quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Introdução ao Espírito da Liturgia

Joseph Ratzinger - Bento XVI



Diz: " Se este livro puder servir de estímulo para algo como um " movimento litúrgico", um movimento para a liturgia e sua correta celebração, exterior e interior, o intuito que me impeliu a este trabalho estará plenamente realizado" -

Peçamos a Deus que isto aconteça, para a Glória de Seu Nome e para o nosso bem.

Sobre a Essência da Liturgia:

O que entende por Liturgia?

Neste primeiro capítulo, Bento XVI cita  a ideia surgida na década de 1920, sobre a Liturgia ser comparada a um jogo,e que como todo jogo, possui regras próprias. Ele é dotado de sentido, "mas ao mesmo tempo livre, e exatamente por isso, possui em si algo de terapêutico, aliás, de liberatório, a partir do momento que nos faz sair do cotidiano e dos fins que o caracterizam, libertando-nos durante um certo período de tempo, de tudo aquilo que oprime nossa vida de trabalho. O jogo seria, por assim dizer, um outro mundo, um oásis de liberdade onde podemos, por um momento, deixar fluir livremente a existência, para neste momento de evasão do domínio do cotidiano, suportar seu jugo"

Mas tudo isso poderia ser usado em qualquer tipo de jogo e é por isso que devemos mencionar um outro aspecto nesta teoria do jogo que o fará se aproximar da essência da Liturgia: "Assim como toda brincadeira de criança parece, em inúmeros aspectos, uma espécie de antecipação da vida, um treinamento para aquilo que será a sua vida, sem, todavia, incluir todo seu peso e a sua seriedade. Do mesmo modo, a Liturgia lembra que todos nós, diante da verdadeira vida, que desejamos alcançar, somos no fundo como crianças, ou que deveríamos se-lo; a liturgia, então, seria uma forma completamente diferente de antecipação, de exercício preliminar: prelúdio da vida futura, da vida eterna, da qual Agostinho afirma que, ao contrário da vida presente, aquela não será feita de necessidades e obrigatoriedades, mas inteiramente da liberdade de oferecer e dar".

"A Liturgia seria, então, a redescoberta do nosso autentico ser criança dentro de nós, ela seria uma forma definida da esperança, que antecipa a verdadeira vida, que nos  introduz na vida autêntica - a da liberdade, da proximidade com Deus e da total abertura recíproca. Assim, ela exprime também na vida real cotidiana os sinais precursores da liberdade, que derrubam barreiras e deixam transparecer o céu na terra. Semelhante aplicação da teoria do jogo, eleva a liturgia bem acima da brincadeira em geral"

Nova abordagem a partir dos textos bíblicos: 

Na narração dos fatos que antecederam a saída do povo de Israel do Egito, bem como na dos vários episódios do Êxodo, duas diferentes finalidades emergem para esse evento extraordinário:

1 - Uma é a chegada à Terra prometida, onde Israel finalmente irá viver livre e independente na terra que é sua. Ao lado desta, surge uma outra finalidade: a ordem original que Deus dá ao faraó: " Deixa partir meu povo, para que me sirva no deserto!" (Ex 7,16) Esta expressão Deixa partir meu povo, para que me sirva" - se repete quatro vezes, ou seja, em todos os encontros do faraó com Moisés e Araão.

Depois de várias negociações a finalidade vai sendo, então, concretizada. O faraó aceita o compromisso, já que para ele a questão é a liberdade de culto - " Ide, oferecei sacrifícios ao vosso Deus, mas dentro do país" (Ex 8,21). Moisés fiel a ordem recebida, insiste em afirmar que para o culto é necessário o êxodo, já que o lugar estipulado é o deserto - "Havemos de ir ao deserto, a três dias de caminho, e ofereceremos (lá) sacrifícios ao Senhor, nosso Deus, conforme ele nos ordenou.”(Ex 8,27)

Depois das pragas faraó se mostra mais acessível, permite, então, que o culto se realize segundo a vontade da divindade, mas impo~em que só os homens saiam, e que todos os demais: mulheres, criança e animais fiquem no Egito. Desse modo, nos diz bento XVI: " pressupõe uma praxis cultual então usual, segundo a qual apenas os homens eram protagonistas ativos no culto"

Moisés não pode negociar a modalidade do culto com o faraó, nem pode subordinar o culto a compromissos políticos: " a forma do culto não é questão de concessão política; o culto possui a sua própria medida, e só pode ser regulado pela medida da revelação de Deus"

Por esta razão, também é recusada a terceira proposta de compromisso do faraó, o qual dessa vez, manifesta permissão para que mulheres e crianças também possam partir  e Moisés responde que precisa levar consigo também os animais, porque, " enquanto não chegarmos até o lugar marcado, não sabemos com que haveremos de servir a Javé" (Ex 10, 26)

Em todas as negociações não se fala em Terra prometida: o único objetivo do Êxodo parece ser a adoração, que só pode acontecer segundo a medida de Deus, e que, por essa razão, foge das regras do jogo do compromisso político.

Depois continuamos.

 Deus seja Louvado! 

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