quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Liturgia é Sagrada




Ao sairmos  de casa para assistir a Santa Missa, devemos ter a convicção de que estamos indo ao encontro de Deus, mais especificamente ao santo sacrifício que Nosso Senhor Jesus Cristo oferece pela sua entrega na Cruz, em adoração ao Pai e em nosso favor, pobres pecadores necessitados de sua graça.

 Assim se expressou o falecido Arcebispo americano, Fulton Sheen: “A Missa é o maior acontecimento da história da humanidade: o único Ato sagrado que afasta a ira de Deus de um mundo pecador, porque eleva a Cruz entre a terra e o Céu, renovando assim aquele decisivo momento em que a nossa triste e trágica humanidade viu desenrolar-se na sua frente o caminho para a plenitude da vida sobrenatural " – Atentem para a expressão: Ato sagrado.

A Santa Missa é sagrada, porque é dom que vem do alto, do próprio Deus, portanto não veio de homem algum. Trata-se do mistério da Salvação em Cristo, mistério este confiado à Igreja Católica, para que ela o torne disponível em qualquer tempo e lugar, para que todos os homens tenham a oportunidade de receber de Cristo, os méritos que Ele conquistou na Cruz para nossa salvação. Por isso é um dom e há de ser acolhido por nós, em verdadeiro espírito de agradecimento e reverência.

Olhando nesta perspectiva, não fica difícil entender como devemos nos preparar para assistir à Santa Missa, seja de forma espiritual, nos silêncios, nos gestos, na obediência às normas. Assim se expressou Papa João Paulo II: "De modo particular torna-se necessário cultivar, tanto na celebração da Missa como no culto eucarístico fora dela, uma consciência viva da presença real de Cristo, tendo o cuidado de testemunhá-la com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo. A tal respeito, as normas recordam — como ainda recentemente tive ocasião de o reafirmar — o relevo que deve ser dado aos momentos de silêncio quer na celebração quer na adoração eucarística. Numa palavra, é necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo"

 Afirmar que a Liturgia é sagrada e que para bem participar existe um Rito objetivo deixado à Igreja, é afirmar que ela é convocação que vem de Deus para estarmos em sua presença, é vinda de Deus até nós, é Deus mesmo que se torna presente em nosso mundo. Afirmar que a Liturgia é sagrada, nos faz esquecer de nós mesmos, de nossos gostos, de nossas intervenções muitas vezes desnecessárias, para adora-lo de forma devida em total obediência à Igreja, que todos os dias obedece à ordem de Cristo para fazer tudo em Sua memória e do Seu jeito, porque Ele é Deus e nós somos os filhos.

A Liturgia é dom que existe muito antes de nós, existe desde sempre como dom, ela é um tesouro deixado à Igreja,  é lugar em que  a Fé  se expressa para orar e adorar a Deus no tempo, disponível a cada homem de todos os tempos e lugares.  Assim como Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre, assim a Liturgia está no tempo, ontem, hoje e estará até o dia da vinda do Senhor, onde Cristo entregará tudo ao Pai.

O Santo Padre, o Papa Bento XVI em sua Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis n.40 nos diz: " Sublinhando a importância da 'arte de celebrar', coloca-se em luz, por conseguinte, o valor das normas litúrgicas. A Celebração Eucarística é valorizada exatamente onde os sacerdotes e os responsáveis pela pastoral litúrgica se esforçam por tornar conhecidos os livros litúrgicos e relativas normas em vigor. Nestes textos estão contidas as riquezas que guardam a fé e o caminho do povo de Deus ao longo de dois milênios da sua história".

Nossa oração, em obediencia a Deus e a Igreja, deve ser sempre voltada para Cristo, é Ele o objeto de nosso amor e nossa adoração e com Ele adoramos ao Pai que nos deu Seu Filho como autor da salvação pela sua Cruz admirável. É por isso que a Igreja achou por bem colocar o Crucifixo no centro do altar para que todos, sacerdotes e fieis tivessem os olhos voltados para Ele e o coração no alto. Sim! o nosso coração deve estar em Deus e nossa alma disposta a reverencia-lo.  Esta reverência deve ser traduzida também em sinais externos, em nossas atitudes para que Deus receba de nós o melhor, já que nos deu tudo!.

O Santo padre ainda nos diz: "Sacerdote e povo não rezam voltados um para o outro, e sim para o único Senhor. Por isso é que, na oração, ambos olham na mesma direção: ou para o Oriente como símbolo cósmico do Senhor que vem, ou nos lugares onde isso não é possível, para a Cruz, ou para o céu, como fez o Senhor durante a oração sacerdotal da última noite antes da Paixão" (Introdução ao espírito da Liturgia,p.70-80).

A Eucaristia que temos a honra de participar, atualiza ao longo dos séculos o evento pascal - Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo -,  toda a história, toda obra da redenção está diante de nós. A admiração deve invadir a Igreja, os fieis, em toda Santa  Missa. É por isso que desde pequenos aprendemos a dizer, como São Tomé: Meu Senhor e meu Deus!

 Prestando atenção às palavras de Monsenhor Guido Marini  - que serve o santo padre nas celebrações eucarísticas -; em seu livro:  Liturgia, mistério da Salvação:  " Eis porque na ação litúrgica bem celebrada e reverente, nos sinais da  nobreza, beleza e  harmonia, tudo deve conduzir à adoração e à união com Deus: música, canto, silêncio, maneira de proclamar a Palavra do Senhor e o modo de orar, os gestos, as vestes litúrgicas e objetos sagrados" - entendemos que somos convidados a manifestar atitude de adoração diante da grandeza do mistério da presença eucarística do Senhor. Atitude esta que atinge seu ápice ao nos aproximar da Santíssima Eucaristia, que é o " Santo Sacramento, que é o Cristo, Jesus, que deve ser adorado, ser amado, nesta terra de Santa Cruz' e no mundo inteiro.

Nos diz o Santo Padre: “Existe um relação entre Santa Missa e adoração do Santíssimo Sacramento, já que o Pão Eucarístico foi nos dado para nos alimentar, mas antes deve ser adorado. Assim se expressa santo Agostinho: " Ninguém come desta carne, sem antes adora-la. Pecaríamos se não a adorássemos". 

O Filho de Deus pela Eucaristia vem ao nosso encontro e deseja se unir a nós. Por conta disso, a adoração acontece no decorrer do desenvolvimento da santa celebração, porque a Santa Missa , em si mesma, é o maior ato de adoração da Igreja. Quando adoramos a Deus, sobretudo no ato liturgico, aprendemos a amar  a Deus, mas também a amar nossos irmãos, porque brota em nós, pela graça, o amor  que vem do próprio Deus adorado. Já não tenho Cristo só para mim, e cada vez me afasto de mim, para me achegar ao outro.

Quando a comunidade entende e vive a Santa Missa, quando adora Deus em Cristo, com Cristo e por Cristo, automaticamente passa ser uma comunidade que ama e busca  - no desejo de fazer a santa vontade de Deus - a santidade pelo qual Ele é testemunhado no mundo sem Deus.  Os frutos da Santa Missa nos filhos de Deus, tem poder para transformar o mundo!

A comunidade que sabe participar da Santa Missa  entendendo que nela se vai para adorar a Deus, e que ela é ação de Deus, que é Ele que age em nosso favor pela salvação de Cristo, é uma comunidade que se torna luz para o mundo.

Quando ela sabe que  é o próprio Deus que age e cumpre o essencial, como ainda nos diz o santo padre " e que ao homem cabe  se abrir a esta ação divina, esta é transformada por Ele. A participação ativa dos fieis consiste em se tornar um só com Cristo , portanto, não é possível participar sem adorar, por isso a Igreja se preocupa vivamente que os fieis não assistam  a esse mistério de fé como espectadores estranhos ou mudos,  mas que lhe compreendam  bem os ritos e orações  e participem da ação sagrada de maneira plena e consciente, piedosa e ativa; sejam formados pela palavra de Deus; nutram-se da mesa do Corpo do Senhor; rendam graças a Deus e oferecendo a vítima sem mancha, não somente pelas mãos do sacerdote, mas unidos a ele, aprendam a fazer oferenda de si mesmos, e nos dia a dia, pela mediação de Cristo, se aperfeiçoem na unidade com Deus e entre si, de tal maneira que Deus seja finalmente tudo em todos" -(Sacrosanctum Concilium n. 48)’

Ir à Santa Missa é ir ao Céu, já que a Igreja toda – padecente, triunfante e militante se une ao Cordeiro para adorar ao Pai, criador de todas as coisas. Os anjos cantam, a Igreja adora, o sagrado se faz presente e nós, os filhos convidados ao sacrificio que nos faz dignos de comer do pão dos anjos, devemos nos dobrar – coração e corpo, para agradecer e recebr suas graças. Bendito seja Cristo que nós deu este direito, bendito seja Cristo que  nos permite participar de seu banquete. Uma vida é pouco para agradecer tão grande dom!

Para finalizar fiquemos com as palavras de São Leonardo de Porto Maurício, um apaixonado pela santa Liturgia: “ ir à Santa Missa  consiste em irdes à Igreja como se fosseis ao Calvário,  e de vos comportardes, diante do altar, como o faríeis diante do trono de Deus, em companhia dos Santos Anjos. Vede, por conseguinte, que modéstia, que respeito, que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que Deus costuma conceder àqueles que honram mistérios tão santos”

Peçamos à Virgem Maria, mãe de Deus e nossa, as virtudes e o amor necessários para bem participar do santo sacrifício de Seu Filho amado. E que tudo seja feito, para a Glória de Deus, para onosso bem e de toda Santa Igreja. Amém.

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