terça-feira, 30 de agosto de 2011

Carta Encíclica Divinum Illud Munus


Do Sumo Pontífice Leão XIII - Sobre a presença e Virtude admirável do Espírito Santo

Introdução

1. Aquela divina missão que, recebida do Pai em benefício do gênero humano, tão santamente desempenhou Jesus Cristo, tem como último fim fazer que os homens cheguem a participar de uma vida bem-aventurada na glória eterna; e, como fim imediato, que durante a vida mortal vivam a vida da graça divina, que ao final se abre florida na vida celestial.

Por isso, o Redentor mesmo não cessa de convidar com suma doçura a todos os homens de toda nação e língua para que venham ao seio de sua Igreja: Venham todos a mim; "Eu sou a vida; Eu sou o bom pastor". Mas, segundo seus altíssimos decretos, não quis Ele completar por si só incessantemente na terra tal missão, mas que, como Ele mesmo a tinha recebido do Pai, assim a entregou ao Espírito Santo para que a levasse a perfeito término. Apraz, com efeito, recordar as consoladoras frases que Cristo, pouco antes de abandonar o mundo, pronunciou diante dos Apóstolos: "Convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei"

E ao dizer assim, deu como razão principal de sua separação e de sua volta ao Pai o proveito que seus discípulos haveriam de receber com a vinda do Espírito Santo; ao mesmo tempo que mostrava com este era igualmente enviado por Ele e, portanto, que dEle procedia como do Pai; e que com advogado, como consolador e como mestre concluiria a obra por Ele iniciada durante sua vida mortal. A perfeição de sua obra redentora estava providencialmente reservada à múltipla virtude desse Espírito, que na criação adornou os céus (2) e encheu a terra

Guiados por esta intenção, em todos os atos de nosso pontificado a duas coisas principalmente temos atendido e sem cessar atendemos. Primeiro, a restaurar a vida cristã tanto na sociedade pública como na familiar, tanto nos governantes como nos povos; porque somente de Cristo pode se derivar a vida para todos. Segundo, a fomentar a reconciliação com a Igreja daqueles que, por causa da fé ou por obediência, estão separados dela; pois a verdadeira vontade do mesmo Cristo é que haja só um rebanho sob um só Pastor. E agora, quando nos sentimos próximos do fim de nossa carreira mortal, apraz consagrar toda nossa obra, qualquer que tenha sido, ao Espírito Santo, que é vida e amor, para que a fecunde e a madure.

[...]

Espírito Santo e Jesus Cristo

Já precisados os atos de fé e de culto devidos à augustíssima Trindade, o qual tudo nunca se inculcará bastante ao povo cristão, nosso discurso agora se dirige a tratar do eficaz poder do Espírito Santo. Antes de tudo, dirijamos um olhar a Cristo, fundador da Igreja e Redentor do gênero humano. Entre todas as obras de Deus ad extra, a maior é, sem dúvida, o mistério da Encarnação do Verbo; nele brilha de tal modo a luz dos divinos atributos, que nem é possível pensar nada superior nem pode haver nada mais saudável para nós. Este grande prodígio, ainda quando realizado por toda a Trindade, sem embargo se atribui como "próprio" ao Espírito Santo, e assim diz o Evangelho que a concepção de Jesus no seio da Virgem foi obra do Espírito Santo (14), e com razão, porque o Espírito Santo é a caridade do Pai e do Filho, e este grande mistério da bondade divina (15), que é a Encarnação, foi devido ao imenso amor de Deus ao homem, como adverte São João: "Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único".

Acrescenta-se que por dito ato a natureza humana foi levantada à união pessoal com o Verbo, não por mérito algum, mas somente por pura graça, que é dom próprio do Espírito Santo: "O admirável modo – diz Santo Agostinho – com que Cristo foi concebido por obra do Espírito Santo, nos dá a entender a bondade de Deus, posto que a natureza humana, sem mérito algum precedente, já no primeiro instante foi unida ao Verbo de Deus em unidade tão perfeita de pessoa que um mesmo fosse de uma vez Filho de Deus e Filho do homem (17).
[...].

O Espírito Santo e a Igreja

7. A Igreja, já concebida e nascida do coração mesmo do segundo Adão na Cruz, se manifestou aos homens pela primeira vez de modo solene no célebre dia de Pentecostes com aquela admirável efusão, que havia sido vaticinada pelo profeta Joel (23); e naquele mesmo dia se iniciava a ação do divino Paráclito no místico corpo de Cristo, pousando sobre os Apóstolos, como novas coroas espirituais, formadas com línguas de fogo, sobre suas cabeças (24) .

E então os Apóstolos desceram do monte, como escreve o Crisóstomo, não mais levando em suas mãos como Moisés tábuas de pedra, mas o Espírito Santo em sua alma, derramando o tesouro e fonte de verdade e de carismas (25). Assim, certamente se cumpria a última promessa de Cristo a seus Apóstolos, a de lhes enviar o Espírito Santo, para que com sua inspiração completara e de certo modo selar o depósito da revelação: "Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora. "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade" (26).

O Espírito Santo, que é espírito da verdade, pois procede do Pai, Verdade eterna, e do Filho, Verdade substancial, recebe de um e outro, juntamente com a essência, toda a verdade que logo comunica à Igreja, assistindo-a para que não erre jamais, e fecundando os germes da revelação até que, no momento oportuno, cheguem à maturidade para a saúde dos povos.

E como a Igreja, que é meio de salvação, há de durar até a consumação dos séculos, precisamente o Espírito Santo a alimenta e acrescenta em sua vida e em sua virtude: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco". (27) Pois por Ele são constituídos os bispos, que engendram não só filhos, mas também pais, isto é, sacerdotes, para guiá-la e alimentá-la com aquele mesmo sangue com que foi redimida por Cristo: "O Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue" (28); uns e outros, bispos e sacerdotes, por singular dom do Espírito têm poder de perdoar os pecados, segundo Cristo disse a seus apóstolos: "Recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos".

O Espírito Santo nas almas

8. Nada confirma tão claramente a divindade da Igreja como o glorioso esplendor de carismas que por todas as partes a circundam, coroa magnífica que ela recebe do Espírito Santo. Baste, por último, saber que se Cristo é a cabeça da Igreja, o Espírito Santo é sua alma: "O que a alma é em nosso corpo, o Espírito Santo é no corpo de Cristo, que é a Igreja" (30). Se é assim, não cabe imaginar nem esperar ainda outra maior e mais abundante manifestação e aparição do Divino Espírito, pois a Igreja tem já o máximo, que há de durar até que, desde o estado da milícia terrena, seja elevada triunfante ao coro feliz da sociedade celestial.

Não menos admirável, ainda que em verdade seja mais difícil de entender, é a ação do Espírito Santo nas almas, que se oculta a todo olhar sensível.

E esta efusão do Espírito é de abundância tanta que o mesmo Cristo, seu doador, a assemelhou a um rio abundantíssimo, como afirma São João: "Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva"; testemunho que glosou o mesmo evangelista dizendo: "Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele". (31)

Continuem lendo aqui, vale a pena

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