Por Santo João Paulo II - no Centenário do Nascimento de João XXII
" Se nos perguntamos onde e como adquiriu o Papa João esses dotes de bondade e paternidade, unidas estas a uma fé cristã sempre íntegra e pura, é fácil responder: na família.
Ele mesmo, por toda a sua longa vida e num grandíssimo número de escritos, particulares e oficiais, recorda, comovida e reconhecidamente o seu patriarcal lar doméstico, os anos da meninice e da adolescência, passados num ambiente límpido e sereno, em que o estilo era a graça de Deus, vivida com simplicidade e coerência, a regra de vida era o catecismo e a instrução paroquial, o conforto era a oração, especialmente a Missa festiva e o Terço vespertino, e o empenho quotidiano era a caridade: "Éramos pobres — escrevia o Papa João — mas contentes com a nossa condição, confiados na ajuda da Providência. Quando um mendigo se apresentava à porta da cozinha, onde uns 20 jovens esperavam a tigela de caldo, havia sempre um lugar a mais. A minha mãe apressava-se em mandar sentar o hóspede ao lado de nós" (Giornale dell'anima, IV ed. Appendice).
O Papa João foi verdadeiramente um homem mandado por Deus e já tinha posto de sobreaviso acerca dos perigos que a ameaçam: "Este santuário — dizia com lágrimas no coração — está ameaçado por muitas insídias. Uma propaganda, por vezes sem limite, serve-se dos poderosos meios da imprensa, do espectáculo e do divertimento para difundir, especialmente na juventude, os germes nefastos da corrupção. É necessário que a família se defenda... Aproveitando também, quando é necessário, a tutela da lei civil .
Por isso, o seu ensinamento permanece válido e perene, porque é a voz da Verdade e é o que no íntimo deseja e espera a alma de cada pessoa. Apraz-me sintetizar esse ensinamento nos seguintes: Cinco "pontos firmes".
— Primeiro de tudo, a sacralidade da família, e portanto também do amor e da sexualidade: "a família é dom de Deus — dizia —, encerra uma vocação que vem do alto, a qual não se improvisa" (idem, Vol. III, p. 67). "Na família dá-se a mais admirável e íntima cooperação do homem com Deus: as duas pessoas humanas criadas à imagem e semelhança divina, são chamadas não só ao grande encargo de continuar e prolongar a obra criadora, dando a vida física a novos seres, a que o Espírito vivificador infunde o vigoroso princípio da vida imortal, mas são chamadas também ao dever mais nobre e que aperfeiçoa o primeiro, isto é, o da educação cívica e cristã da prole" (idem, Vol. II, p. 519). Por motivo desta essencial característica, quis Jesus que o matrimónio fosse 'Sacramento' ".
— A moralidade da família. "Não nos deixemos enganar, cegar, iludir — aconselhava com sabedoria cristã e paternal —: a Cruz é sempre a única esperança de salvação; a Lei de Deus está sempre nela, com os seus dez mandamentos a recordar ao mundo que só nela está a salvaguarda das consciências e das famílias, que só na sua observância está o segredo da paz e da tranquilidade de consciência. Quem se esquece disto, embora pareça esquivar qualquer preocupação de seriedade, depressa ou tarde constrói para si a própria tristeza e miséria" (idem, Vol. II, pp. 281-282). E noutra ocasião acrescentava: "O culto da pureza é a honra e o tesouro mais precioso da família cristã" (idem, Vol. IV, p. 897).
— A responsabilidade da família. O Papa João tem confiança na obra educativa dos pais, sustentada pela graça divina. Dirigindo-se ás mães dizia: "A voz da mãe, quando anima, convida e repreende, permanece esculpida profundamente no coração dos seus, e não se esquece nunca. Oh, só Deus conhece o bem despertado por esta voz, e a utilidade que ela procura à Igreja e à sociedade humana" (idem, Vol. II, p. 67). E aos pais acrescentava: "Nas famílias — onde o pai reza e tem fé alegre e consciente, frequenta as instruções catequéticas e a elas leva os filhos — não haverá tempestades nem desolações de uma juventude rebelde e sem amor. A nossa palavra quer ser sempre de esperança; mas estamos certo que, nalgumas expressões desconfortantes de vida juvenil, a maior responsabilidade se deve buscar primeiramente naqueles progenitores, especialmente nos pais de família, que fogem dos deveres precisos e graves do seu estado" (idem, Vol. IV, p. 272).
— A finalidade da família. Sob este ponto, o Papa João era claro e linear: o fim para que se nasce é a santidade e a salvação, e a família é querida por Deus para este fim. Há vinte anos, na carta-testamento, escrita por ocasião dos seus 80 anos, recordando uma a uma as suas amadas pessoas de família dizia: "Isto é o que mais vale: assegurar cada um a vida eterna confiando na bondade do Senhor que tudo vê e a tudo provê" (3 de Dezembro de 1961). E comentando cada um dos mistérios do Rosário, afirmava que pedia no terceiro mistério gozoso pelas crianças de todas as raças humanas vindas à luz nas últimas 24 horas (idem, Vol. IV, p. 241).
— A exemplaridade da família cristã. O Papa João exortava insistentemente os pais e os filhos cristãos a serem exemplo de fé e virtude no mundo moderno, segundo o modelo da Sagrada Família: "O segredo da verdadeira paz — dizia —, do mútuo e duradouro acordo, da docilidade dos filhos, do florescer de costumes delicados, está na imitação continua e generosa da doçura e da modéstia da Família de Nazaré" (idem, Vol. II, pp. 118-119). O Papa João está seguro que destas famílias exemplares podem brotar numerosas e escolhidas vocações sacerdotais e religiosas, apesar das dificuldades dos tempos.
Esta é, em síntese, a doutrina do grande e amável Pontífice, acerca da família, doutrina que soa a condenação clara das teorias e das práticas, que são contra a instituição familiar""
Fonte: AQUI
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