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Por padre Leo Trese
Um forte impulso me faz ir do genuflexório para a cadeira: começa a meia hora mais curta do dia.
Houve um tempo em que quinze minutos de meditação representavam para mim um ato verdadeiramente heróico - algo que podia ser omitido com uma desculpa razoável e sem qualquer sensação de perda. É muito doloroso pensar que tardei tanto tempo em descobrir que era verdade tudo o que nos tinham dito no seminário sobre a meditação. Refiro-me à sua necessidade e valor como fonte de energia.
E o pior é que nem mesmo quando cheguei ao fim do quarto ano de Teologia tinha aprendido a meditar. Armava tal confusão com prelúdios, composição de lugar, tempo e pessoas, com aplicações práticas e ramalhetes espirituais*, que nunca cheguei a penetrar a fundo no miolo da meditação.
(Padre Léo refere-se aos esquemas que algumas escolas de espiritualidade recomendam aos principiantes para fazer a meditação ou oração mental)
O papel que as diversas faculdades - memória, imaginação, inteligência e vontade - deviam representar estava suficientemente claro. Mas o que me distraía era ter de estar atento às "deixas"do contra-regra... Muito provavelmente a faculdade chamada a intervir em determinado momento andaria perdida Deus sabe onde.
Com o polegar, abro pela marca do livro do pe. Leen - A identificação com Cristo (sou um meditador de livros e sempre serei: uma dessas cabeças indisciplinadas que, enquanto pastam, tem que estar firmemente atadas. Confesso com pena que tudo o que sei sobre contemplação se reduz aos textos de Tanquerey e Patente).
Esta manhã, os meus pensamentos parecem estar inusitadamente irrequietos, mas o pe. Leen se encarregará de reconduzi-los ao bom caminho. Talvez para isso seja necessário ler um parágrafo inteiro - ou até duas ou três páginas - maz não há dúvida de que alguma coisa me chamará atenção: da págima há de saltar uma frase como que a dizer-me: "Isto é para ti, amigo". E a partir desse momento, a minha consciência tomará as rédeas.
O que mais me agrada no pe. Leen, em D. Columba Marmion ou em D. Chautard é que nenhum deles me exaspera dizendo-me "2ºponto" ou "3ºponto", precisamente no momento em que começava a entrever a verdade no "1ºponto"*(referência a meditação que costumavam fazer juntos os seminaristas na capela, lendo-se, a espaços regulares, três trechos de um livro, como "pontos" de meditação).
Bem que gostaria de saber quem foi que inventou essa embrulhada dos três pontos.
É verdade que no seminário nos ensinaram expressamente que, se um ponto oferecia matéria suficiente de meditação, devíamos insistir nele. No entanto, eram três os pontos que nos liam todas as manhãs na capela e nenhum livro de meditação se considerava completo sem eles. Não sei os outros, mas, quanto a mim, as frases preparatórias e os pontos enfileirados em ordem de bataha dão-me calafrios.
Se eu fosse diretor espiritual de um seminário!...Bem, para começar, acho que morreria de medo, só de pensar no fogo que deve arder no coração do diretor, se tem que acender todas e cada uma das "velas" que tem à sua volta. Mas, se tivesse de arcar com responsabilidade tão grande, julgo que procuraria eliminar a leitura de textos de meditação bem esquematizados com um exrcício comunitário. Se tivesse que usar um livro, usá-lo-ia para me fortificar a mim próprio privadamente, e só depois o meditaria junto com os outros.
Mas, quem sou eu para falar de meditação? Ouço os coroinhas que entram na sacristia, procurando falar em voz baixa para não me incomodarem, e eu nem sequer comecei ainda! Disto, sim, não posso culpar o seminário. Nem de muitas outras coisas.
Não foi culpa do seminário se, nos primeiros anos do meu sacerdócio, me deixei vencer pela heresia das boas obras: deitar-me tarde, por exemplo, para resolver assuntos relacionados com as atividades dos jovens, tinha como consequência que perdia a hora de levantar-me e mal me lembrava de rezar. Desculpava-me a mim próprio, pensando na "maravilhosa influência" que exercia sobre a juventude da paróquia, esquecendo-me de que Deus, com o dedo mindinho, podia conseguir muito mais que todo o meu trabalho atropelado.
A minha vaidade zombava da graça divina; tenho certeza de que os anjos deviam tremer com o meu atrevimento. Também não posso culpar o seminário pela minha enorme presunção. Por que nos previniam com tanta insistência sobre as tentações e os perigos? Afinal de contas, era tão fácil ser bom! Tudo o que tínhamos que fazer era simplesmente ter muito trabalho. Muito trabalho. Muito trabalho... Assim pensava eu!
Oh! já vem acender as velas, onde está a minha meditação?
Um forte impulso me faz ir do genuflexório para a cadeira: começa a meia hora mais curta do dia.
Houve um tempo em que quinze minutos de meditação representavam para mim um ato verdadeiramente heróico - algo que podia ser omitido com uma desculpa razoável e sem qualquer sensação de perda. É muito doloroso pensar que tardei tanto tempo em descobrir que era verdade tudo o que nos tinham dito no seminário sobre a meditação. Refiro-me à sua necessidade e valor como fonte de energia.
E o pior é que nem mesmo quando cheguei ao fim do quarto ano de Teologia tinha aprendido a meditar. Armava tal confusão com prelúdios, composição de lugar, tempo e pessoas, com aplicações práticas e ramalhetes espirituais*, que nunca cheguei a penetrar a fundo no miolo da meditação.
(Padre Léo refere-se aos esquemas que algumas escolas de espiritualidade recomendam aos principiantes para fazer a meditação ou oração mental)
O papel que as diversas faculdades - memória, imaginação, inteligência e vontade - deviam representar estava suficientemente claro. Mas o que me distraía era ter de estar atento às "deixas"do contra-regra... Muito provavelmente a faculdade chamada a intervir em determinado momento andaria perdida Deus sabe onde.
Com o polegar, abro pela marca do livro do pe. Leen - A identificação com Cristo (sou um meditador de livros e sempre serei: uma dessas cabeças indisciplinadas que, enquanto pastam, tem que estar firmemente atadas. Confesso com pena que tudo o que sei sobre contemplação se reduz aos textos de Tanquerey e Patente).
Esta manhã, os meus pensamentos parecem estar inusitadamente irrequietos, mas o pe. Leen se encarregará de reconduzi-los ao bom caminho. Talvez para isso seja necessário ler um parágrafo inteiro - ou até duas ou três páginas - maz não há dúvida de que alguma coisa me chamará atenção: da págima há de saltar uma frase como que a dizer-me: "Isto é para ti, amigo". E a partir desse momento, a minha consciência tomará as rédeas.
O que mais me agrada no pe. Leen, em D. Columba Marmion ou em D. Chautard é que nenhum deles me exaspera dizendo-me "2ºponto" ou "3ºponto", precisamente no momento em que começava a entrever a verdade no "1ºponto"*(referência a meditação que costumavam fazer juntos os seminaristas na capela, lendo-se, a espaços regulares, três trechos de um livro, como "pontos" de meditação).
Bem que gostaria de saber quem foi que inventou essa embrulhada dos três pontos.
É verdade que no seminário nos ensinaram expressamente que, se um ponto oferecia matéria suficiente de meditação, devíamos insistir nele. No entanto, eram três os pontos que nos liam todas as manhãs na capela e nenhum livro de meditação se considerava completo sem eles. Não sei os outros, mas, quanto a mim, as frases preparatórias e os pontos enfileirados em ordem de bataha dão-me calafrios.
Se eu fosse diretor espiritual de um seminário!...Bem, para começar, acho que morreria de medo, só de pensar no fogo que deve arder no coração do diretor, se tem que acender todas e cada uma das "velas" que tem à sua volta. Mas, se tivesse de arcar com responsabilidade tão grande, julgo que procuraria eliminar a leitura de textos de meditação bem esquematizados com um exrcício comunitário. Se tivesse que usar um livro, usá-lo-ia para me fortificar a mim próprio privadamente, e só depois o meditaria junto com os outros.
Mas, quem sou eu para falar de meditação? Ouço os coroinhas que entram na sacristia, procurando falar em voz baixa para não me incomodarem, e eu nem sequer comecei ainda! Disto, sim, não posso culpar o seminário. Nem de muitas outras coisas.
Não foi culpa do seminário se, nos primeiros anos do meu sacerdócio, me deixei vencer pela heresia das boas obras: deitar-me tarde, por exemplo, para resolver assuntos relacionados com as atividades dos jovens, tinha como consequência que perdia a hora de levantar-me e mal me lembrava de rezar. Desculpava-me a mim próprio, pensando na "maravilhosa influência" que exercia sobre a juventude da paróquia, esquecendo-me de que Deus, com o dedo mindinho, podia conseguir muito mais que todo o meu trabalho atropelado.
A minha vaidade zombava da graça divina; tenho certeza de que os anjos deviam tremer com o meu atrevimento. Também não posso culpar o seminário pela minha enorme presunção. Por que nos previniam com tanta insistência sobre as tentações e os perigos? Afinal de contas, era tão fácil ser bom! Tudo o que tínhamos que fazer era simplesmente ter muito trabalho. Muito trabalho. Muito trabalho... Assim pensava eu!
Oh! já vem acender as velas, onde está a minha meditação?
Perdoai-me, meu Deus, por esta vez, por esta vez ainda. E permiti que esta cana rachada ofereça uma oração ao vosso sagrado Coração pelos novos rebentos que estão surgindo e que em breve nos haverão de substituir. Ensinai-os. Convencei-os. E se as suas cabeças forem tão duras como a minha, metei nelas a marteladas a convicção de que nada Vos servirão os seus talentos, sejam quais forem, se não beberem profundamente no vosso espírito, todas as manhãs.
Fonte: Vaso de Argila
Veja Mais:
Começa um novo dia
Elas podem esperar
O Vendedor e o Sacerdote
A Lição de São Lourenço
Temos um bom Sacerdote?
Faça alguma coisa, já!
Fonte: Vaso de Argila
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Temos um bom Sacerdote?
Faça alguma coisa, já!
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