7,55
Por Padre Leo Trese
Faltam cinco para as oito no relógio do presbitério. Antes de levantar-me, concluo com firmes propósitos a meditação da manhã.
Os coroinhas esperam-me na sacristia: Don, o dos cabelos ruivos e das mãos sujas de terra, como de costume; e Jimmy, o sardento, que, também como de costume, perdeu a batalha travada contra os seus cabelos rebeldes.
"Bom dia, padre", dizem-me em coro, respondendo a minha saudação. Terminado o meu lavabo, e depois de ter mandado Don fazer o seu, tomo o amito. - "Colocai Senhor, sobre a minha cabeça o elmo da salvação..." - (As breves frases que o autor cita são o começo das orações que o sacerdote pode rezar ao impor cada um dos paramentos litúrgicos para a Missa) - começo, mas, antes de acabar a oração, volta a aparecer o diabinho que tantas vezes atormenta os meus pensamentos.
Desta vez trata-se dos coroinhas.
Don, atrás de mim, enquanto deixa na toalha aquelas dedadas que deseperam a Irmã sacristã, pensa que há de vir a ser padre. Está ainda na 8ª série, e muitas coisas podem acontecer em doze anos, mas talvez seja uma das respostas ao meu memento diário na Missa para que haja muitas vocações nesta paróquia. Se as vocações sacerdotais não surgem dentre os coroinhas, de onde virão? Quem melhor do que eles pode escutar a voz de apelo que vem do sacrário?
"Branqueai-me, Senhor, e purificai o meu coração...,(início da oração que o sacerdote reza ao impor a alva) - mas o diabinho torna a fazer das suas. Percebo que Deus está tão interessado como o Papa ou eu mesmo em ver a sua Igreja abençoada com vocações suficientes. Disse suficientes? Abundantes seria melhor, pensando na liberalidade de um Deus que deixa cair mil bolotas para que possa nascer um só carvalho. Se as vocações não vingam, que é o responsável?
Don, atrás de mim, enquanto deixa na toalha aquelas dedadas que deseperam a Irmã sacristã, pensa que há de vir a ser padre. Está ainda na 8ª série, e muitas coisas podem acontecer em doze anos, mas talvez seja uma das respostas ao meu memento diário na Missa para que haja muitas vocações nesta paróquia. Se as vocações sacerdotais não surgem dentre os coroinhas, de onde virão? Quem melhor do que eles pode escutar a voz de apelo que vem do sacrário?
"Branqueai-me, Senhor, e purificai o meu coração...,(início da oração que o sacerdote reza ao impor a alva) - mas o diabinho torna a fazer das suas. Percebo que Deus está tão interessado como o Papa ou eu mesmo em ver a sua Igreja abençoada com vocações suficientes. Disse suficientes? Abundantes seria melhor, pensando na liberalidade de um Deus que deixa cair mil bolotas para que possa nascer um só carvalho. Se as vocações não vingam, que é o responsável?
Um arrepio de culpa percorre-me a espinha enquanto aperto o cíngulo.
As fáceis desculpas habituais não se tem em pé: as famílias católicas são tíbias e só pensam em divertir-se. Já uma vez tentei enveredar por esses subterfúgios, mas não deu certo. Quem senão eu é responsável por essa falta de ambiente cristão nas famílias e pelo materialismo do meu rebanho? Tento encarar o assunto de frente. Se esta paróquia não concorre com a sua parte para as vocações sacerdotais, a responsabilidade será exclusivamente minha.
Significará que não tenho sabido cultivar as sementes que Deus lançou. Não dizem os teólogos que "a graça aperfeiçoa a natureza" ou coisa parecida? Para que a semeadura de Deus frutifique, o solo deve ser preparado e enriquecido, e os primeiros rebentos tem que ser cuidadosamente alimentados.
Enquanto coloco a estola, pergunto a mim mesmo se venho desempenhando bem o papel de administrador de vocações. Se os rapazes devem sentir-se atraídos pelo sacerdócio , então devemos fazer com que o sacerdócio seja uma coisa atraente."Pois caro!", como diria Jimmy.
O problema é que, para estes rapazes, o "sacerdócio" é uma coisa abstrata. Para eles, o sacerdócio sou eu. Se lhes agrada o que vêem em mim, ouvirão o doce chamado do Mestre. Mas vêem eles em mim a sobrenaturalidade do sacerdócio? Encontram-me ajoelhado diante do altar, quando vem ajudar à Missa, mesmo quando chegam meia hora mais cedo? Vêem-me assim outra vez, dando graças, quando se vão embora?
Assim é, na verdade, mas isso não é o suficiente, digo de mim para mim, enquanto prendo a estola com o cíngulo.
Os ideais destes moleques são tão "malditamente" altos e o seu instinto tão certeiro!...Ouviram falar, por exemplo, da suave caridade de Cristo, e bem sei que, inconscientemente, me comparam com Ele. Esta é uma das razões pelas quais lhes digo em tom afável:"Bom dia, meninos", antes da Missa e "obrigado, meninos", logo que ela termina.
Essa é também a razão pela qual cuido de dominar a minha impaciência, para que os seus erros humanos, os seus estouvamentos e leviandades não arranquem dos meus lábios uma repreensão amarga. Esse é o motivo pelo qual devo corrigir sem veneno e elogiar com generosidade.
Acompanho quase com suspiro as palavras "Senhor, Vós que dissestes: o meu jugo é suave e o meu fardo é leve...(Início da oração que o sacerdote reza ao colocar a casula)
São tantos os ingredientes de uma vocação que não me atrevo a omitir nenhum. Se os rapazes devem conhecer melhor o sacerdócio, devem conhecer-me melhor a mim. É por isso que, desde há muito tempo, cuido de instruí-los e orientá-los. É possível que não estejam tão bem arrumadinhos como quando a Irmã Ludwig se encarregava deles, mas consigo uma maior união enquanto celebro a Missa.
Não tenho agora desculpa nenhuma se volto a cabeça um pouco antes da Consagração e digo em tom sibilante: "por amor de Deus, toquem essa campainha!". Agora ganham consciência dos seus erros e expõem os seus problemas nas nossas reuniões semanais de caráter familiar.
Uma coisa me consola (o relógio diz-me que falta um minuto para as oito): os coroinhas não tem medo de mim. Nunca compreendi por que devia haver uma relação entre sacred(sagrado) e scared (assustado), embora as palavras pareçam semelhantes. Que alguém tenha medo de um padre é uma coisa horrível; mas que o tenham aqueles que espontaneamente a ajudam no altar é algo inconcebível.
Ninguém diz que não deva haver respeito pelas coisas sagradas e reverencia na sacristia. Mas se Eddie Higgin não resiste a contar-me, precisamente antes da Missa, que tem uma nova irmãnzinha, não posso imaginar que Cristo franza o sobrolho. Também eu não devo faze-lo.
Não devo esquecer nem mesmo os fatores humanos que podem fazer desabrochar uma vocação. Por causa do que chamam "culto ao herói", que ocupa um lugar tão importante na vida de uma criança, é difícil competir com o jogador de futebol ou com o cowboy favorito. Mas posso tentar. Para isso contribuem os nossos frequentes exercícios de natação no verão, os jogos de futebol no outono e os de hóquei ou os filmes no inverno.
Na minha pequena paróquia, com um dezena de coroinhas, esses programas não são difíceis de organizar. E nunca mais hei de sentir que perco o tempo ou que poderia aproveitá-lo para fins mais úteis.
Que pode ser mais útil do que um novo padre - exceto dois ou três?
E nestas cavilações passou o tempo sem eu dar por isso. Falta meio minuto para as oito e são horas de me dirigir ao altar.
Ao pegar o cálice e inclinar-me diante da Cruz, ocorre-me pensar que os clubes para moços são uma idéia eficaz, não por causa da sua organização, mas porque oferecem aos sacerdotes que os dirigem a possibilidade de fazer o que todos devíamos fazer sempre: trabalhar com todas as forças para encher as nossas fileiras.
A sineta da sacristia apanha-me com uma oração nos lábios: "que nenhuma vocação passe despercebida ou fique abandonada porque eu - pelas minhas palavras, pelo meu mau exemplo e negligência - deixei de dar plena ressonancia à voz do Senhor"
Fonte: Vaso de Argila
Veja Mais:
Começa um novo dia
Elas podem esperar
O Vendedor e o Sacerdote
A Lição de São Lourenço
Temos um bom Sacerdote?
Faça alguma coisa, já!
Sou um Meditador de Livros
Uma coisa me consola (o relógio diz-me que falta um minuto para as oito): os coroinhas não tem medo de mim. Nunca compreendi por que devia haver uma relação entre sacred(sagrado) e scared (assustado), embora as palavras pareçam semelhantes. Que alguém tenha medo de um padre é uma coisa horrível; mas que o tenham aqueles que espontaneamente a ajudam no altar é algo inconcebível.
Ninguém diz que não deva haver respeito pelas coisas sagradas e reverencia na sacristia. Mas se Eddie Higgin não resiste a contar-me, precisamente antes da Missa, que tem uma nova irmãnzinha, não posso imaginar que Cristo franza o sobrolho. Também eu não devo faze-lo.
Não devo esquecer nem mesmo os fatores humanos que podem fazer desabrochar uma vocação. Por causa do que chamam "culto ao herói", que ocupa um lugar tão importante na vida de uma criança, é difícil competir com o jogador de futebol ou com o cowboy favorito. Mas posso tentar. Para isso contribuem os nossos frequentes exercícios de natação no verão, os jogos de futebol no outono e os de hóquei ou os filmes no inverno.
Na minha pequena paróquia, com um dezena de coroinhas, esses programas não são difíceis de organizar. E nunca mais hei de sentir que perco o tempo ou que poderia aproveitá-lo para fins mais úteis.
Que pode ser mais útil do que um novo padre - exceto dois ou três?
E nestas cavilações passou o tempo sem eu dar por isso. Falta meio minuto para as oito e são horas de me dirigir ao altar.
Ao pegar o cálice e inclinar-me diante da Cruz, ocorre-me pensar que os clubes para moços são uma idéia eficaz, não por causa da sua organização, mas porque oferecem aos sacerdotes que os dirigem a possibilidade de fazer o que todos devíamos fazer sempre: trabalhar com todas as forças para encher as nossas fileiras.
A sineta da sacristia apanha-me com uma oração nos lábios: "que nenhuma vocação passe despercebida ou fique abandonada porque eu - pelas minhas palavras, pelo meu mau exemplo e negligência - deixei de dar plena ressonancia à voz do Senhor"
Fonte: Vaso de Argila
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