quinta-feira, 1 de setembro de 2011

A contagem das Ovelhas



Por Scott Hann

Na história de Israel, o sacrifício principal foi a "Páscoa", que apressou a fuga dos Israelitas do Egito. Foi na Páscoa que Deus intuiu toda família israelita a tomar um "animal sem defeito, sem ossos quebrados, degolá-lo e passar seu sangue na ombreira da porta".

Os Israelitas deveriam comer o cordeiro naquela noite. Se o fizessem, seus primogênitos seriam poupados. Se não o fizessem, seus primogênitos morreriam durante a noite, juntamente com todos os primogênitos de seus rebanhos (Ex 12,1-23).

O cordeiro sacrifical morreu como expiação, em lugar do primogênito da casa. A Páscoa então, foi uma ato de redenção, um "resgate". Contudo, Deus não apenas resgatou os primogênitos de Israel; também os consagrou como um "reino de sacerdotes e uma nação santa"(Ex 19,6) - uma nação que Ele chamou seu "filho primogênito" (Ex 4,22).

O Senhor pediu, então, aos Israelitas para comemorarem a Páscoa todos os anos e até deu as palavras que deveriam usar para explicar o ritual às gerações futuras: "Quando vossos filhos vos perguntarem: 'Que rito é esse que estais celebrando?', direis: 'É o sacrifício da Páscoa para o Senhor, que passou diante das casas dos filhos de Israel no Egito, quando golpeou o Egito e libertou nossas casas'"(Ex 12, 26-27).

Na terra prometida, os Israelitas continuaram os sacrifícios cotidianos a Deus, agora guiados pelos muitos preceitos da Lei, enumerados em Levítico, Números e Deusteronômio (Lv 7-9;Nm 28; Dt 16).

Estado Elevado ao Altar
Jerusalém como capital régia..


Com a construção do Templo de Jerusalém, por volta de 960 a.C, Israel passou a oferecer os sacrifícios cotidianos ao Deus todo poderoso em ambiente majestoso. Todos os dias , os sacerdotes sacrificavam dois cordeiros, um de manhã e um à noite, para expiar os pecados da nação. Esses eram os sacrifícios essenciais; mas, durante todo o dia, a fumaça subia de muitas outras oferendas particulares. Bodes, touros, rolas, pombos e carneiros eram oferecidos sobre o altar de bronze erguido ao ar livre na entrada do átrio interno do Templo.

O "lugar santo" do Templo ficava depois desse altar e o " Santo dos Santos" - a habitação de Senhor- era ainda mais atrás. O "altar do incenso" ficava bem diante do santo dos Santos. Somente os sacerdotes podiam entrar no átrio interno do Templo. Somente o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos e, mesmo ele, só rapidamente e apenas uma vez por ano, no Dia do Grande Perdão, Yom Kippur, pois até o sumo sacerdote era pecador e, assim, indígno de permanecer na presença de Deus.

O Templo de Jerusalém reuniu todas as variedades de sacrifícios que existiam antes. Contruído no local onde Melquisedec ofereceu Pão e Vinho, Abraão, seu filho e onde Deus fez o juramento de salvar todas as nações, o templo servia de lugar permanente de oferendas, a principal das quais era idêntica àquele antiquíssimo sacrifício de Abel: o Cordeiro.

O grande dia do sacrifício continuou a ser festa da Páscoa, quando até dois milhões e meio de pessoas peregrinavam a Jerusalém, provenientes dos extremos longíquos do mundo conhecido.
Josefo relata que na Páscoa de 70d.C.-apenas alguns meses antes que os romanos destruíssem o Templo e cerca de quarenta anos depois da ascenção de Jesus -, os sacerdotes ofereceram mais de um quarto de milhão de cordeiros no altar do templo - 255.600, para ser exato.

Dentro e fora

Era todo esse sacrifício apenas um ritual vazio?

Não, embora, obviamente, o holocausto, por si só, não fosse suficiente. Deus exigia também um sacrifício "interior". O salmista declarou que "o sacrifício que Deus quer é um espírito contrito" (Sl51,19). O profeta Oséias falou por Deus e disse:" Pois é o amor que me agrada, não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, eu o prefiro aos holocaustos" (Os 6,6).

Contudo, a obrigação de oferecer sacrifícios foi mantida. Sabemos que Jesus cumpria as leis judaicas referentes ao sacrifício. Ele celebrava a Páscoa todos os anos em Jerusalém e é de se presumir que comesse o cordeiro sacrificado, primeiro com a família e mais tarde com os apóstolos. Afinal de contas, "isso não era facultatico". Consumir o cordeiro era o único jeito de o judeu fiel "renovar a aliança com Deus ", e Jesus era um judeu fiel.

Mas a importância da Páscoa na vida de Jesus foi mais que ritual, foi "fundamental para sua missão", um momento definitivo.

Jesus é o Cordeiro.

Quando Jesus estava diante de Pilatos, João observa que "era o dia da preparação da Páscoa, por volta da sexta hora" (Jo 19,14). João sabia que era na sexta hora que os sacerdotes começavam a imolar os cordeiros pascais. Esse, então, é o momento do sacrifício do Cordeiro de Deus. Em seguida, João relata que nenhum dos ossos de Jesus foi quebrado na cruz, "para que se cumprisse a Escritura" (Jo 19,36).

Que Escritura era essa? Êxodo 12, 46, que estipula que os ossos do Cordeiro da Páscoa não sejam quebrados. Vemos, então, que o Cordeiro de Deus, como o cordeiro da Páscoa, é oferenda condígna, realização perfeita.

Na mesma passagem, João relata que fixaram uma esponja embebida em vinagre na ponta de um ramo de hissopo e a serviram a Jesus (Jo 19,29;Ex12,22). Hissopo era o ramo preceituado pela lei para borrifar o sangue do cordeiro na Páscoa. Assim, essa ação simples marcou a realização da nova e perfeita redenção.

E Jesus disse: "Tudo está consumado".

Por fim ao falar das vestes de Jesus na hora da crucifixão, João usa os termos exatos para os paramentos que o sumo sacerdote usava quando oferecia sacrifícios como cordeiro da Páscoa.

Ritos da vítima

O que concluimos disso? João nos deixa claro que no novo e definitivo sacrifício da Páscoa, Jesus é" sacerdote e também vítima". Isso se confirma nos relatos da Última Ceia contidos nos três Evangelhos, onde Jesus usa claramente a linguagem sacerdotal de sacrifício e libação, até quando descreve a si mesmo como a vítima.

"Isto é o meu corpo dado por vós...Esta taça é a nova Aliança em meu sangue derramado por vós" (Lc 22, 19-20).

O sacrifício de Jesus realizou o que todo o sangue de milhões de ovelhas e touros e bodes jamais conseguiu. Pois é impossível que o sangue de um quarto de milhão de cordeiros salvaria a nação de Israel, muito menos o mundo. Para expiar as ofensas contra um Deus que é bom, infinito e eterno, a humanidade precisava de um sacrifício perfeito: um sacrifício tão bom, puro e infinito quanto o próprio Deus. E esse era Jesus, o único que podia "abolir o pecado com seu próprio sacrifício" (Hb 9,26).

"Eis o Cordeiro de Deus" (Jo 1,36).

Por que Jesus tinha de ser um cordeiro e não um garanhão, um tigre ou um touro?
Por que o apocalípse retrata Jesus como "um cordeiro que parecia imolado"(Ap5,6)?
Por que a Missa precisa proclamá-lo como "Cordeiro de Deus"?.

Porque só um cordeiro sacrifical se encaixa no padrão divino de nossa salvação. Jesus era sacerdote além de vítima e como sacerdote fazia o que nenhum outro sacerdote fazia, pois este entrava "todos os anos no santuário com sangue estranho"(Hb 9,25) e mesmo então, só ficava pouco tempo antes que sua indignidade o obrigasse a sair.

Mas Jesus entrou no Santo dos Santos - o céu - de uma vez por todas, para oferecer-se como nosso sacrifício. Além disso, pela nova Páscoa de Jesus, nós também nos tornamos um reino de sacerdotes e a Igreja do primogênito (Ap 1,6;Hb 12,23) e compare com ( Ex4,22;19,6).

E com Ele entramos no santuário do céu toda vez que vamos à Missa.!

Fonte: O Banquete do Cordeiro

Veja:

1 - No Céu agora mesmo!
2 -A história do Sacrifício

Depois veremos: Não ignore esta festa

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