Primeira parte AQUI
Segunda parte AQUI
Deus Nosso Senhor, querendo, na sua infinita bondade, elevar-nos até Si, na medida em que o permite a nossa fraca natureza, dá - nos um princípio vital sobrenatural, deiforme: é a graça habitual, graça que se chama criada, por oposição à graça incriada, que consiste na habitação do Espírito Santo em nós.
Segunda parte AQUI
Deus Nosso Senhor, querendo, na sua infinita bondade, elevar-nos até Si, na medida em que o permite a nossa fraca natureza, dá - nos um princípio vital sobrenatural, deiforme: é a graça habitual, graça que se chama criada, por oposição à graça incriada, que consiste na habitação do Espírito Santo em nós.
Esta graça torna-nos semelhantes a Deus e
une-nos a Ele duma maneira estreitíssima.
É uma qualidade sobrenatural, inerente à nossa
alma, que nos faz particípar, dum modo real, formal, mas acidental, da natureza
e vida divinas.
1 - É, pois, uma realidade da ordem
sobrenatural, não porém substância, pois que substância nenhuma criada pode ser
sobrenatural; é uma maneira de ser, um estado da alma, uma qualidade inerente à
substância da nossa alma, que a transforma e eleva
acima de todos os seres naturais, ainda os mais perfeitos; qualidade
permanente, de sua natureza, que fica em nós enquanto a não expelimos da alma
cometendo voluntariamente algum pecado mortal.
«É, diz o
Cardeal Mercier, apoiando-se em Bossuet,
essa qualidade espiritual que Jesus difunde em nossas almas; que penetra o mais
íntimo da nossa substância; que se imprime no mais secreto de nos almas e se
derrama (pelas virtudes) em todas as potências e faculdades da alma; que,
tomando posse dela interiormente, a torna pura e agradável aos olhos deste
divino Salvador e a faz seu santuário, seu templo, seu tabernáculo, enfim seu
lugar de delícias»
Esta qualidade torna-nos, segundo a expressão
de São Pedro, participantes da natureza divina; faz-nos entrar, diz São Paulo,
em comunicação com o Espírito Santo; em sociedade com o Pai e o Filho, ajunta
São João.
Ora a graça habitual é já uma preparação para
a visão beatífica e um como antegosto desse favor, é o botão que já contém
flor, se bem que esta não haja de desabrochar senão mais tarde; é, pois, do
mesmo gênero que a própria visão beatífica e participa da sua natureza.
Esta participação da vida divina é, não
simplesmente virtual senão formal. Uma participação virtual não nos faz possuir
uma qualidade senão de maneira diversa daquela que se encontra na causa
principal, assim a razão é uma participação virtual da inteligência divina,
porque nos faz conhecer a verdade, mas de modo bem diferente do conhecimento
que dela tem Deus. Não assim a visão beatífica, e, guardada toda a proporção, a
fé: estas fazem-nos conhecer a Deus como Ele se conhece a si mesmo, não sem
dúvida no mesmo grau, mas da mesma maneira.
Esta
participação não é substancial, senão acidental. Assim se distingue da geração
do Verbo, que recebe toda a substância do Pai, bem como da união hipostática,
que é uma união substancial da natureza humana e da natureza divina na única
Pessoa do Verbo: nós, efetivamente, conservamos a nossa personalidade, e a
nossa únião com Deus não é substancial.
Para nos fazerem compreender esta divina
semelhança, empregam os santos Padres diversas comparações:
1 - A nossa alma, dizem, é uma imagem viva da
Santíssima Trindade uma espécie de retrato em miniatura, pois que o próprio
Espírito se vem imprimir em nós, como um sinete sobre cera branda, e a sua
divina semelhança. Daqui concluem que a alma em
estado de graça é duma beleza arrebatadora, pois que o artista, que nela pinta
esta imagem, é infinitamente perfeito, visto ser o próprio Deus.
Para
mostrarem que esta semelhança não fica à superfície, se não que penetra até o
mais íntimo da nossa alma, recorrem à comparação do fogo. Assim como, dizem
eles, uma barra de ferro, metida em água ardente, adquire bem depressa o
brilho, o calor e maleabilidade do fogo, assim a nossa alma, mergulhada na
fornalha do amor divino, ali se desembaraça das escórias, tornando-se
brilhante, ardente e dócil às divinas inspirações
Faze-se, efetivamente, essa união, por
intermédio da graça santificante, «acidente» acrescentado à substância da alma;
ora, na linguagem escolástica, a união num acidente e de uma substância
chama-se união «acidental» .
Nem por isso é menos verdade que a união da
alma com Deus se pode dizer uma união de substância a substância , que o homem
e Deus estão em contato tão íntimo como o ferro e o fogo que o envolve e
penetra, como o cristal e a luz.
Para
tudo resumir numa palavra, a união hipostática faz um Homem-Deus, a união da
graça faz homens divinizados; e, assim como as ações de Cristo são
divino-humanas ou teândricas, assim as do justo são deiformes, feitas em comum
por Deus e por nós, e, por este título, meritórias da vida eterna, que não é
outra coisa senão uma união imediata com a divindade.
Assim como na ordem da natureza necessitamos
do concurso de Deus a passarmos da potência ao ato, assim na ordem
sobrenatural não podemos pôr em ação as nossas faculdades sem o auxílio da
graça atual.
Depois veremos sobre a graça atual.
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