domingo, 6 de novembro de 2011

A Estratégia Inicial dos Apóstolos




Por Georges Suffert

1 - Introdução
2- Jesus ou Aquele que precedeu a Igreja

É difícil captar a estratégia dos apóstolos - o termo nada tem de chocante - sem se fazer o inventário do mundo judaico da época.

Antes de mais nada, os que imediatamente travarão o combate contra os discípulos de Jesus (eles ainda não têm nome). São poucos, mas poderosos. São os sumos sacerdotes e os saduceus. Os primeiros formam um grupo político desde o ano 6 d.C. Os segundos são apenas religiosos conservadores: mais precisamente, um grupo aristocrático, político-religioso, colaborando com o ocupante romano para conservar o controle do sacerdócio ligado ao serviço do templo de Jerusalém.

Ambos tiveram um papel importante na condenação de Jesus. Vão continuar a luta: na verdade, pressentem que esse grupo estranho corre o risco de perturbar a paisagem intelectual e religiosa da comunidade judaica. A curto prazo, eles se enganam: os zelotes é que vão preparar e deflagrar a guerra.

Os Atos mencionam três manifestações hostis contra os cristãos (o termo ainda não existe). Para começar, Pedro e João são presos pelo comandante do Templo, porque estão pregando ali. São conduzidos ao Sanedrim (a autoridade suprema do povo judeu, composta de 71 membros, dentre eles o sumo sacerdote), que decide soltá-los. Mais uma informação apenas formulada: se a mais alta autoridade judaica libera os pregadores, isto significa que ela os julga inocentes. Portanto, sumos sacerdotes e saduceus não mandam nessa alta autoridade.

O que está confirmado pelo segundo surto de febre: a detenção de todos os apóstolos. Eles são encarcerados juntos, julgados e finalmente soltos. Aliás, Lucas transmite o discurso de Gamaliel, um homem importante. Ninguém sabe se ele realmente disse as palavras que o evangelista põe em sua boca. Mas Gamaliel de fato existiu. Ele se tornará, afirma-se, um dos mestres espirituais do mundo judaico. Saulo teria sido um de seus alunos. Ele teria tentado ensinar-lhe a moderação, sem ter tido verdadeiramente sucesso.

Seja como for, Lucas usa Gamaliel para resumir a posição dos fariseus. Eles não podem se opor aos apóstolos, pois também acreditam na vinda do Messias. Gamaliel é habilidoso: "Os que se levantaram diante de vós nos últimos anos fracassaram e seus discípulos desapareceram. Portanto, se este Jesus é um fantasma, uma ilusão ou um enviado do Diabo, esta seita desaparecerá como as que a precederam. Mas se os apóstolos pregam a vontade de Deus, eles levarão a melhor. Não lanceis nosso povo numa batalha contra o Todo-Poderoso."

O terceiro surto - o mais violento - será a morte de Estêvão. Ele será apedrejado, certamente em 36. Ana e seu clã se responsabilizarão por isso. E Paulo, presente, aprovará. Estêvão será sem dúvida a primeira vítima depois de Jesus.

Portanto, segundo Lucas, três ataques sucessivos.

Na verdade, eles reforçam a autoridade dos apóstolos. Muitos judeus se convertem. Os discursos cristãos articulam-se em torno de algumas idéias simples. Primeiro, o testemunho dos próprios apóstolos: eles viram Cristo ressuscitado, Ele falou com eles. As aparições de Cristo após a sua morte assumem então todo o seu sentido: Ele devia cimentar a fé dos discípulos. Aqueles que O viram e n'Ele tocaram constituem o colégio dos apóstolos. E porque afirmará ter visto o Cristo vivo, Paulo vai se tornar, por sua vez, um dos membros do colégio.

Em seguida, os "milagres" que esses homens vão fazer. Lucas conta a cura do paralítico que mendigava à porta do Templo. Chegada a hora, ele irá perante o Sanedrim testemunhar em favor daqueles que o curaram. Os apóstolos protestam: não tiveram qualquer participação nesse milagre. Foi Jesus que, através de suas preces, curou o paralítico. Para os judeus, isso é uma indicação: os apóstolos detêm uma parte da força do Cristo ressuscitado.

Finalmente, o tema principal dessa primeira pregação: Jesus é o Messias. Ora, é a pedra angular do cristianismo nascente. Para os judeus, tratava de uma afirmação incrível. O resto não os espanta: eles crêem em Deus e na Lei, estão acostumados com a existência dos profetas. Mas a identificação de Jesus como Messias é diferente. Todo o esforço dos apóstolos apóia-se neste ponto. É sobre ele que se desenvolve a conversão dos judeus. É a partir daí que as comunidades cristãs nascentes escandalizarão uma parte do povo judeu. A ruptura ocorrerá essencialmente aí.

Seja como for, hoje é impossível duvidar disto: é às comunidades judaicas que os apóstolos se dirigirão. Em Jerusalém, para começar, e logo na Galiléia. Mais tarde, Antióquia é que será a cidade onde as estradas se cruzam. Aliás, foi de lá que, mais tarde, Barnabé e Paulo partiram para conquistar o Mediterrâneo. Mas, nessa época, as primeiras comunidades cristãs começam a sair do mundo judaico.

Fonte: Tu és Pedro.

Depois veremos: A Igreja de Jerusalém, Ascenção e Queda

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