sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Vida da Graça -Crescer na Vida Espiritual pelo Mérito




A Vida Espiritual - Explicada e Comentada - de Adolfh Tanquerey

Progredimos pela luta contra os nossos inimigos, mas ainda mais pelos atos meritórios que praticamos cada dia.

Todo ato bom, feito livremente por uma alma em estado de graça com intenção sobrenatural, possui um tríplice valor: meritório, satisfatório e impetratório, que contribui para o nosso progresso espiritual.

a) Valor meritório, pelo qual aumentamos o nosso capital de graça habitual e os nossos direitos à glória celeste.

b) Valor satisfatório, que em si mesmo encerra um tríplice elemento:

1) a propiciação que, por meio de um coração contrito e humilhado, nos torna a Deus propício e o inclina a perdoar-nos as nossas faltas;

2) a expiação que, pela infusão da graca, apaga a falta;

3) a satisfação que, pelo seu carater penal que anda anexo as nossas boas obras, anula de todo ou em parte a pena devida ao pecado. Não são somente as ações propriamente ditas que produzem este feliz resultado, mas ainda a aceitação voluntaria dos males e sofrimentos desta vida, como no-lo ensina o Concílio de Trento; e acrescenta que isso é um grande sinal do amor divino. E na verdade, que há de mais consolador que podermos aproveitar-nos de todas as adversidades, para purificar a nossa alma e uni-la mais perfeitamente a Deus?

c) Enfim estes mesmos atos tem ainda um valor impetratório, enquanto contém uma petição de novas graças, dirigida à infinita misericordia de Deus. Como faz notar com razão Santo Tomás, ora-se, não somente quando de modo explícito se apresenta um requerimento a Deus, mais ainda quando, por um movimento do coração ou pela ação, se tende para Ele; de tal sorte que ora sempre aquele que orienta toda a sua vida para Deus. E, com efeito, este voo de alma para Deus não será uma oração, uma elevação da alma para Deus, e um meio eficacíssimo de obter dele o que desejamos para nós e para os outros?

Doutrina sobre o mérito:

1. a sua natureza.
2. condições que aumentam o seu valor.

I.A natureza do mérito

A- O que é mérito
B- Como sao meritórias as nossas ações.

O que e mérito

Mérito, em geral, é um direito a uma recompensa. O mérito sobrenatural, de que aqui se trata, será, pois, o direito a uma recompensa sobrenatural, isto é, a uma participação da vida de Deus, à graça e à glória. E, como Deus não é obrigado a nos fazer participar da sua vida, será necessária uma promessa da sua parte, para nos conferir um verdadeiro direito a essa recompensa sobrenatural. Pode-se, pois, definir o mérito sobrenatural: um direito a uma recompensa sobrenatural que resulta duma obra sobrenatural boa, feita livremente para Deus, e duma promessa divina que afiança essa recompensa.

Distinguem-se duas espécies de mérito:

a) o mérito propriamente dito (que se chama de condigno), ao qual a remuneração é devida em rigor de justica, porque há certa igualdade ou proporção real entre a obra e a retribuição;

b) o mérito de conveniência (de congruo), que não se funda em estrita justiça, senão em grande conveniência, visto a obra não ser, senão em reduzida escala, proporcionada com o galardão. Para dar desta diferenca uma ideia aproximativa, pode-se dizer que o soldado que se bate denodamente no campo de batalha tem direito estrito ao soldo de guerra, mas somente direito de conveniência a uma citação na ordem do dia ou a uma condecoração.

O Concílio de Trento ensina que as obras do homem justificado (batizado) merecem verdadeiramente um aumento de graça, a vida eterna, e, se morrer nesse estado, a consecução da glória

Relembremos sumariamente as condições gerais do mérito.

a) A obra para ser meritória, deve ser livre; e claro que quem opera constrangido ou necessitado, não tem responsabilidade moral dos próprios atos.

b) Deve ser sobrenaturalmente boa, para estar em proporção com a recompensa;

c) e, tratando-se do mérito propriamente dito, deve ser praticada em estado de graça, visto ser esta graça que faz habitar e viver em Cristo em nossas almas e nos torna participantes dos seus méritos;

d) durante a nossa vida mortal ou viadora, pois que Deus sabiamente determinou que, após um período de provação em que podemos merecer e desmerecer, chegassemos ao termo onde ficaremos para sempre fixados no estado em que a morte nos colher. - A estas condicoes da parte do homem junta-se da parte de Deus a promessa que nos dá um direito verdadeiro à vida eterna; e que, na verdade, segundo Sao Tiago, o justo recebe a coroa de vida que Deus prometeu aos que o amam.

Como atos meritórios aumentam a graça e a glória

A primeira vista parece difícil compreender como atos, tão simples, tão comuns e essencialmente transitórios, podem merecer a vida eterna. Esta dificuldade seria insoluvel, se esses atos viessem unicamente de nós; mas eles são, em realidade, obra de dois, resultado da cooperação de Deus e da vontade humana, e e isso o que explica a sua eficácia: coroando os nossos méritos, coroa Deus também os seus dons, porque tem nesses méritos uma parte preponderante.

Expliquemos, pois, a parte de Deus e a do homem; assim melhor compreenderemos a eficácia dos atos meritórios.

A) Deus é a causa principal e primária dos nossos méritos:

Não sou eu quem opera, diz Sao Paulo, é a graça de Deus comigo. Foi Ele, efetivamente, quem criou as nossas faculdades, foi Ele quem as elevou ao estado sobrenatural, aperfeicoando-as pelas virtudes e dons do Espírito Santo. É Ele que, pela sua graca atual, preveniente e adjuvante, nos solicita a fazer o bem e nos ajuda a faze-lo. É Ele, pois, a causa primaria que poe em movimento a nossa vontade e lhe da forcas novas que lhe permitem operar sobrenaturalmente.

B) Mas a nossa vontade livre, correspondendo as solicitações de Deus, opera sob o influxo da graça e das virtudes, e assim se torna causa secundaria, mas real e eficiente, de nossos atos meritórios, porque somos colaboradores de Deus.

Sem este livre consentimento, não há mérito: no céu já não há merecimento, porque não podemos deixar de amar esse Deus que vemos claramente ser a bondade infinita e a fonte da nossa bem-aventurança. Por outro lado, a nossa mesma cooperação é sobrenatural: pela graça habitual somos divinizados em nossa substância, pelas virtudes infusas e pelos dons somo-lo em nossas faculdades, pela graça atual até em nossos atos o somos.

Há, pois, proporção real entre as nossas ações, tornadas assim deiformes, e a graça, que é tambem em si uma vida deiforme, ou a glória, que não é mais que a completa evolução dessa mesma vida.

É certo que esses atos são transitórios, e a glória é eterna; mas, se na vida natural, atos que passam produzem habitos e estados de alma que permanecem, justo é que o mesmo suceda na ordem sobrenatural, e que os nossos atos de virtudes, visto produzirem em nossa alma uma disposição habitual de amar a Deus, sejam remunerados com uma recompensa duradoura; e, como a nossa alma é imortal, convem que esta recompensa não tenha fim.

Poder-se-ia objetar sem duvida que, não obstante esta proporção, Deus não é obrigado a dar-nos recompensa tão nobre e duradoura como a graça e a glória. De boa mente concedemos tudo isso e reconhecemos que Deus, em sua infinita bondade, nos dá mais do que merecemos; não teria, pois, obrigação de nos admitir ao gozo da eterna visão beatífica, se o não tivesse prometido.

Mas prometeu-o pelo mesmo fato de nos haver destinado a um fim sobrenatural; e essa promessa é nos mais duma vez recordada na Sagrada Escritura, onde a vida eterna se nos apresenta como recompensa prometida aos justos e coroa de justiça. E é por isso que o Concilio de Trento nos declara que a vida eterna é a um tempo graça, misericordiosamente prometida por Jesus Cristo, e recompensa que, em virtude da promessa de Deus, e fielmente concedida as boas obras e aos méritos.

É em virtude desta promessa que se pode concluir que o mérito propriamente dito é algo pessoal, é para nós e não para os outros que merecemos a graça e a vida eterna, porque a divina promessa não se estende mais longe. Inteiramente diverso é o caso de Nosso Senhor Jesus Cristo que, tendo sido constituído cabeça moral da humanidade, em virtude desse munus , mereceu, em sentido rigoroso, para cada um dos seus membros.

É certo que podemos merecer também para os outros, mas com mérito de conveniência; e isto é já bem consolador, pois que esse mérito se vem acrescentar ao que adquirimos para nós mesmos, e assim nos permite trabalhar em nossa santificação, e ao mesmo tempo cooperar na dos nossos irmãos.

Vejamos, pois, as condições que aumentam o valor dos nossos atos meritórios.

Essas condições tiram-se evidentemente das diversas causas que concorrem para a produção dos atos meritórios: por conseguinte, de Deus e de nós mesmos.

Com a liberdade de Deus, sempre magnífico em seus dons, podemos contar absolutamente.
A nossa atenção, deve, pois, convergir principalmente para as nossas disposições: vejamos o que as pode tornar melhores, tanto da parte do sujeito que merece, como da parte do ato meritório em si mesmo.

Condições tiradas do sujeito em si mesmo

Quatro são as principais condições que contribuem para o aumento dos nossos méritos:

1 - o nosso grau de graça habitual ou de caridade;
2 - a nossa união com Jesus Cristo:
3 - a nossa pureza de intenção;
4 - o nosso fervor.

1 - O nosso grau de graça santificante:

Para merecer em sentido próprio, é necessário viver em estado de graça: por conseguinte, quanto mais graça habitual possuirmos, tanto mais, em igualdade de circunstâncias, somos aptos para merecer. É certo que alguns teólogos o negaram sob pretexto que esta quantidade de graça nem sempre exerce influxo sobre os nossos atos, para os tornar melhores, e que há almas santas que por vezes operam com negligencia e imperfeição.

E com efeito, o valor dum ato, ainda mesmo entre os homens, depende em grande parte da dignidade da pessoa que opera e do seu crédito perante aquele que a deve recompensar. Ora, o que faz a dignidade do cristão e lhe da crédito sobre o coração de Deus, é o grau de graça ou de vida divina a que esta elevado; é por isso que os Santos do ceu ou da terra possuem tao grande poder de intercessão. Se há, pois, em nós um grau de graça mais elevado, aos olhos de Deus valemos mais que os que tem menos, agradamos-lhe mais; e por este motivo as nossas ações são mais nobres, mais agradaveis a Deus, e por isso mesmo mais meritórias.

Por outro lado, este grau de graça terá geralmente sobre a perfeição dos nossos atos influencia benefica. Vivendo vida sobrenatural mais abundante, amando a Deus com amor mais perfeito, somos levados a fazer melhor as nossas ações, a por nelas mais caridade, a ser mais generosos em nossos sacrifícios; ora essas disposições sao todos concordes em afirmar que aumentam certamente os nossos méritos. Não se diga, pois, que as vezes sucede o contrário; isso é exceção, não regra geral, e nos tivemos em consideracao esse fato, acrescentando: em igualdade de circunstâncias. E como é consoladora esta doutrina! Multiplicando os nossos atos meritórios, aumentamos cada dia o capital da graça; este capital, por seu turno, permite-nos praticar com mais amor as nossas obras, e estas com isso só aumentam o valor, para acrescentarem a nossa vida sobrenatural.

2 - Nosso grau de união com Nosso Senhor.

É evidente: a fonte do nosso mérito é Jesus Cristo, autor da nossa santificação, causa meritória principal de todos os bens sobrenaturais, cabeça dum corpo místico de que somos membros. Quanto mais perto estamos da fonte, tanto mais recebemos da sua plenitude; quanto mais nos aproximamos do autor de toda a santidade, tanto mais graça recebemos; quanto mais unidos estamos a cabeca, tanto mais dela recebemos o movimento e a vida.

Nao é isto o que nos diz o proprio Jesus Cristo naquela bela comparacao da vida? Eu sou a videira, vós os ramos... aquele que permanece em mim e eu nele, esse produz muito fruto. Unidos a Jesus, como os sarmentos a cepa, recebemos tanto mais seiva divina quanto mais habitual, atual e estreitamente unidos estamos a cepa divina. E eis aqui o motivo por que as almas fervorosas, ou que o querem vir a ser em todo o tempo buscaram união cada vez mais íntima com Nosso Senhor Jesus Cristo; eis aqui por que a mesma Igreja nos pede que façamos as nossas ações por Ele, com Ele e n’Ele:

- Por Ele, per Ipsum, pois que ninguem vai ao Pai sem passar por Ele, nemo venit ad Patrem nisi per me

- Com Ele, cum ipso, operando com Ele, visto que se digna ser nosso colaborador;

- N’Ele, in Ipso, isto é, na sua virtude, na sua força e sobretudo nas suas intenções, não tendo outras mais que as dele.

E então que Jesus vive em nós, inspirando os nossos pensamentos, desejos e ações, de tal sorte que podemos dizer como Sao Paulo: Vivo, mas nao sou eu, quem vive em mim e Cristo: Vivo autem, iam non ego, vivit vero in me Christus. É claro que ações praticadas sob o influxo e a ação vivificante de Cristo, com a sua onipotente colaboraçao, tem valor incomparavelmente maior que se fossem feitas somente por nós.

Por conseguinte, na prática, unamo-nos, em particular ao princípio das obras, a Nosso Senhor Jesus Cristo, e as suas intenções tao perfeitas, com a plena consciência da nossa incapacidade para fazermos seja o que for de bom por nós mesmos, e a inabalavel confiança de que Ele pode remediar a nossa fraqueza.

3 - A pureza de intenção ou a perfeição do motivo que nos leva a operar.

Para serem meritórias, basta, dizem varios teologos, que as nossas ações sejam inspiradas por um motivo sobrenatural de temor, esperança ou amor. Santo Tomas exige, sem dúvida, que elas sejam influenciadas ao menos virtualmente pela caridade, em virtude dum ato de amor de Deus precedentemente feito, cuja influencia persevere ainda. Acrescenta, porém, que esta condição é realizada por todos aqueles que vivem em estado de graça e praticam um ato licito.
E que, efetivamente, todo o ato bom se reduz a uma virtude; ora toda a virtude converge para a caridade, ja que esta é a rainha que impera todas as virtudes, como a vontade é a rainha de todas as faculdades. A caridade, sempre ativa, orienta para Deus todos os nossos atos bons, e vivifica todas as nossas virtudes, informando-as.

Se queremos contudo, que os nossos atos sejam, quanto possivel meritorios, é necessaria pureza de intenção muito mais perfeita e atual. A intenção é o que há de principal em nossos atos e o olho que as ilumina e as dirige para o fim, a alma que as inspira e lhes da o valor que tem aos olhos de Deus:

Ora, há três elementos que dão às nossas intenções valor especial:

A- Atos inspirados por amor a Deus e ao próximo
B- Ato de fé
C- Tornar explicita e atualizar.

A- Como a caridade é a rainha e a forma das virtudes, todo ato inspirado pelo amor de Deus e do próximo terá muito mais merecimento que os inspirados pelo temor ou pela esperança.
Importa, pois, que todas as nossas ações sejam feitas por amor deste modo se convertem ainda as mais comuns (como as refeições e os recreios) em atos de caridade, participando do valor desta virtude, sem perderem o seu próprio; comer, para refazer as forças, é um ato honesto que num cristão, que vive em graça, é meritório, mas reparar as forças com intenção de melhor trabalhar por Deus e pelas almas, é um motivo de caridade bem superior, que nobilita esse ato e lhe confere valor meritório muito maior

B- Como os atos de virtude informados pela caridade não perdem o seu valor próprio, daí resulta que um ato de fé, por diversas intenções ao mesmo tempo, será mais meritório.
Assim, um ato de obediencia aos Superiores, feito por um duplo motivo: respeito para com a sua autoridade e juntamente amor de Deus que se vê na pessoa do superior, terá o duplo mérito de obediencia e da caridade.

O mesmo ato pode ter assim um tríplice, um quadruplo valor: detestando os meus pecados, por serem ofensa de Deus, posso ter intenção de praticar ao mesmo tempo a penitência, a humildade e o amor de Deus: este ato é triplicadamente meritório.

E, pois, util propor-nos varias intenções sobrenaturais, importa, porem, evitar o excesso de buscar com demasiada ansiedade multiplices intenções, porque isso lançaria a perturbação na alma. Abraçar as que se nos apresentam como espontaneamente, e subordina-la a divina caridade, tal é o meio de acrescentar os méritos, conservando a paz de alma.

C- Como a vontade do homem é mudavel, é necessario tornar explícitas e atualizar frequentemente as nossas intençoes sobrenaturais; alias, sucederia que um ato, comecado por Deus, se continuaria sob o influxo da curiosidade, da sensualidade ou do amor proprio, e perderia assim uma parte do seu valor: digo uma parte, pois, como as intençooes subsidiarias nao destroem completamente a primeira, o ato nao deixa de ser sobrenatural e meritorio no seu todo.

Quando um navio, zarpando de Brest, toma rumo para Nova Iorque, nao basta dirigir uma vez por toda a proa para aquela cidade; como a maré, os ventos e as correntes tendem a fazer desviar o navio da sua derrota, é mister, por meio do leme, reconduzi-lo incessantemente a direcao primitiva.

Assim com a nossa vontade: não basta orienta-la uma vez, nem sequer todos os dias, para Deus; as paixões humanas e a influencias externas depressa a fariam desviar da linha reta; é necessário, com um ato expícito, reconduzi-la amiúde para Deus e para a caridade. Então permanecem as nossas intenções constantemente sobrenaturais, e até perfeitas, e muito meritorias, sobretudo se a isso acrescentamos o fervor na ação.

4 - A intensidade ou o fervor com que se opera.

Podemos efetivamente proceder, ainda mesmo praticando o bem, com desleixo, com pouco esforço, ou ao contrário, com ardor, com toda a energia de que somos capazes, utilizando toda a graça atual posta a nossa disposição.

É evidente que o resultado nestes dois casos sera bem diferente. Se operamos com indolencia, não adquirimos senão poucos merecimentos e até por vezes nos tornamos culpados de alguma falta venial, - que, aliás, não destrói todo o merito; se pelo contrário, oramos, trabalhamos e nos sacrificamos com toda a alma, cada uma das ações merece uma enchente preciosa de graça habitual.

Sem entrar aqui em hipoteses discutíveis, pode-se dizer com certeza que, visto Deus retribuir centuplicadamente o que por Ele se faz, uma alma fervorosa adquire cada dia um número muito consideravel de graus de graça e se torna assim em pouco tempo perfeitissima, conforme a palavra da Sabedoria: Chegado em pouco tempo a perfeição, perfez uma longa carreira, Consummatus in brevi explevit tempora multa’.

Que precioso incitamento ao fervor, e como vale a pena renovar amiude os esforços, com energia e perseverança!

Condições tiradas do objeto ou do ato em si mesmo

Não são unicamente as disposições do sujeito que aumentam o mérito, senão todas as circunstâncias que contribuem para tornar a ação mais perfeita.

Quatro são as principais:

a) A excelencia do objeto ou do ato que se pratica. Há uma hierarquia nas virtudes: assim, as virtudes teologais são mais perfeitas que as morais, e por este motivo, os atos de fé, de esperança, e sobretudo de caridade são mais meritórios que os atos de prudencia, justiça, temperança, etc. Estes ultimos, porém, como já dissemos, podem pela intenção, converter-se em atos de amor e participar assim do seu valor especial. Do mesmo modo os atos de religiao, que tendem diretamente a glória de Deus, são mais perfeitos que os que tem por fim direto a nossa santificação.

b) Para certas ações, a quantidade pode influir sobre o merito; assim, em igualdade de circunstancia, uma dádiva generosa de mil escudos será mais meritoria que a de dez centavos.

Mas trata-se de quantidade relativa; o óbulo da viúva, que se priva duma parte do necessario, moralmente vale mais que a rica oferta daquele que se despoja apenas duma porção do superfluo.

c) A duração torna também a ação mais meritória: orar, sofrer durante uma hora vale mais que faze-lo durante cinco minutos, pois que este prolongamento exige mais esforço e mais amor.

Conclusão

A conclusão, que se impoe, é a necessidade de santificar todas nossas ações, ainda as mais comuns. E que todas, como dissemos, devem ser meritórias, se as fizermos com olhos sobrenaturais, em união com o Divino Operário de Nazaré que, trabalhando na sua oficina, não cessava de merecer por nós.

E, se assim é que progresso nao podemos nós realizar num só dia?
Desde o primeiro instante do despertar até ao deitar, podem-se contar por centenas os atos meritórios que uma alma recolhida e generosa pratica: porquanto, não somente cada uma das ações, mas até, quando a acao se prolonga, cada um dos esforços para a fazer melhor, por exemplo, para repelir as distrações na oração, para aplicar o espírito ao trabalho, para evitar uma palavra pouco caritativa, para prestar ao proximo o mínimo serviço; cada palavra inspirada pela caridade; qualquer bom pensamento de que se tira proveito: em suma, todos os movimentos interiores da alma, livremente dirigidos para o bem são outros tantos atos meritórios que fazem crescer a graça de Deus em nós.

Pode-se, pois dizer com toda a verdade que não há meio mais eficaz, mais pratico, mais ao alcance de todos, para se santificar uma alma, do que sobrenaturalizar cada uma das ações; este meio basta por si só para nos elevar em pouco tempo a um alto grau de santidade. Cada ato é então uma semente de graca, porque a faz germinar e crescer em nossa alma, é uma semente de gloria, porque aumenta ao mesmo tempo os nossos direitos a celeste bem-aventurança 0 meio pratico de converter assim todos os atos em meritos, é recolher-se um momento antes da ação, renunciar positivamente a qualquer intenção natural ou má, unir-se a Nosso Senhor, modelo e mediador universal, com o sentimento da própria incapacidade, e oferecer por Ele a ação a Deus para sua glória e para bem das almas; assim entendido, o oferecimento muitas vezes renovado das nossas açoes e um ato de abnegacao, humildade, amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, amor de Deus, amor do proximo; é um atalho maravilhoso para chegar a perfeição. Para mais eficazmente a alcançarmos, temos ainda a nossa disposição os Sacramentos.

Depois veremos: Perfeição da Vida Cristã

Deus seja Louvado!

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