Adaptação do livro A Vida Interior - de François Sales Pollien
Primeira parte: A Vida que herdamos
Segunda parte: A finalidade da criação
Terceira parte: O ordenamento de minhas relações divinas
Quarta parte: A anterioridade de Deus
Quinta parte: A superioridade de Deus.
Sexta parte: O uso das Criaturas.
Variedade dos prazeres criados:
" Fica entendido: As criaturas são apenas o canal e não a fonte da felicidade que experimento em meu crescimento para Deus. Deus é a fonte, o único princípio da minha felicidade.
Mas as criaturas são ainda portadoras de um outro tipo de satisfações: as satisfações criadas.Elas contém, semeadas para mim pelas mãos do seu Autor, uma variedade infinita de prazeres.: prazeres materiais da vista, do ouvido, do olfato, do paladar e do tato, belezas da natureza e das artes, encantos da música, perfume das flores, sabores dos alimentos, etc. Prazeres morais da família, da amizade, da literatura e da ciência, da descoberta e da contemplação da verdade, prazeres sobrenaturais da oração, das práticas religiosas e dos toques divinos da graça.
Quantos prazeres! E como são variados e extensos!
Que representam eles para Deus que os fez, e qual é a sua função?
A - A gota de óleo:
As criaturas são instrumentos de Deus para nós, Ele destinou a nosso uso. Minha faculdades se desgastam rapidamente e se fatigam, e por isso necessitam da gota de óleo que suaviza, da gota de água que refresca, da lima que aguça. Elas precisam de ânimo e vigor, de entusismo e de força, de destreza e alegria.
Necessitam, pois, segundo extensão e as exigências de seus deveres, dessa alegria do Senhor que é a sua força. (Ne 8,10). Quando as engrenagens da alma estão lubrificadas e engraxadas, os lábios cantam com alegria e facilidade os louvores de Deus. (Sl 62,6). Eis portanto o papel desse óleo de alegria, colocado por Deus nas criaturas, a serviço das almas que querem amar a justiça e odiar a iniquidade (Sl 44,8).
B - Antes e depois do pecado:
No plano divino inicial, todas as criaturas eram instrumentos, nenhuma era obstáculo; e cada uma trazia consigo sua gota de óleo, isto é, sua alegria, que tornava mais fácil o seu uso em função de Deus. Infelizmente, porém, o pecado transtornou essa ordem perfeita; encontramos obstáculos a cada passo e dores a cada momento.
Deus não havia feito nem os obstáculos, nem as dores; elas são consequências do pecado. Ao restaurar a ordem degradada Jesus Cristo não suprimiu os obstáculos, nem as dores, mas deu a ambos uma utilidade, que estudaremos mais adiante.
Apesar do pecado, ainda restam múltiplos prazeres, que não deixam faltar totalmente o óleo da alegria às minhas faculdades. Em toda parte onde há deveres a cumprir, encontro também instrumentos suficientes, com frequência portadores da doçura que facilita seu uso - Assim, por que existe o prazer da família? - Para facilitar aos pais e aos filhos o grande dever da educação. - Por que o prazer da amizade? - Para impulsionar para o bem as almas unidas por seus laços - Por que o prazer dos alimentos: - Para me ajudar a responder ao dever fundamental da conservação corporal. - Por que o prazer da oração, dos sacramentos e dos favores espirituais?- Para favorecer o grande e sagrado dever das relações divinas.
O prazer sempre responde a um dever, para facilitar o seu cumprimento e será tanto mais intenso, quanto mais importante for o dever.
C - Prazer unicamente instrumental:
Esse prazer é, pois, verdadeiramente uma satisfação, já que responde a uma necessidade. das minhas faculdades e satisfaz essa necessidade. Mas é uma satisfação apenas instrumental, da qual devo me servir e não uma satisfação final, na qual eu possa descansar. É um meio e não um fim.
Quando digo que sou feito para a felicidade e que a felicidade é o fim secundário da minha existência, não me refiro, de forma alguma, a esse prazer que me vem das criaturas. Nestas não há para mim, nenhum vestígio de finalidade; minha finalidade e felicidade estão em Deus e as criaturas contém unicamente meios.
Quando alguém se engana a respeito do prazer criado e vive para desfruta-lo, isso transforma terrivelmente o plano divino. Tal transtorno infelizmente é muito frequente! É sobre este ponto que me engano, cada vez que saio da ordem. - ou seja, é uma desordem.
O prazer é bom, certamente, quando eu uso de forma ordenada. Quando dele abuso, torna-se o pior de forma ordenada. Quando dele abuso, torna-se o pior dos males e a fonte de minhas aberrações. Feliz o homem que dele se serve! Oxalá eu aprenda a nunca perverter o pensamento de Deus. Se o prazer não é mau em si, o seu abuso pode terna-lo mau.
Todo prazer que serve para facilitar o cumprimento do dever é sadio, fortifica e eleva. Quando contraria o dever torna-se pernicioso, deletério, aviltante. No primeiro caso alimenta as virtudes, no segundo, produz monstros. Cabe a mim decidir como utiliza-los, mas é preciso que seja sempre com moderação, uma vez que, depois do pecado original, as satisfações mais legítimas - e sobretudo as dos sentidos - tornaram-se um perigo.
Não somente elas correm o risco de assumir o primeiro plano na intenção, como também é difícil, para quem enelas toma gosto, desejar apenas as que são legítimas; quem se deixa escorregar pelo declive de sua natureza decaída, logo buscará também as demais.
Para manter o controle sobre nossas inclinações, é preciso dirigi-las com rédeas curtas. Dai vem a necessidade de mortificação, para levar um vida verdadeiramente cristã e essa necessidade será ainda maior na medida que buscamos a santidade e esforçar-nos para amar a Deus de todo coração, despojando-nos de qualquer apego às satisfações criadas.
Depois veremos: O ordenamento de minhas relações com as criaturas.
Estudo sobre Mortificação AQUI
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