro
Capítulos anteriores AQUI
Nenhum comentário:
Postar um comentário