Por Georges Suffert
Qual é a situação da Igreja nessa época indecisa que se segue às mortes de Pedro e de Paulo e sobretudo à derrota dos judeus?
A Igreja deve enfrentar quatro problemas distintos.
Primeiro: precisar seu pensamento, preparar sua pregação. Mas esta logo vai esbarrar com a primeira semi-heresia, filha conjunta do judaísmo e do cristianismo: a "gnose". Ela será uma heresia resistente porque, sob outras formas, o gnosticismo existe até hoje.
Depois, a Igreja deverá assimilar as múltiplas influências intelectuais que pesarão sobre ela. Para começar, o cristianismo, nascido aramaico-hebraico, se tornará grego. Sem essa metamorfose, talvez tivesse sido impossível o discurso cristão penetrar no mundo "civilizado" de então.
E depois a Igreja deverá ouvir os discurso de outras tradições religiosas. A Pérsia, entre outras, difundirá sua religião. As comunidades judaicas e cristãs das origens levarão isso em conta sem sequer terem consciência do peso da religião de Zaratustra. Os essênios, por sua vez, conheceram essa religião. Até o Evangelho de João tem, aqui e ali, marcas da oposição radical entre a luz e as trevas a luz e as trevas.
Finalmente, a Igreja deverá inventar comportamentos em relação ao Império; não poderá recusá-lo, nem aceitá-lo como está. Decerto, a preocupação dos cristãos não é afrontar o imperador.
Mas, à medida que aumenta a importância das comunidades cristãs, as autoridades romanas começam a ficar de olho nessa seita judaica de um tipo diferente. Roma experimentará sucessivamente diversas políticas - uma a uma, elas fracassarão. O núcleo cristão foge aliás às classificações da polícia: não pertence nem ao universo político nem ao das religiões clássicas. Nessa época, ele não é confundido verdadeiramente com o dos judeus. Em resumo, as autoridades romanas hesitam entre a repressão e a tolerância.
As perseguições - que foram menos numerosas do que a história lendária afirma não terão muito efeito na rápida progressão do cristianismo. Se foram relativamente poucas, foram violentas e em geral cruéis.
Eis algumas das perguntas que os bispos da época se fazem. Porém, eles estão geograficamente afastados uns dos outros. Comunicam-se apenas por carta, às vezes por mensageiros. É demorado. Pois que cada comunidade tenta superar os obstáculos particulares que encontra. Por isso, pode-se dizer que há três zonas distintas de influência cristã: a Igreja de Roma, a da Asia e a da Africa. O novo centro que se constitui lentamente em Roma deverá reunir as peças desse quebra-cabeça dispersado. O que exigirá Tempo
No fundo, as heresias - que pululam durante todo o século II e o III - são conseqüência ao mesmo tempo desse desaparecimento e da fragilidade teológica desse primeiro cristianismo. Será necessário esperar os verdadeiros encontros entre a Revelação de um lado e o pensamento grego de outro para que o conjunto tome forma.
O caso das seitas gnósticas é exemplar. A gnose é, no início, um meio de reconciliar, após o fracasso da insurreição, os temas cristãos, a tradição judaica e a razão grega. É a aparição do sincretismo que deseja casar os temas judaico-cristãos com os das escolas filosóficas da época .
A gnose nasce às margens do judaísmo ortodoxo; o que conta para judeus é a iminência do fim dos tempos. Para eles, o mundo viveu bastante e o apocalipse é dissimulado no canto do calendário. Essa época é perspassada por essa obsessão, à qual os cristãos são tão sensíveis quanto os outros. Eles aguardam para a breve a volta do Messias e a virada da história. Alguns judeus-cristãos agravarão essa angústia. Para eles, jogou-se tudo.
Aliás,"Jesus é Cristo - isto é, uma pessoa que foi dirigida e abençoada Deus -, mas é sobretudo um homem como os outros".
Este é um que encontraremos até a passagem do século V ao VI. Se preferimos, Jesus é o profeta anunciado por Moisés, foi escolhido por Deus, mas não é seu filho. Embora possamos localizar e datar o nascimento daquilo que nem chega a ser uma heresia - os gnósticos não pertencem verdadeiramente à cepa cristã -, foi em Péla que tudo teria começado; cristãos, talvez os essênios, é que foram para lá com a comunidade de Jerusalém para escapar da cilada da guerra.
Eles professam que existem dois princípios que animam o universo: O bem e o Mal. Mas acham que o mal é parte integrante da criação do universo.
Depois veremos: Os Gnósticos - o bem e o mal
Estudo AQUI
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