sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A Formação das Crianças



10,15

Por padre Leo Trese

O meu trabalho da manhã na escola terminou e eu volto calmamente para a casa paroquial, pensando ainda nas crianças. Supõem uma responsabilidade esmagadora.

"Dai-me uma criança e eu a devolverei homem". Hitler quase conseguiu isso. Os comuninistas também parece que o estão conseguindo.

E nós? Não estou tão certo. Há muitos anos que venho dizendo honestamente, como toda a gente, que a esperança do futuro depende das crianças. E, no entanto, quando o futuro chega, parece-se suspeitamente com o passado. Ninguém como nós, padres, tem tantas oportunidades de influir nos pequenos. E cá estou eu outra vez a refugiar-me na multidão; digo "nós" quando deveria dizer "eu" e "me".

A única parte do mundo de que tenho que prestar contas está aqui mesmo, dentro desta velha paróquia de Saint Patrick. As únicas crianças do mundo que tenho de formar e educar são os alunos da pequena escola de tijolo de Exerter Road. Bem, que faço eu para torná-los melhores que os seus pais? Não é que os seus pais não sejam bons; não os quero ofender.

No entanto, um estranho seria incapaz de distingui-los dos outros pais que frequentaram a escola luterana de Sandy Creek ou que tiveram as suas lições sobre a Bíblia com o velho reverendo Merril, na igreja metodista. Nos dias de semana, todos parecem talhados pelo mesmo molde. Gostam de ter as mesmas conversas, de ir as mesmas cervejarias e de entreter-se com as mesmas trivialidades.

Se os filhos devem ser diferentes, sou eu quem, depois da graça de Deus, lhes deverá dar um bom empurrão. Conheço de sobras as necessidades destes meninos. E também estou certo de que a doutrina do Corpo Místico - com todas as suas consequencias sociais para a vida, em cada um dos sete dias da semana - seria verdadeiramente a dinamite que eles esperam, desde que alguém - eu, somente eu - pudesse acender a mecha.

O problema está em que, para lhe ensinar a verdade do Corpo Místico de um modo adequado ao seu nível mental, teria de haver-me com uma grande carga de trabalho, estudo e reflexões. Quando entrei no seminário, Tanquerey não tinha um tratado deste tipo. Deverei, pois , ler a Encíclica "Mystici Corporis"e, talvez, dois ou três livros a mais.

Mas isso não basta. O Corpo Místico leva, logicamente, à liturgia. Acho que deveria ler as instruções sobre a liturgia que estão aí na estante a caminho de cobrir-se de pó, e também algum livro. Com a Missa bem vivida e o amor pelos sacramentos, os bancos da frente estariam cheios aos domingos, e talvez nos demais dias da semana se ouvisse o agradável rumor de muitos passos percorrendo a nave.

Mas tenho tanto que fazer! Não tenho tempo para estudos e tantas reflexões; sobretudo para refletir. Mas, um momento! pelo menos sejamos siceros. E se aproveitasse para isso o tempo que dedico a dar uma vista de olhos no Saturday Evening Post, a folhear a Life, a ver as caricaturas do Colliers, para não falar do Timeque leio de cabo a rabo?

Digo a mim mesmo que tenho se estar bem informado sobre o que se passa no mundo, e, no entanto, nos meus momentos de lucidez, tenho de admitir que 90% das minhas leituras são bagatelas que esqueço numa semana. Mais do que informação, o que procuro é evadir-me do terrível trabalho de refletir.

Tudo aquilo que eu chamo de informação e cultura não daria nem para manter uma boa conversa. Alguém pergunta se li tal artigo das Seleções, respondo-lhe "sim" e eles diz "ah" e aí acaba a conversa. Pelo contrário, se digo "não, de que se trata?", começo a fazer-me amigo de quem estava tão desejoso de contar-me as suas leituras.

Pois bem, prometo não comprar mais revistas. (Contando pelos meus dedos, acho que a Care saberá utilizar bem o dinheiro poupado).

No próximo ano escolar, darei uma hora mais de formação religiosa as últimas classes. Estudarei e explicarei o Corpo Místico de tal maneira que estes meninos possam ve-lo mexer-se e respirar, e sentir-se eles próprios parte dele. Estudarei liturgia , como devia ter feito há anos, com todo seu simbolismo, poder e beleza. Ama-la-ei com tanto amor que saberei transmitir esse amor às crianças, até que saltem de entusiasmo nos seus lugares.

Poderei contemplar em todos estes meninos o caráter neles impresso pelo Batismo e pela Confirmação, irradiando a sua luz através dos seus peitos. Dialogarão a Missa e cantarão até fazerem vibrar os vitrais. Iniciarei na minha paróquia uma geração que se manterá cristã durante as vinte e quatro horas do dia. Farei...

Ou melhor, espero fazer. Mas não seria muito mais fácil seguir caminhos já trilhados? Por que tanta dor de cabeça? Afinal, seria suficiente obedecer o bispo.

E as irmãs sabem faze-lo muito melhor do que eu, porque se formaram nisso.

E se me transferirem de paróquia? Tudo ruirá...Bem, dá na mesma. Tentarei. E que Deus me confirme.

Fonte: Vaso de Argila (veja aqui os artigos anteriores)

Um comentário:

  1. Olá, Ana Maria!
    Que blog lindo e abençoado! Fiquei encantada com tanta ternura e fé. Já estou seguindo com alegria.
    Ficarei muito feliz com sua presença em meus cantinhos também:
    nospassosdejesusamor.blogspot.com
    docessonhosdepapel.blogspot.com
    sorrindocomjesus.blogspot.com
    (partilhado com minha filha de 12 anos)
    Que Deus a abençoe sempre!
    Abraços, com carinho,
    Angela

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