segunda-feira, 27 de junho de 2011

As Razões de nossa Esperança


O cardeal Newman, no seu sermão sobre A Verdade do Evangelho, afirma que "não nos deve estranhar sermos atacados e desprezados por aqueles que tem mais facilidade em atacar as crenças alheias do que em definir as próprias.Uma cultura a meias é muito perigosa. Quando as pessoas pensam saber mais do que os outros, dedicam-se muitas vezes a falar por falar, a fim de darem provas da sua capacidade intelectual(segundo pensam), da sua esperteza ou da sua profundidade.E falam tolamente de Deus-Todo-Poderoso, sómente para satisfazerem a sua vazia presunção e vaidade. Na maioria das vezes, de nada serve discutir com essas pessoas, já que, não tendo sido educadas para obedecer à sua consciência, refrear as suas paixões e examinar os seus corações, não aceitarão nada do que lhe digamos; duvidarão de tudo e opor-se-ão a tudo, não partem das mesmas bases que nós e, quando falam de religião, são como cegos que falassem de cores."

Todos reconhecemos imediatamente a sabedoria destas palavras do cardeal inglês; mesmo assim,estaríamos cometendo um grave erro se fizéssemos da obstinação dos incrédulos uma desculpa para a nossa ignorância.Mesmo que os outros não estejam dispostos a dar ouvido às nossas respostas, é importante que nós, pelo menos,as conheçamos.

Nem todos os ateus são vítimas de seu orgulho ou malícia; encontraremos alguns que buscam sinceramente a verdade, tateiam no escuro em busca de luz, com as suas inteligencias honestamente dispostas a crer. É para o bem dessas pessoas que, como diz São Pedro, devemos estar sempre preparados para dar as razões da nossa esperança a todo aquele que a pedir(I Pe 3,15).

Além disso, devemos convencer-nos de que não é necessário ser nenhum gigante intelectual para compreender e levar os outros a compreenderem como são razoáveis as verdades de nossa fé. Deus não criou o gênero humano com a intenção de só permitir a uns poucos genios alcançarem o céu, antes tornou as provas de sua existência e o conhecimento da sua verdade acessíveis a qualquer pessoa de inteligência normal e boa vontade.

Com efeito, no que diz respeito a religião, é muito importante dispor de um sólido senso comum do que um título universitário. Todos sabemos que há um cem número de "tolos instruídos" neste mundo, gente que aprendeu um infinidade de coisas nos seus livros e nos seus laboratórios, e no entanto é incapaz de conduzir um raciocínio linear até sua conclusão lógica.

A educação é uma bela flor quando se encontra enxertada numa mente dotada de bons critérios, capaz de discernir com prudência; mas se estiver enxertada numa inteligência superficial, egoísta ou torcida, essa rosa não passará de uma assa-fétida...

Há pessoas que afirmam ter perdido a fé durante os estudos universitários; receio; porém, que, na verdade, simplesmente se tenham esquecido desse fato elementar. Na juventude ensinaram-lhes que deviam ter reverência pela idade e pela experiência dos mais velhos, e muitas vezes incutiram-lhes falsas noções sobre a importância da "Educação Superior" (com maíusculas), esse tipo especial de educação que parece estar associada a uma cátedra universitária ou à autoria de grossos manuais universitários.

Por isso, a tendencia natural do jovem para escolher e venerar os seus heróis leva-o muitas vezes a centrar-se em algum professor bem-falante, muito mais dogmático no seu ateísmo do que o Papa jamais o foi em matéria de fé. Nestes casos, o sorriso de comiseração diante dos "absurdos a que conduz a religião", ou uma referência tangencial à "infantilidade dos dogmas teológicos", bastam muitas vezes para levar o pobre calouro a pensar que os seus religiosos pais, o sacerdote de sua paróquia ou as freirinhas que lhe ensinaram as primeiras letras estão mais do que ultrapassados pela ciência moderna...

Tenho em minha mesa um livro-texto escrito pelo professor titular de uma importante Universidade pública. Pretende ser uma História da Civilização Ocidental e constitui leitura obrigatória em muitos cursos superiores de História de todo o país. Pois bem,no capítulo sobre as "Orígens da religião", o autor começa por dizer:"Os historiadores e antropólogos atuais são unânimes em afirmar que a religião surgiu porque o homem primitivo era incapaz de dar uma explicação naturalista dos fatos da vida e da natureza, tal como podia observá-los.[...]O homem moderno, equipado com os recursos que a ciencia moderna lhe oferece, da astronomia à psiquiatria e sociologia, encontra-se capacitado para dar uma explicação naturalista convincente de quase todos os fatos que o homem primitivo observava e experimentava sem lhes encontrar explicação".

Seguem-se várias páginas repletas de uma verborréia pseudo-cientifica, destinada única e exclusivamente a demontrar que a religião não passa de uma relíquia ultrapassada, própria do homem pré-histórico. Só consigo sentir pena do confuso e frustrado estudante que tente ser aprovado na matéria lecionada por esse professor e ao mesmo tempo permanecer fiel as suas convicções.

Por outro lado, diverte-me especialmente o fato de o mencionado professor utilizar a palavra unânime, como se não houvesse historiadores católicos, como se homens do porte de Carlton Hayes, um Parker Moon e uma legião de outras autoridades da História da Religião internacionalmente conhecidas - muitos dos quais acabaram por converter-se ao Catolicismo graças aos seus estudos - pudessem ser varridos do mapa com um simples aceno de mão.

Pior ainda do que essa ignorância voluntária, porém, é o preconceito tranquilamente defendido de que não há provas da existência de Deus. Ora, é evidente que essas provas existem - provas sólidas, racionais e convincentes; provas não sómente da existência de Deus, mas também da origem divina da Igreja Católica.

Não se trata de provas esmagadoras, irresistíveis. Se o fossem, se a existência de Deus, a divindade de Cristo ou a origem divina da Igreja fossem verdades evidentes (tal com é evidente a existência do sol quando se está exposto à luz do meio dia), não haveria nenhum mérito em crer.

Ora, Deus não deseja forçar-nos a crer, não nos obriga a aceitá-lo. Mas, pelo menos por amor à verdade, convém que conheçamos essas provas e nos familiarizemos com essas evidências, pois a nossa fé pode ser - e efetivamente é - fortalecida pela luz da razão.

(Depois veremos: Deus Existe? Do Nada, Nada se Cria)

Veja: O Cristão e o descrente

Fonte:A Sabedoria do Cristão -
Padre Léo Trese

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