quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Não ignore esta festa!!


Por Scott Hann

Mas o que isso significa para nós hoje? Como devemos "celebrar" nossa Páscoa? São Paulo nos dá uma resposta: "Cristo, nossa Páscoa, foi imolado. Celebremos pois a festa...com pães sem fermento: na pureza e na verdade" (ICor 5,7-8).

Nosso Cordeiro Pascal é, então, pão sem fermento. Nossa festa é a MISSA! (ICor 10,15-21;11,23-32).

À luz clara da nova aliança, os sacrifícios da Antiga Aliança fazem sentido como preparação para o sacrifício único de Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote régio no santuário celeste. E é esse sacrifício único que, na Missa, oferemos com Jesus.

À essa luz, vemos as orações da Missa com clareza:

Nós vos oferecemos o seu Corpo e Sangue, sacrifício do vosso agrado e salvação do mundo inteiro. Olhai com bondade o sacrifício que destes à vossa Igreja.....(Oração eucarística IV).

...Vos oferecemos, ó Pai, dentre os bens que nos destes, o sacrifício perfeiro e santo.

...Recebei, ó Pai, esta oferenda, como recebeste a oferta de Abel, o sacrifício da Abraão e os dons de Melquisedec. Nós vos suplicamos que ela seja levada à vossa presença...(Oração eucarística I).

Não basta Cristo ter derramado Seu sangue e morrido por nós. Agora também temos nosso papel a desempenhar. Como aconteceu com a antiga aliança, acontece com a nova. Quem quer expressar a aliança com Deus, ratificar a aliança com Deus, renovar a aliança com Deus, tem de comer o Cordeiro - o cordeiro pascal que é nosso pão sem fermento.

Começa a soar familiar. "Aquele que come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna" (Jo6,54).

Retorno de Investimento

A necessidade primordial que o homem tem de adorar a Deus sempre se expressa no sacrifício: A adoração é simultaneamente ato de louvor, expiação, dádiva de si mesmo, aliança e ação de graças (em grego, eucharistia).

As várias formas de sacrifício tem um sentido positivo comum: A vida é entregue a fim de ser transformada e compartilhada. Assim, quando falou de sua vida como sacrifício, Jesus tocou em uma corrente que corria no fundo das almas dos apóstolos - que corria no fundo das almas dos israelitas - que corre no fundo da alma de todo ser humano.

No sec XX, Ghandi, que era hindu, chamou o "culto sem sacrifício" de absurdo da época moderna. Mas, para nós católicos, a adoração não é isso. Nosso ato supremo de culto é ato supremo de sacrifício, o banquete do Cordeiro, a Missa! O sacrifício é uma necessidade do coração humano. Mas, até Jesus, nenhum sacrifício era adequado. Lembre-se do SL 116,12:"Como retribuir ao Senhor todo o bem que me fez?".

Na verdade, como? Deus sabia o tempo todo qual seria nossa resposta; - "Erguerei a taça da vitória e chamarei o Senhor pelo seu nome" (SL 116,13)

A Missa dos primeiros cristãos

O canibalismo e o "sacrifício humano" eram acusações greves sussurradas com frequencia contra os primeiros cristãos. Os apologistas cristãos primitivos encarregaram-se de rejeitá-las como boato sem fundamento. Contudo, pelas lentes deformadas dos rumores dos pagãos, vemos qual era o elemento mais identificável da vida e do culto cristãos.

"Era a Eucaristia": a representação do sacrifício de Jesus Cristo, a refeição sacramental em que os cristãos consumiam o corpo e o sangue de Jesus. Era a deturpação desse fatos de fé que levava a calúnias pagãs contra a Igreja - embora seja fácil ver como os pagãos compreendiam mal.

Na Igreja primitiva, só os batizados tinham permissão de participar dos Sacramentos e os cristãos eram desencorajados até mesmo de conversar com não-cristãos a respeito desses mistérios fundamentais. Assim a imaginação pagã corria solta, alimentada por pequenos fragmentos de fatos: "Isto é o meu corpo...Este é o cálice do meu sangue...Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue..."

Os pagãos sabiam que ser cristão era participar de alguns ritos estranhos e secretos. Ser cristão era "ir à Missa", o que era verdade desde o primeiro dia da nova aliança.

Algumas horas depois de ressuscitar dos mortos, Jesus pôs à mesa com seus discípulos. "(Ele) tomou o pão, pronunciou a benção, partiu-o e lhes deu.Então os seus olhos se abriram...eles o haviam reconhecido na fração do pão" (Lc 24,30-31.35). A centralidade da Eucaristia está evidente também na descrição concisa que os atos dos apóstolos fazem da vida na Igreja primitiva:"Eles eram assíduos aos ensinamentos dos apóstolos e à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações"(At 2,42).

Em I Cor,11 contém um verdadeiro manual de teoria e prática litúrgicas. A carta de São Paulo revela sua preocupação de transmitir a forma exata da liturgia, da ultima Ceia do Senhor: "De fato, eis o que eu recebi do Senhor e o que vos transmiti: O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou pão e após ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, em pról de vós, fazei isto em memória de mim."

Ele fez o mesmo quanto ao cálice, após a refeição, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto todas as vezes que dele beberdes, em memória de mim'"(I Cor 11,23-25). Paulo ressalta a importância da doutrina da presença real e vê consequências funestas na descrença: "Pois quem come e bebe sem discernir o corpo come e bebe a própria condenação" (I Cor 11,29).

Missal Inspirado

Quando passamos dos livros do NT e passamos para outras fontes dos tempo dos apóstolos e da época imediatamente posterior, notamos os mesmos temas. O conteúdo doutrinário é identico e permanece notavelmente parecido, até quando a fé se espalhou para outras terras e outras linguas. O clero, os mestres e os defensores da Igreja primitiva estavam unidos pelo interesse em preservar as doutrinas eucarísticas: A presença real do corpo e sangue de Jesus sob as espécies de pão e vinho; a natureza sacrifical da liturgia; a necessidade de sacerdotes ordenados apropriadamente; a importância da forma ritual.

Assim, o testemunho das doutrinas eucarísticas da igreja é "ininterrúpto", desde o tempo dos evangelhos até hoje. Além dos livros do NT, o escrito cristão mais antigo que foi conservado é um manual litúrgico - que poderíamos chamar Missal- contido em um documento chamado Didaqué (grego para "instrução").

A Didaqué alega ser a coletânea da "instrução dos apóstolos" e foi provavelmente compilada em Antioquia, na Síria (veja At 11,26), em algum momento durante os anos 50-100 d.C. A Didaqué usa a palavra "sacrifício" quatro vezes para descrever a Eucaristia, uma vez declarando simplesmente: "Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse....".

Na Didaqué também aprendemos que o dia usual da liturgia era o "dia do Senhor" e que era costume se arrepender dos pecados antes de receber a Eucaristia. "Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro". Quanto à ordem de sacrifício, a Didaqué apresenta uma oração eucarística de admirável lirismo. Encontramos sua repercussão em liturgias e hinos dos cristãos de hoje, orientais e também ocidentais:

"Do mesmo modo como este pão partido tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um, assim também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino, porque tua é a glória e o poder por meio de Jesus Cristo, para sempre.

Ninguém coma nem beba da Eucaristia, se não tiver batizado em nome do Senhor...

Tu, Senhor Todo Poderoso, criaste todas as coisas por causa do Teu Nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da bebida, para que te agradeçam.

A nós, porém , deste uma comida e uma bebida espirituais, e uma vida etrena por meio de teu servo...

Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo mal e aperfeiçoando-a no teu amor.Reúne dos quatro ventos esta Igreja Santificada para o teu reino que lhe praparaste.

Fonte: O Banquete do Cordeiro

Veja:

1 - No Céu agora mesmo!
2 -A história do Sacrifício
3 - A contagem das Ovelhas

Veremos depois: Raízes em Israel

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